"Em qual cidade nosso presidente chega e não é ovacionado?", diz porta-voz
A declaração ocorre depois que o governador da Bahia cancelou ida à inauguração do aeroporto de Vitória da Conquista pela presença de Bolsonaro no evento
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de julho de 2019 às 21h15.
Última atualização em 22 de julho de 2019 às 21h21.
O porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, afirmou nesta segunda-feira, 22, que o presidente Jair Bolsonaro será bem recebido pela população de Vitória da Conquista, na Bahia, onde inaugurará nesta terça o aeroporto Glauber Rocha. De acordo com ele, o governo não identificou potenciais protestos contra o presidente.
Rêgo Barros disse também que Bolsonaro afirmou que os nordestinos representam a força do povo brasileiro, "que superam adversidade de toda ordem, sendo exemplo de gente resiliente e trabalhadora".
O governador da Bahia, Rui Costa (PT), anunciou nesta segunda-feira, 22, que não irá mais participar da inauguração. Ele gravou um vídeo nas redes sociais para dizer que o evento se transformou em uma "convenção político-partidária" e que não está de acordo com isso.
Segundo o porta-voz, Bolsonaro destacou que é importante inaugurar uma obra como esta, que irá gerar um estímulo ao turismo e à economia local. Sobre eventuais críticas ao presidente ou até mesmo protestos, Rêgo Barros disse que Bolsonaro é "ovacionado" em todo lugar.
"Em qual cidade nosso presidente chega e não é ovacionado? Em todas. E não seria diferente na cidade onde temos apreço pelo prefeito e pelo povo", disse.
Na semana passada, Bolsonaro chamou a região Nordeste de "paraíba" e disse que o governo federal não devia ter "nada" para o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). No fim de semana, porém, o presidente amenizou a situação ao dizer que a região é sua terra e que ele pode andar por qualquer lugar do território brasileiro.
Apoio ao porta-voz
Após críticas do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), o presidente sinalizou apoio ao porta-voz da Presidência. Pela manhã, em conversa reservada, o presidente reafirmou ao porta-voz que quer manter os cafés da manhã com jornalistas organizados periodicamente pela equipe de Rêgo Barros.
Questionado, o porta-voz confirmou a conversa com o presidente e contou que Bolsonaro "deu suporte" para que ele mantenha o relacionamento com a imprensa.
"Sim, conversamos hoje pela manhã com o senhor presidente, que nos deu suporte a mantermos esse relacionamento com imprensa, a provermos mais cafés da manhã. Estamos estudando, em consórcio com a Secretaria de Comunicação (Secom), melhores formas de estabelecer esse relacionamento com o senhor presidente a fim de que haja de fato uma maior interação", disse.
Nesta segunda-feira, Carlos negou que esteja fazendo qualquer tipo de ataque ao porta-voz, mas voltou a criticar o "modus operandis" da comunicação. No último final de semana, o filho do presidente Jair Bolsonaro disse que os cafés da manhã com jornalistas são usados pela imprensa para "prejudicá-lo". A agenda é organizada pela equipe do porta-voz.
"Não critico homens mas modus operandis, me colocando sempre em situações difíceis. Quando a militância espontânea cansar de defender o Governo, que faz um bom trabalho, nada sobrará, pois sua comunicação é e pelo jeito continuará sendo ruim e então seremos massacrados pela mídia", escreveu Carlos no Twitter ao compartilhar notícia sobre a ordem dada pelo presidente para que os encontros com a imprensa sejam mantidos.
Ao ser indagado diretamente sobre as falas de Carlos, o porta-voz disse que não vai comentar o assunto. Segundo pessoas próximas, ele ficou "chateado" com as críticas e com o resultado do café da manhã de sexta-feira, que foi cercado de polêmicas. Apesar disso, vai seguir o silêncio adotado pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, que também foi alvo de ataques do filho do presidente.
Ontem, Bolsonaro minimizou críticas feitas por seu filho e pelo deputado Marcos Feliciano (Pode-SP), em relação aos cafés da manhã que tem realizado periodicamente com jornalistas no Palácio do Planalto. Ele afirmou que os encontros serão mantidos apesar de muita gente ser contra e elogiou o porta-voz.
"Ele é uma pessoa que tem tratado com muito zelo, muita preocupação. Ele ajudou a me convencer para esses cafés, tive críticas de muitas pessoas achando que eu devia ignorar vocês. Às vezes a manchete é péssima, mas a matéria é boa, e eu estou na máxima 'verdade acima de tudo'", disse o presidente.
Carlos e Marco Feliciano afirmaram nesta semana pelo Twitter que os jornalistas tiram de contexto o que é dito pelo presidente nos encontros. "A princípio está mantido. Apesar de uns chatos de vocês, a gente suporta e eu acho que vale a pena. Se eu desse uma entrevista, uma pessoa poderia distorcer, mas várias não", disse.
Inpe
Rêgo Barros afirmou também, em pronunciamento nesta segunda, que o presidente não adiantou a ele qualquer informação sobre a possibilidade de demissão do diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão.
Na semana passada, o presidente criticou o órgão pela divulgação dos dados que mostram alta do desmatamento na Amazônia. Na última sexta, ele afirmou que os dados eram mentirosos e acusou Galvão de estar a "serviço de alguma ONG".
No fim de semana, o presidente afirmou que o desmatamento precisa ser combatido e não ser usado para "fazer campanha contra o Brasil" porque publicar dados alarmantes "prejudica" o País.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Galvão afirmou que o presidente fez "comentários impróprios" e "ataques inaceitáveis" que mais parecem "conversa de botequim" e disse que a atitude dele foi "pusilânime e covarde". O pesquisador ainda desafiou o presidente a repetir os comentários olhando nos olhos dele e disse que não pediria demissão.