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Coronavac: adiamentos dos resultados podem afetar confiança na vacina

Os especialistas questionam a justificativa de que o atraso ocorreu para analisar dados de todos os países participantes dos testes clínicos

Giovana Zanotto do Carmo recebe injeção como voluntária no estágio de ensaio da vacina Coronavac no Instituto Emilio Ribas em São Paulo (Amanda Perobelli/Reuters)

Giovana Zanotto do Carmo recebe injeção como voluntária no estágio de ensaio da vacina Coronavac no Instituto Emilio Ribas em São Paulo (Amanda Perobelli/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 24 de dezembro de 2020 às 09h35.

Os sucessivos adiamentos na divulgação dos resultados de eficácia da Coronavac causam frustração e insegurança na população e podem abalar a confiança na vacina, apontam especialistas. Para eles, o governo de São Paulo e o Instituto Butantan cometeram um erro grave ao informar datas para divulgação dos resultados finais e para início da vacinação sem ter os dados de eficácia na mão.

"Não dá para entender essa intempestividade do Butantan de estar marcando data sem ter os processos terminados. É um equívoco. Todos os estudos podem ter percalços ou pausas para analisar as informações. Colocar datas é uma aposta arriscada e, quando não cumprido, confunde a população e traz o risco de colocar todo um trabalho científico em descrédito", analisa a epidemiologista Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Para Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o atraso cria frustração e insegurança. "Tinha expectativa do Brasil inteiro porque era a vacina que talvez a gente pudesse usar mais rapidamente. Não mostrar esses dados traz uma intranquilidade, diminui a confiança e aumenta a insegurança", diz.

Para Ricardo Gazzinelli, presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia, os órgãos envolvidos na pesquisa deveriam ter tido mais cuidado ao anunciar cronogramas. "Parece que existe uma ansiedade e talvez um desejo político de ter isso logo. Tem coisas que a política decide, mas se uma vacina funciona ou não é a ciência que decide."

"É uma vacina que já sofria de teorias conspiratórias por causa da sua origem. Então o cuidado com a comunicação deveria ser muito maior. Isso vai dar margem a todo tipo de especulação", destaca Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência.

Os especialistas também questionam a justificativa do Butantan de que o atraso na divulgação ocorreu porque a Sinovac pediu para analisar os dados de todos os países participantes dos testes clínicos. Eles esclarecem que essa análise já costuma ser feita conjuntamente e, portanto, deveria ter sido considerada como parte do processo. "Geralmente se analisa o conjunto dos dados, até porque, somando todos os países, você tem um poder estatístico maior, ou seja, um dado mais confiável. Além disso, uma análise global é importante porque essa vacina será usada em populações de vários países", explica Gazzinelli. "E me causa surpresa o Butantan falar só agora que tem essa cláusula no contrato que diz que só pode divulgar os dados juntamente com a Sinovac", completa Carla.

Cunha concorda. "A praxe seria anunciar resultado a partir do momento que já tenha tudo reunido. Mas já vimos, em estudos de outras vacinas, que há questões individuais das populações que podem interferir nos resultados de cada país. Nesse caso, isso poderia ter sido detalhado."

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