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De olho na eleição de 2022, Bolsonaro e Lula buscam apoio de Sarney

Além de papel central na CPI da Pandemia, MDB, partido do ex-presidente maranhense, tem a maior bancada no Senado

Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. (Miguel Schincariol/Evaristo Sá/Getty Images)

Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. (Miguel Schincariol/Evaristo Sá/Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 3 de maio de 2021 às 07h35.

Na véspera do início da fase de depoimentos na CPI da Covid e em meio a articulações de olho nas eleições de 2022, o ex-presidente José Sarney (MDB) passou a ser procurado na condição de interlocutor de alto nível pelo governo e pelo PT, maior partido de oposição. Além do papel central na CPI, o que preocupa o Planalto, o MDB tem a maior bancada do Senado.

Na terça-feira passada, o presidente Jair Bolsonaro esteve com Sarney em Brasília, no mais importante gesto de aproximação com o MDB, partido do relator da CPI, o senador Renan Calheiros (AL). O Palácio do Planalto está em alerta com a atuação de Renan, que mandou duros recados ao governo em seu primeiro pronunciamento após ser nomeado relator na comissão.

Como revelou o colunista do GLOBO Ancelmo Gois, Bolsonaro prestou continência para Sarney na entrada e na saída da reunião na semana passada. Durante a conversa, o presidente não mencionou o nome de Renan Calheiros, mas se queixou das dificuldades que enfrenta na Presidência da República.

Poucos dias depois desse encontro, Renan afirmou a aliados ter desistido da ideia de pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) acesso aos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos. A notícia foi recebida com alívio pelo grupo criado no Planalto para monitorar o avanço da CPI.

Apesar de ter conversado com Renan Filho, governador de Alagoas e filho do relator, Bolsonaro ainda não procurou o próprio relator. Ao GLOBO, porém, Renan afirmou que prefere conversar com interlocutores do presidente a falar diretamente com Bolsonaro.

— Não procurou. Da mesma forma que eu não devo conversar com o Lula agora, entendo que não devo conversar com o Bolsonaro. Mas conversarei com interlocutores dos dois lados, à exceção do Onyx, que é pouco verdadeiro — afirmou Renan.

O ministro Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral) tem disputado espaço, na última semana, com Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) e Flávia Arruda (Secretaria de Governo) na articulação política de Bolsonaro. Com a bola dividida, a impressão de membros da comissão ouvidos pelo GLOBO é que o governo perde capacidade de articulação. Questionado sobre se foi procurado por Ramos ou Flávia, Renan disse que ainda não, mas que “o jogo está apenas começando”.

— E em política nada é irreversível. Só que a CPI não fará investigação política, mas técnica e buscando a verdade sempre — completou o senador.

Em entrevista à GloboNews na noite de ontem, o líder do MDB no Senado e integrante da CPI Eduardo Braga (AM) afirmou que o encontro de Bolsonaro com Sarney significou “abrir negociação de alto nível” com o partido, mas não deve comprometer os trabalhos da CPI.

— Abrir uma negociação de alto nível com o MDB não tem nada demais. O que não podemos é perder a isenção — afirmou.

PT em busca do centro

Para o PT, a busca pelo ex-presidente José Sarney vem no contexto de uma sinalização ao centro. Em viagem a Brasília nesta semana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende se encontrar com Sarney. Pessoas próximas ao maranhense dizem que o convite não foi formalizado, mas frisam que Lula e Sarney mantêm boa relação e costumam se encontrar.

Lula dá como certo o apoio de Renan Calheiros e Renan Filho nas eleições de 2022. Entretanto, Renan e Sarney, assim como diversos caciques do MDB, apoiaram o impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016, mas em seguida retomaram a relação com Lula. Enquanto esteve no poder, o petista desenvolveu uma relação de amizade com Sarney.

Em entrevista ao GLOBO, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann (PR), ressaltou sua boa relação com alguns quadros emedebistas e disse que não descarta alianças nacionais com siglas fora do campo da esquerda.

O MDB se declara independente em relação a Bolsonaro. O partido abriga os líderes do governo no Senado e no Congresso, Fernando Bezerra (PE) e Eduardo Gomes (TO), assim como políticos mais próximos da oposição, como o próprio Renan Filho e o governador do Pará, Helder Barbalho, com autonomia para alianças regionais.

Na eleição para a presidência do Senado, o MDB se sentiu traído pelo governo. Havia um acordo pelo qual, se o Supremo Tribunal Federal (STF) barrasse a reeleição de Davi Alcolumbre, o candidato apoiado seria do MDB. Bolsonaro preferiu apoiar Rodrigo Pacheco (DEM-MG), atual presidente. A candidata do MDB, Simone Tebet (MS), naufragou.

Na Câmara, Baleia Rossi (SP), presidente do MDB Nacional, tentou se eleger presidente com campanha crítica ao governo federal, o que contrariou Bolsonaro. O líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes, chegou a ser cotado para assumir a Secretaria de Governo em março, mas foi preterido por Flávia Arruda, do PL.

A escolha de Renan para a relatoria da CPI foi interpretada como uma retaliação à postura do governo em relação ao MDB nesses episódios.

Da mesma forma que ocorre com o PT, a tentativa de aproximação do governo com o MDB reflete a antecipação da campanha de 2022. Bolsonaro está sendo aconselhado por assessores a ser mais “profissional” do que em 2018, o que envolve melhorar as tratativas com partidos políticos do centro.

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