CCJ da Câmara não vota PEC sobre 2ª instância, após pedido de vista
A PEC deixa clara, no texto constitucional, a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, mas enfrenta resistência
Reuters
Publicado em 16 de outubro de 2019 às 16h38.
Última atualização em 16 de outubro de 2019 às 16h42.
Brasília — A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados encerrou sua reunião nesta quarta-feira (16) com um pedido de vistas à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permite a prisão após condenação judicial em segunda instância.
O tema, que deve ser objeto de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em sessão marcada para a quinta-feira, provocou embates na comissão.
O presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), havia pautado a PEC para a terça-feira, mas a proposta encontrou resistência entre os integrantes da comissão, e não apenas da oposição.
A reunião da terça teve de ser interrompida, com o início da ordem do dia no plenário. Com a retomada nesta quarta, a relatora da proposta, Caroline de Toni (PSL-SC), apresentou seu parecer e foi concedida vista conjunta.
A PEC deixa clara, no texto constitucional, a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância.
O texto da proposta, de autoria do deputado Alex Manente (Cidadania-SP), altera a Constituição para determinar que "ninguém será considerado culpado até a confirmação de sentença penal condenatória em grau de recurso".
"Acreditamos que o princípio da presunção de inocência já está garantido pois, no processo penal, é dever da acusação trazer provas para a condenação do acusado. Mesmo com provas suficientes para a condenação em primeira instância, ainda assim o réu poderá recorrer pela reforma da decisão", argumenta o autor da proposta em sua justificativa.
"E é nesse momento --no grau de recurso-- que se encerra a análise de fatos e provas que assentaram a culpa do condenado. Os recursos cabíveis da decisão de segundo grau, ao STJ ou STF, não se prestam a discutir fatos e provas, mas apenas matéria de direito. Portanto, mantida a sentença condenatória, estará autorizado o início da execução da pena."
Para a oposição, no entanto, trata-se da tentativa de mudança de uma cláusula pétrea da Constituição. Segundo a deputada Maria do Rosário (PT-RS), cláusulas como a que trata da presunção de inocência não poderiam ser "destruídas" ou "descaracterizadas", como considera ser o caso da PEC em discussão.
"É uma pauta direcionada. A pauta está colocada porque o STF marcou julgamento para quinta-feira, caso contrário, não estaria. Mas o enfrentamento que nós estamos fazendo aqui não é direcionado, porque a Constituição vale para todos e todas", argumentou.