Constituinte de um e de outro: os radicais dentro das campanhas
Tanto Fernando Haddad, como Hamilton Mourão, vice na chapa de Bolsonaro falam em redigir nova constituição para o país. Entenda o que está por trás disso
Da Redação
Publicado em 28 de setembro de 2018 às 19h00.
Última atualização em 28 de setembro de 2018 às 19h51.
O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira que vai “criar condições” para uma nova constituição. O plano está previsto no programa de governo petista, mas a declaração causou uma nova leva de debates entre eleitores de Haddad e seus opositores. Há duas semanas, Hamilton Mourão, vice na chapa de Jair Bolsonaro (PSL), havia afirmado a intenção de criar um conselho de “notáveis” para redigir uma nova constituição para o país.
Ou seja: as duas chapas líderes na corrida presidencial trouxeram a importância de uma reforma constitucional à tona. As declarações têm propostas diferentes — mas vá explicar isso para as militâncias nas redes sociais. Mourão sugeriu uma reforma constitucional à revelia das instituições democráticas. Haddad falou em “criar condições”, o que pressupõe um debate com o Congresso.
Ainda assim, a proposta é tida como uma das mais polêmicas do programa de governo petista, e pode ser palco de novos debates caso Haddad avance ao segundo turno. A inclusão de uma reforma em seu programa de governo era uma condição do PCdoB, que indicou Manuela D’Ávila como vice na chapa. O programa petista, publicado para a candidatura de Lula, fala em uma Assembleia Constituinte que dê conta “do desafio de refundar e aprofundar a democracia no Brasil”, um passo necessário para “assegurar as conquistas democráticas inscritas na Constituição de 1988”.
A inclusão da proposta no programa é mostra de uma queda de braço entre a ala mais moderada e pragmática do partido, onde estão Lula e Haddad, e a ala mais radical, que inclui, entre outros, o ex-ministro José Dirceu. Em entrevista publicada pelo El País Dirceu causou polêmica ao afirmar que “é uma questão de tempo para o PT tomar o poder”. A frase, segundo analistas ouvidos por EXAME, terá pouca influência na campanha, que tende a adotar um tom mais pragmático sobretudo no segundo turno.
“Não vejo espaço para uma guinada que credencie a ideia de uma radicalização ou de uma constituinte na campanha do PT, pela postura adotada até aqui pelo Haddad”, diz Sérgio Praça, professor da FGV e colunista de EXAME. “A postura do partido vai ficar mais clara no segundo turno. Declarações mais fortes, sobretudo de Haddad, em duas semanas podem levantar maiores preocupações”.
Isso, claro, se o PT mantiver os resultados da pesquisa e confirmar sua ida ao segundo turno no dia 7.