Coronavírus: passageiros do exterior têm entrado sem triagem em aeroportos
Anvisa informou que até o momento não há indicação de fazer nenhum tipo de controle de temperatura nos viajantes em aeroportos
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de março de 2020 às 14h38.
Última atualização em 25 de março de 2020 às 15h17.
Enquanto o novo coronavírus avança sobre o Brasil, nos aeroportos internacionais de Brasília e Guarulhos, por onde passam diariamente 165 mil pessoas, não tem sido feita triagem ou sequer verificação mais cuidadosa da situação dos passageiros que chegam da Europa e dos Estados Unidos.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) admitiu ao jornal O Estado de S. Paulo que "não há indicação de fazer qualquer tipo de controle de temperatura nos viajantes".
No restante do mundo, o protocolo tem sido outro: na China, na Itália, na Coreia do Sul e nos Estados Unidos, onde já foi registrado um total de 133 mil infectados e 6,4 mil mortes, a medição da temperatura de passageiros vem sendo adotada em aeroportos para conter a doença.
O governo do Distrito Federal chegou a anunciar na semana passada que bombeiros fariam triagem dos passageiros no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, prevendo até o uso de câmeras térmicas e equipamentos de análise biológica do ar.
De acordo com o Palácio do Buriti, no entanto, o protocolo do Ministério da Saúde impediu "que os bombeiros fizessem as ações nas áreas predeterminadas". A alternativa será realizar agora as análises térmicas dos passageiros na área pública de desembarque do aeroporto.
Passageiros ouvidos pelo jornal O Estado de S. Paulo informaram que retornaram a Brasília nesta semana sem passar por nenhum tipo de procedimento especial.
Um funcionário de um banco estatal, que pediu para não ser identificado, disse que esperava o "maior aparato" ao chegar dos Estados Unidos, mas alegou que a única orientação recebida ao desembarcar em Brasília foi um aviso de dentro do próprio avião.
Em São Paulo, a mesma situação foi vivenciada pela servidora Laura Gracindo, que acaba de voltar de férias da Espanha, que já registra 14.535 casos de infecções e 630 mortos. "Foi uma chegada normal como qualquer outra, a diferença é que na hora de passar pela alfândega pedem para as pessoas abaixarem as máscaras para a análise da câmera. E tem o sistema de som que fica repetindo que, se você tiver os sintomas, deve procurar o sistema de saúde. O único aviso é esse nos alto-falantes", relatou.
Eficácia
Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou. Na segunda-feira, o titular da pasta, Luiz Henrique Mandetta, levantou dúvidas sobre a eficácia da medição de temperatura de passageiros. "O início desse quadro gripal é muito mais de sintomas vagos, dor no corpo, um pouco de coriza, arranhando a garganta. Agora, o período de incubação é de 3 a 7 dias, com pico no quinto dia. Então, o primeiro, segundo, terceiro você está totalmente sem febre", afirmou Mandetta.
Diante disso, o ministro questionou "você investir milhões para colocar um termômetro em cada um para saber que 75%, 80% dos pacientes que passarem por ali podem estar infectados. Aquilo não tem nenhuma utilidade como instrumental de saúde pública". "É só para que as pessoas olhem e falem: 'Está medindo a temperatura'. E eficácia como instrumento é praticamente desprezível. A gente precisa ver eficácia de ações", disse o ministro.
A Anvisa informou que até o momento "não há indicação de fazer nenhum tipo de controle de temperatura nos viajantes em aeroportos". "Importante destacar que a atuação em portos e aeroportos é função exclusiva do ente federal, no caso a Anvisa. Dessa forma, esclarecemos aos representantes dos governos locais quanto à impossibilidade de atuação de órgãos estaduais e municipais nos portos e aeroportos", alegou o órgão.
O consórcio Inframérica, que administra o aeroporto de Brasília, disse que, apesar de não ser uma determinação das autoridades de saúde, "fez parceria com os bombeiros e com o governo do Distrito Federal para iniciar a medição de temperatura dos passageiros que desembarcarem de voos internacionais no Aeroporto de Brasília".
Guarulhos
Já a GRU Airport, concessionária responsável pelo Aeroporto Internacional de São Paulo, disse à reportagem que "segue todas as recomendações da Anvisa e coopera com os órgãos federais e companhias aéreas, além de manter alertas sonoros, em três idiomas, e vídeo informativo em seus canais de comunicação para todos os passageiros e colaboradores". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.