Em Curitiba, Lula encerra caravana pelo Sul marcada por violência
Nesta terça-feira, dois ônibus da comitiva do ex-presidente foram alvo de tiros, o que levou a organização a intensificar a segurança do político
AFP
Publicado em 28 de março de 2018 às 06h34.
Última atualização em 28 de março de 2018 às 06h36.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerra nesta quarta-feira (28), em Curitiba, uma agitada caravana pelo sul do Brasil, durante a qual dois ônibus de sua comitiva foram alvo de tiros.
A presença da Polícia foi intensificada na capital paranaense, aonde também irão grupos de direita e seguidores do deputado Jair Bolsonaro (PSL).
"Espero que nós tenhamos segurança, que a polícia nacional e estadual, a Inteligência possam cumprir seu papel para que, assim, a gente possa fazer uma manifestação pacífica e democrática como sempre tivemos", disse à AFP, por telefone, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann.
A senadora fez estes comentários depois dos tiros efetuados na noite de terça-feira contra dois dos três ônibus da comitiva.
Um dos veículos, que transportava jornalistas, foi atingido por disparos, e outro, com convidados do PT, foi alvejado por um tiro. Lula e Hoffmann viajavam no único carro que saiu ileso do ataque, segundo a legisladora.
Os críticos de Lula hostilizaram sua comitiva durante seu trajeto de dez dias pelos três estados do sul. Os protestos tiveram baixa adesão, mas não deram trégua.
"A nossa caravana está sendo perseguida por grupos fascistas. Já atiraram ovos, pedras. Hoje deram até um tiro no ônibus", relatou Lula em sua conta no Twitter.
Antes do incidente, Bolsonaro, segundo mais bem colocado nas pesquisas de intenção de voto para as eleições presidenciais de outubro, atrás de Lula, havia cumprimentado os ativistas que organizaram atos contra Lula, a quem chamou de "bandido".
O sul do Brasil é uma região hostil ao ex-presidente e, segundo meios de comunicação, vários assessores o desaconselharam a se lançar nesta caravana.
Lula, Bolsonaro, MBL, todos em Curitiba
Bolsonaro, que deve chegar à capital paranaense às 11h30 de quarta, desafiou Lula na segunda-feira a mostrar "quem mais leva o povo na rua de graça".
Seus simpatizantes vão recebê-lo no aeroporto, de onde partirá para Ponta Grossa (a 115 km de Curitiba), para participar de um ato político.
Apesar de liderar as pesquisas de intenção de voto, Lula pode ter a candidatura invalidada por ser ficha suja, após ter tido confirmada a condenação a 12 anos e um mês de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Segundo nas consultas, mas com metade dos votos, Bolsonaro faz apologia da ditadura militar (1964-85).
O Movimento Brasil Livre (MBL), muito ativo nos protestos que acompanharam o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016, convocou uma passeata até o Parque Barigui, a menos de um quilômetro de outra praça, a Santos Andrade, onde será celebrado um ato do PT.
"Há risco de confrontos", disse o consultor e cientista político Paulo Mora, que percebe uma radicalização crescente no país.
"Se a campanha oficial nem começou e já chegamos à fase de ovadas e pedradas, o risco é a eleição sair do controle, estimulada pelo excesso de candidatos versus a falta de ideias e programas", avaliou nesta terça-feira a colunista Eliane Cantanhede, do Estado de S.Paulo.
A própria Dilma Rousseff expressou o temor de um "banho de violência" durante a campanha.
Os adversários de Lula sentiram-se frustrados depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu a prisão do ex-líder sindical até pelo menos 4 de abril, quando os ministros devem decidir se ele tem o direito a apelar em liberdade aos máximos tribunais da sentença de mais de 12 anos de prisão.
"Pelo que se viu das hostilidades entre esses movimentos no sul, se o Lula não for preso, nós teremos uma campanha marcada pela violência", afirma Paulo Mora.
É em Curitiba que atua o juiz federal de primeira instância Sérgio Moro, impulsionador da operação Lava Jato, que desvendou um gigantesco esquema de corrupção montado na Petrobras. As investigações levaram para a prisão altos empresários e políticos de todas as tendências e está na base da condenação de Lula.
Também nesta terça-feira, o ministro Nelson Fachin denunciou ter sofrido ameaças contra a sua vida.
"Nos dias atuais uma das preocupações que tenho não é só com julgamentos, mas também com segurança de membros de minha família. Tenho tratado desse tema e de ameaças que tem sido dirigidas a membros da minha família (...). Essas circunstâncias não são singelas e espero que nada passe", disse Fachin em entrevista ao canal GloboNews.
Fachin é relator da Operação Lava Jato e do pedido de habeas corpus preventivo apresentado pela defesa de Lula, que começou a ser analisado pelo plenário do Supremo na última quinta-feira.
O ministro foi contrário à análise do habeas corpus pelo plenário do Supremo.
A violência de cunho político demonstrou este mês que no Brasil é possível ir além das ameaças, após o assassinato da vereadora do PSOL-RJ Marielle Franco, conhecida por sua luta contra o racismo, as discriminações e as denúncias de excessos policiais em comunidades.