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Cresce campanha contra Bolsonaro no Brasil

A carreira do candidato do PSL é marcada por declarações misóginas, homofóbicas e racistas, além da defesa de métodos de tortura durante a ditadura militar

JAIR BOLSONARO: A adesão de celebridades nas últimas horas alimenta a manifestação "Mulheres contra Bolsonaro", convocada para sábado, 29. (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
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AFP

Publicado em 25 de setembro de 2018 às 07h52.

Última atualização em 25 de setembro de 2018 às 08h56.

Um manifesto assinado por intelectuais, artistas e empresários se somou à crescente campanha nas redes sociais contra o candidato de extrema direita Jair Bolsonaro , que lidera as intenções de voto para as eleições de 7 de outubro.

"Temos trajetórias pessoais e públicas variadas. Votamos em pessoas e partidos diversos. Defendemos causas, ideias e projetos distintos para nosso país, muitas vezes antagônicos. Mas temos em comum o compromisso com a democracia", assinala o manifesto "Pela democracia, pelo Brasil", que começou a circular no domingo.

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"O compromisso com a democracia, com a liberdade, a convivência plural e o respeito mútuo. E acreditamos no Brasil. Um Brasil formado por todos os seus cidadãos, ético, pacífico, dinâmico, livre de intolerância, preconceito e discriminação...".

"Mas quando, no entanto, nos deparamos com projetos que negam a existência de um passado autoritário no Brasil, flertam explicitamente com conceitos como a produção de nova Constituição sem delegação popular, a manipulação do número de juízes nas cortes superiores ou recurso a autogolpes presidenciais, acumulam declarações francamente xenofóbicas e discriminatórias contra setores diversos da sociedade, refutam textualmente o princípio da proteção de minorias contra o arbítrio e lamentam o fato das forças do Estado terem historicamente matado menos dissidentes do que deveriam, temos a consciência inequívoca de estarmos lidando com algo maior, e anterior a todo dissenso democrático", adverte o documento firmado por cerca de 400 empresários, economistas, intelectuais eartistas como Alice Braga, Chico Buarque, Caetano Veloso, Fernando Meirelles e Walter Salles.

"É preciso dizer, mais que uma escolha política, a candidatura de Jair Bolsonaro representa uma ameaça franca ao nosso patrimônio civilizatório primordial. É preciso recusar sua normalização, e somar forças na defesa da liberdade, da tolerância e do destino coletivo entre nós", destaca o manifesto.

A carreira política de Bolsonaro, um ex-capitão do Exército, é marcada por polêmicas envolvendo declarações misóginas, homofóbicas e racistas, além da defesa de métodos de tortura durante a ditadura militar (1964-1985).

"O erro da ditadura foi torturar e não matar", disse em junho de 2016. "Deus acima de tudo. Não existe esta história de Estado laico", afirmou em fevereiro de 2017. Também disse entender porque os salários das mulheres são inferiores aos dos homens.

Seu discurso, partidário da flexibilização do porte de armas para combater a criminalidade, atraiu amplos setores, mas também o transformou em um político de alta rejeição, deflagrando as campanhas #EleNão e #EleNunca, promovido pelo grupo de Facebook "Mulheres Unidas contra Bolsonaro".

O grupo criado contra o "machismo e a misoginia" tinha nesta segunda-feira quase três milhões de integrantes.

A campanha #EleNão foi ampliada com a criação de mais de 40 grupos de mulheres, evangélicos, ateus, judeus, cristãos e LGBTQ, todos declaradamente contra o candidato e com milhares de integrantes cada um.

Os artistas também se somaram às mobilizações virtuais, e a última a aderir foi Anitta, após ser questionada nas redes sociais.

Protesto em mais de 70 cidades

A adesão de celebridades nas últimas horas alimenta a manifestação "Mulheres contra Bolsonaro", convocada para sábado, 29.

Milhares já confirmaram sua presença nos protestos anunciados para 70 cidades do Brasil e uma dezena de países em todo o mundo, de Argentina a Portugal, passando por Estados Unidos, Holanda e Inglaterra.

Idolatrado por seus partidários, que o chamam de "mito", o deputado de 63 anos não participa de atividades públicas desde 6 de setembro, quando foi esfaqueado em um comício na cidade de Juiz de Fora.

Isto não impediu Bolsonaro de se manter ativo nas redes sociais e de liderar as pesquisas, o que parece lhe garantir uma vaga no segundo turno, em 28 de outubro.

Em entrevista concedida nesta segunda-feira à Rádio Jovem Pan, do Hospital Israelita Albert Einstein de São Paulo, Bolsonaro declarou que o atentado contra ele foi "planejado, político, para me tirar do combate".

Sobre a pena para seu agressor, Adélio Bispo de Oliveira, Bolsonaro avaliou que "no Brasil não existe pena acima de 30 anos". "Eu costumo dizer muitas vezes, tentativa de homicídio, eu estou vivo por milagre, por que a pena tem que ser abaixo do homicídio em si?! Vamos mudar isso no futuro se Deus quiser...".

"Eu prefiro cadeia cheia de vagabundo do que cemitério cheio de inocente. Esses caras que falam que eu sou um risco para a democracia acham que sou risco para os esquemas deles...".

"Da minha parte nunca preguei o ódio. Eles dizem que prego o ódio, dizem que Bolsonaro agride gays, negros, mulheres. Me aponte um áudio meu agredindo, uma imagem minha agredindo".

Esquerda x direita

Na pesquisa Ibope publicada nesta segunda-feira, o candidato do PT, Fernando Haddad, continua crescendo nas intenções de voto (22%) e Bolsonaro está estagnado (28%).

Haddad subiu três pontos em relação à última pesquisa divulgada em 18 de setembro pelo Ibope.

A principal novidade dessa pesquisa, realizada entre 22 e 23 de setembro com 2.506 entrevistados, é que Haddad ganharia de Bolsonaro no segundo turno (43% contra 37%), previsto para 28 de outubro. Na pesquisa anterior eles apareciam empatados com 40%.

Outra novidade foi o índice de rejeição de Bolsonaro, que subiu de 42% para 46%. A rejeição de Haddad subiu um ponto, de 29% para 30%.

Em terceiro lugar na pesquisa aparece Ciro Gomes, que se manteve com 11%, seguido por Geraldo Alckmin, que sobe de 7% para 8%, e por Marina Silva, que caiu de 6% para 5%.

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