Brasil

Com ataque a Boulos e na mira de pedido de inelegibilidade, Tarcísio abre '3º turno' de olho em 2026

Para analistas políticos, o governador voltou a se aproximar da direita bolsonarista ao associar, sem provas, o PCC a Boulos. Carmén Lúcia diz que Justiça dará a devida resposta

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou, sem provas, que o PCC orientou o voto em Boulos neste segundo turno na capital paulista, o que motivou um pedido de inelegibilidade contra ele  (Isadora de Leão Moreira/ Governo de SP/Flickr)

O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou, sem provas, que o PCC orientou o voto em Boulos neste segundo turno na capital paulista, o que motivou um pedido de inelegibilidade contra ele (Isadora de Leão Moreira/ Governo de SP/Flickr)

Publicado em 28 de outubro de 2024 às 17h29.

Tudo sobreEleições 2024
Saiba mais

O episódio envolvendo o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), acusado pela campanha de Guilherme Boulos (PSOL) de abuso de poder político e informação falsa para favorecer o prefeito reeleito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB), abre um "terceiro turno" com vistas a 2026. É o que preveem os analistas políticos Cila Schulman, CEO do Instituto de Pesquisa Ideia, e Fábio Zambeli, vice-presidente da Ágora Assuntos Públicos, que participaram neste domingo, 27, da live de apuração das eleições municipais realizada pela EXAME.

De acordo com Schulman e Zambeli, Tarcísio agitou a direita mais radical, também conhecida como a "direita bolsonarista", ao afirmar, sem provas, que a Primeiro Comando da Capital (PCC) orientou o voto em Boulos neste segundo turno na capital paulista.

A declaração foi dada em coletiva de imprensa, por volta das 12h, ao lado de Nunes. O governador alegou que a facção criminosa circulou um comunicado nos presídios, os chamados "salve", indicando votos "no outro candidato", em referência ao psolista.

As anotações que teriam apoiado a fala de Tarcísio, no entanto, conforme reportaram veículos da imprensa que divulgaram os comunicados, mostram que elas são de setembro, antes do segundo turno.

O caso indignou a campanha do deputado federal que, ainda neste domingo, ingressou no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo com uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), pedindo a inelegibilidade do governador e do prefeito.

Na ação, a defesa de Boulos argumenta que o republicano tentou "intervir no resultado eleitoral com mentiras.

À imprensa, o candidato derrotado classificou também a declaração como o "laudo falso do segundo turno". Numa associação ao documento falso divulgado pelo candidato derrotado Pablo Marçal (PRTB), às vésperas do primeiro turno, para relacionar Boulos ao uso de drogas. Mas destacou que o ataque de Tarcísio é "mais grave" por ter sido feito por uma autoridade.

Para Zambeli, porém, se houve impacto eleitoral contra o deputado, ele foi "marginal". Isso porque nas pesquisas públicas dos principais institutos, Boulos já vinha aparecendo atrás de Nunes com uma diferença semelhante ao resultado das urnas neste domingo, de 59,35% contra 40,65%.

Tarcísio abre um 'terceiro turno'

Mas independentemente do resultado e do impacto que a declaração tenha do ponto de vista eleitoral, o fato "é politicamente muito significativo", garante o analista. "Porque, para mim, começa a sucessão presidencial no dia do segundo turno da eleição municipal".

"É curioso que nas redes sociais, o governador começou a agitar a direita, da qual ele estava um pouco mais distante na campanha, porque a direita mais radical e ideológica vinha acusando o governador de uma moderação, uma aproximação com o centro. [Tarcísio] distanciou-se da direita mais raiz que, no primeiro turno, estava apoiando [Pablo] Marçal. E agora com essa declaração ele agita a direita raiz e o campo da esquerda", diz Zambeli.

A postura do governador espantou inclusive aliados, de acordo com a CEO do Instituto Ideia, que não entenderam a motivação por trás do ataque a Boulos. O psolista atribuiu a declaração a um "desespero" dos oponentes com uma possível virada.

Schulman avalia que não havia, contudo, clima para tanto, já que o existia era uma mudança dentro da margem de erro, com oscilação positiva para Boulos e negativa para Nunes. Para a analista política, a explicação possa estar na aproximação de Tarcísio com a direita radical.

Especialmente neste momento que ele se torna o "principal vencedor" da reeleição prefeito, de quem foi o principal fiador, e desponta-se como um líder para além da imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro, a partir do qual se projetou.

"Ele [governador] vira um personsagem mais bolsonarista raiz de novo. Tarcísio vem fazendo essa mudança, eu percebi isso no almoço no meio da semana com Bolsonaro, com declarações mais polêmicas e à direita. E veja, esse tema do PCC. Houve um comercial de Ricardo Nunes no começo do segundo turno, dizendo que os presos votaram em Boulos, o que é uma tática antiga, mas que pega o eleitor mais conservador", afirma Cila.

"E para esse eleitorado bolsonarista raiz, se Tarcísio tiver problemas na Justiça, no Judiciário, eles também dirão que é uma perseguição a ele. Volta ao mesmo enredo, mobiliza muito esse eleitorado que desacredita na Justiça, que acha que o Judiciário esta comprometido com o outro lado. Teremos um terceiro turno em torno disso", acrescenta.

Reação no TSE

A fala de Tarcísio contra Boulos surpreendeu também técnicos e ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ouvidos reservadamente pela EXAME.

A avaliação preliminar é que as afirmações feitas por Freitas, sem a divulgação de qualquer prova, podem ser enquadradas como abuso de poder político e informação falsa. No limite, apontam essas fontes, poderia haver inelegibilidade para o governador de São Paulo, ainda que esse prognóstico seja incipiente no momento.

Em balanço sobre a eleição nas 51 cidades com segundo turno, na noite deste domingo, a presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, declarou que a Justiça Eleitoral dará a devida resposta com celeridade.

"Um caso que aconteça quando 33 milhões de eleitores estão na urna, com 102 candidatos e que já foi judicializado segundo os senhores mesmos informam, a Justiça Eleitoral tem um prazo curtíssimo, e será dada a resposta", afirmou a presidente, destacando que a eleição neste domingo transcorreu de forma tranquila pelo país.

yt thumbnail
Acompanhe tudo sobre:Eleições 2024sao-pauloTarcísio Gomes de FreitasGuilherme BoulosRicardo Nunes

Mais de Brasil

Acesso à coleta de esgoto cresce e chega a 69,9% dos domicílios em 2023, diz IBGE

Proporção de pessoas que moram sozinhas sobe de 12% a 18% em uma década, diz IBGE

Quase metade das residências no país tem carro, e acesso a motos cresce, diz IBGE

Alexandre de Moraes concede liberdade condicional a Daniel Silveira