Em déjà vu político, Fernando Collor é investigado
Duas décadas depois de o ex-presidente Fernando Collor ser cassado sob acusação de corrupção, o político desonrado que virou senador está de novo sob o holofote
Da Redação
Publicado em 9 de março de 2015 às 21h05.
Rio de Janeiro - Em outubro do ano passado, a presidente Dilma Rousseff estava em campanha no nordeste do Brasil prometendo combater a corrupção.
O que mais chamava a atenção era que ao lado dela estava o ex-presidente que sofreu um impeachment.
Para os eleitores brasileiros, esse é déjà vu.
Duas décadas depois de o ex-presidente Fernando Collor ser cassado sob acusação de corrupção, o político desonrado que virou senador está de novo sob o holofote.
Collor está entre os quase 50 parlamentares investigados como parte de um suposto esquema de propinas na Petrobras, a petroleira controlada pelo Estado, segundo uma lista divulgada pelo Supremo Tribunal Federal no dia 6 de março. Collor não respondeu aos pedidos de comentário.
A história do presidente Fernando Collor -- que renunciou em 1992 e depois protagonizou um retorno em 2006, quando foi eleito senador -- se repete sucessivamente na política brasileira.
Quase um terço do Congresso anterior, antes das eleições de outubro, ou 224 parlamentares, estavam sob investigação por crimes que vão de abusos a lei de licitações públicas a peculato, segundo o Congresso em Foco, um observatório com sede em Brasília. Setenta e três deles, incluindo Collor, foram reeleitos em outubro.
Nesse contexto, é fácil ver como o escândalo que atualmente envolve a Petrobras pôde se espalhar de forma descontrolada por tanto tempo, disse Aldo Musacchio, professor associado de Estratégia da Faculdade de Gestão Internacional Brandeis em Waltham, Massachusetts, EUA. A história de uma década de subornos e contratos de construção inflados teria o envolvimento de dezenas, ou até centenas de executivos, políticos e doleiros.
Semelhanças com a Lava Jato
De fato, a saída de Collor da presidência em meio a acusações de corrupção e à hiperinflação tem semelhanças com a situação atual. Collor, primeiro presidente eleito após o fim da ditadura no Brasil, em 1985, foi proibido de ocupar cargos públicos por oito anos após o impeachment devido às alegações de que fez vistas grossas a um esquema de tráfico de influência realizado por seu tesoureiro de campanha.
Ele foi inocentado de todas as acusações em 2014 pelo STF, que alegou insuficiência de provas.
Desta vez, foi o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), o mesmo partido da presidente Dilma Rousseff, que foi questionado pela polícia em meio a acusações de que parte dos subornos pagos à Petrobras foi desviada para campanhas políticas.
O tesoureiro, João Vaccari Neto, também está sendo investigado por participação em um suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, segundo a decisão de 6 de março do STF que tornou a lista pública. O PT disse que todas as doações de campanha foram feitas legalmente.
Doleiro
Collor está sendo citado novamente por receber pagamentos ilegais no escândalo atual, segundo depoimento publicado no site de um tribunal do estado do Paraná.
As acusações foram feitas originalmente por Alberto Youssef, doleiro que se tornou testemunha do Estado e que diz que agia como banqueiro central entre as construtoras que pagavam propinas, executivos da Petrobras que entregavam os contratos multibilionários e políticos.
O STF também deu luz verde para a condução de investigações sobre os presidentes da Câmara e do Senado, embora tenha descartado uma apuração sobre Dilma. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, disse em um comunicado em seu site que é inocente. O presidente do Senado, Renan Calheiros, escreveu em sua conta no Twitter que não cometeu nenhum ato de corrupção.
Dilma afirmou que não sabia da suposta corrupção enquanto foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras, entre 2003 e 2010, quando parte dos acordos ilícitos teriam sido realizados. Collor disse, em um comunicado no dia 24 de fevereiro, que não conhece Youssef e que não manteve nenhuma relação comercial com ele.
Escândalo crescente
Assim como no início dos anos 1990, o escândalo cada vez maior está dando margem para cada vez mais pedidos de impeachment da presidente. Mais de três quartos dos participantes de uma pesquisa do Datafolha realizada entre 3 e 5 de fevereiro disseram acreditar que Dilma sabia da corrupção e que deixou que ela ocorresse ou não fez nada para impedi-la.
Os protestos em defesa do impeachment de Dilma estão sendo planejados em páginas no Facebook para 15 de março. O Palácio do Planalto preferiu não comentar a respeito da especulação de impeachment, em resposta enviada por e-mail.
“No Brasil, qualquer político corrupto em que você possa pensar -- mesmo se foi odiado ou cassado de alguma forma no passado -- pode retornar”, disse Musacchio.
A melhor chance de Dilma sobreviver à crise atual, disse ele, é permanecendo “fora do radar”.
Rio de Janeiro - Em outubro do ano passado, a presidente Dilma Rousseff estava em campanha no nordeste do Brasil prometendo combater a corrupção.
O que mais chamava a atenção era que ao lado dela estava o ex-presidente que sofreu um impeachment.
Para os eleitores brasileiros, esse é déjà vu.
Duas décadas depois de o ex-presidente Fernando Collor ser cassado sob acusação de corrupção, o político desonrado que virou senador está de novo sob o holofote.
Collor está entre os quase 50 parlamentares investigados como parte de um suposto esquema de propinas na Petrobras, a petroleira controlada pelo Estado, segundo uma lista divulgada pelo Supremo Tribunal Federal no dia 6 de março. Collor não respondeu aos pedidos de comentário.
A história do presidente Fernando Collor -- que renunciou em 1992 e depois protagonizou um retorno em 2006, quando foi eleito senador -- se repete sucessivamente na política brasileira.
Quase um terço do Congresso anterior, antes das eleições de outubro, ou 224 parlamentares, estavam sob investigação por crimes que vão de abusos a lei de licitações públicas a peculato, segundo o Congresso em Foco, um observatório com sede em Brasília. Setenta e três deles, incluindo Collor, foram reeleitos em outubro.
Nesse contexto, é fácil ver como o escândalo que atualmente envolve a Petrobras pôde se espalhar de forma descontrolada por tanto tempo, disse Aldo Musacchio, professor associado de Estratégia da Faculdade de Gestão Internacional Brandeis em Waltham, Massachusetts, EUA. A história de uma década de subornos e contratos de construção inflados teria o envolvimento de dezenas, ou até centenas de executivos, políticos e doleiros.
Semelhanças com a Lava Jato
De fato, a saída de Collor da presidência em meio a acusações de corrupção e à hiperinflação tem semelhanças com a situação atual. Collor, primeiro presidente eleito após o fim da ditadura no Brasil, em 1985, foi proibido de ocupar cargos públicos por oito anos após o impeachment devido às alegações de que fez vistas grossas a um esquema de tráfico de influência realizado por seu tesoureiro de campanha.
Ele foi inocentado de todas as acusações em 2014 pelo STF, que alegou insuficiência de provas.
Desta vez, foi o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), o mesmo partido da presidente Dilma Rousseff, que foi questionado pela polícia em meio a acusações de que parte dos subornos pagos à Petrobras foi desviada para campanhas políticas.
O tesoureiro, João Vaccari Neto, também está sendo investigado por participação em um suposto esquema de corrupção e lavagem de dinheiro, segundo a decisão de 6 de março do STF que tornou a lista pública. O PT disse que todas as doações de campanha foram feitas legalmente.
Doleiro
Collor está sendo citado novamente por receber pagamentos ilegais no escândalo atual, segundo depoimento publicado no site de um tribunal do estado do Paraná.
As acusações foram feitas originalmente por Alberto Youssef, doleiro que se tornou testemunha do Estado e que diz que agia como banqueiro central entre as construtoras que pagavam propinas, executivos da Petrobras que entregavam os contratos multibilionários e políticos.
O STF também deu luz verde para a condução de investigações sobre os presidentes da Câmara e do Senado, embora tenha descartado uma apuração sobre Dilma. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, disse em um comunicado em seu site que é inocente. O presidente do Senado, Renan Calheiros, escreveu em sua conta no Twitter que não cometeu nenhum ato de corrupção.
Dilma afirmou que não sabia da suposta corrupção enquanto foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras, entre 2003 e 2010, quando parte dos acordos ilícitos teriam sido realizados. Collor disse, em um comunicado no dia 24 de fevereiro, que não conhece Youssef e que não manteve nenhuma relação comercial com ele.
Escândalo crescente
Assim como no início dos anos 1990, o escândalo cada vez maior está dando margem para cada vez mais pedidos de impeachment da presidente. Mais de três quartos dos participantes de uma pesquisa do Datafolha realizada entre 3 e 5 de fevereiro disseram acreditar que Dilma sabia da corrupção e que deixou que ela ocorresse ou não fez nada para impedi-la.
Os protestos em defesa do impeachment de Dilma estão sendo planejados em páginas no Facebook para 15 de março. O Palácio do Planalto preferiu não comentar a respeito da especulação de impeachment, em resposta enviada por e-mail.
“No Brasil, qualquer político corrupto em que você possa pensar -- mesmo se foi odiado ou cassado de alguma forma no passado -- pode retornar”, disse Musacchio.
A melhor chance de Dilma sobreviver à crise atual, disse ele, é permanecendo “fora do radar”.