Deputados que analisam pacote anticrime discutem criar "juiz de garantias"
Ideia é que magistrado responsável por prisões provisórias ou quebras de sigilo no início de investigações não seja o mesmo que vai julgar o caso no final
Estadão Conteúdo
Publicado em 17 de agosto de 2019 às 09h28.
Última atualização em 17 de agosto de 2019 às 09h29.
Deputados do grupo de trabalho que analisa o pacote anticrime do ministro da Justiça, Sérgio Moro , vão propor que o juiz responsável por determinar prisões provisórias ou quebras de sigilo no início de investigações não seja o mesmo que vai julgar o caso no final. A medida é vista como uma reação a Moro, que teve sua imparcialidade no julgamento das ações da Lava Jato questionada após a divulgação de supostas mensagens hackeadas de integrantes da força-tarefa em Curitiba.
Os parlamentares querem introduzir no Código de Processo Penal a figura do "juiz de garantias", que conduziria a fase inicial de instrução, cabendo a ele determinar prisões, quebras de sigilo ou libertações em inquéritos e flagrantes. Após a apresentação da denúncia, o caso passaria a ser conduzido por outro juiz, responsável pelo julgamento.
A proposta tem apoio da maioria do colegiado. Segundo a deputada Margarete Coelho (PP-PI), que preside o grupo, a medida tem como objetivo reduzir a "contaminação" do juiz na hora do julgamento. "Quando você tira o juiz das fases iniciais, você minimiza a possibilidade de ele estar contaminado quando chegar a hora do julgamento, sem a imparcialidade desejada", disse ela.
A discussão da proposta não é inédita no Congresso, e voltou agora, após a publicação de supostos diálogos entre o ex-juiz e integrantes da Lava Jato. A reforma do Código de Processo Penal, aprovada no Senado em 2010, criou a figura do "juiz de garantias". Um substitutivo foi elaborado pela Câmara, mas a tramitação foi interrompida pelo presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que criou uma comissão especial para analisar o projeto em março deste ano.
Ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça e ex-corregedor do Conselho Nacional de Justiça, Gilson Dipp é favorável à criação da figura jurídica, mas vê dois problemas. O primeiro é que a estrutura brasileira não comporta a medida. "Existem, hoje, centenas de cidades sem um juiz. Vemos magistrados cuidando sozinhos de 20 comarcas." Dipp afirmou ainda que a medida não pode ser feita como retaliação. "A discussão não pode ser contaminada por uma questão política", afirmou ele, em referência à Lava Jato.
Em São Paulo, o Tribunal de Justiça do Estado adota modelo similar desde que criou o Departamento de Inquéritos Policiais (Dipo) no Fórum Criminal da Barra Funda. Os juízes lotados no Dipo são responsáveis por analisar pedidos de prisão e outras medidas cautelares. Quando o Ministério Público decide apresentar a ação penal, o caso vai para uma vara criminal.
"O maior ganho que se tem é que não há a vinculação do julgamento com os atos de instruções do processo", afirmou o criminalista do Daniel Bialski.
Derrotas
Com sucessivas derrotas no grupo de trabalho que analisa o pacote anticrime, Moro articula um nome para relatar a proposta no plenário. Ontem, Maia prorrogou por mais 30 dias os trabalhos do grupo. "Vamos trabalhar para resgatar o projeto original no plenário. A Frente Parlamentar de Segurança Pública é a maior da Casa e quer manter a relatoria da proposta", afirmou o deputado Capitão Augusto (PL-SP).
Os parlamentares vão discutir na terça-feira a proposta de excludente de ilicitude (que livra de condenação o policial que reagir e matar durante um confronto) e de criação do banco genético criminal. As duas medidas devem ser rejeitadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.