Cavaliere, vice eleito do Rio: segurança pública exige coordenação entre União, estado e município
Liderança jovem da política carioca, Eduardo Cavaliere (PSD) faz balanço da gestão de Eduardo Paes na prefeitura do Rio em entrevista à EXAME
Editor de Negócios e Carreira
Publicado em 21 de dezembro de 2024 às 06h36.
Última atualização em 21 de dezembro de 2024 às 11h56.
A segurança pública exige políticas nacionais e um consenso político ainda difícil de ser obtido no Brasil, segundo o vice-prefeito eleito do Rio de Janeiro, Eduardo Cavaliere (PSD).
Nascido em 29 de setembro de 1994, Eduardo Cavaliere, advogado formado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), é um dos principais nomes da nova geração de políticos no Rio de Janeiro. Aos 30 anos, acumula uma trajetória marcada pela proximidade com Eduardo Paes, com quem foi eleito vice-prefeito em 2024.
Cavaliere iniciou sua carreira política em 2018 como ajudante de Paes durante a campanha para o governo estadual. Após a derrota de Paes para o então magistrado Wilson Witzel (PMB), empreendeu no setor privado, fundando uma startup de segurança.
Em 2020, retornou à política na campanha vitoriosa de Paes à prefeitura do Rio, sendo nomeado Secretário Municipal de Meio Ambiente (2021-2023).
Ele também foi eleito deputado estadual em 2022, com 33.688 votos, e assumiu a Secretaria da Casa Civil de Paes em 2023, posição que ocupou até 2024. No cenário internacional, representou o Brasil em eventos importantes, como a COP26 e o Estocolmo+50, consolidando sua experiência em questões ambientais.
A partir de 2025, na condição de vice-prefeito, Cavaliere terá a segurança pública como uma das prioridades da gestão. O tema foi um dos principais da campanha à prefeitura do Rio deste ano, após sucessivos episódios de arrastões nas praias e de tiroteios em vias expressas da cidade.
Cavaliere apontou o domínio territorial por facções criminosas como um dos principais problemas da segurança pública no Rio.Ainda assim, destacou resultados concretos obtidos pela prefeitura, como o BRT Seguro, que aumentou a frequência do transporte público e reduziu quase 100% os casos de vandalismo, e a Central de Inteligência e Vigilância (Civitas), que já contribuiu para mais de 300 investigações da Polícia Civil.
A entrevista foi concedida durante um curso na Universidade Columbia, em Nova York, feito pela Comunitas, organização social de São Paulo que reuniu lideranças públicas brasileiras para debater soluções aos problemas de segurança pública.
Com um olhar para o futuro, Cavaliere afirmou que a gestão municipal ainda tem metas ambiciosas. Ele também comentou o impacto das ações já realizadas desde 2021, quando, segundo ele, “a cidade foi recebida destruída, com BRTs sucateados e clínicas da família fechadas.”
Sobre as eleições de 2026 e uma possível candidatura em 2027, o vice-prefeito reafirmou seu compromisso em apoiar Eduardo Paes até o fim do mandato, garantindo que o Rio siga como referência em gestão pública eficiente.
Leia a entrevista a seguir.
Na eleição de 2024 à prefeitura do Rio de Janeiro, o tema segurança pública dominou o debate. O que está faltando para o Rio ser definitivamente uma cidade segura para moradores e turistas?
Durante a eleição de 2024, vimos o tema da segurança pública ganhar destaque, especialmente por parte do governador do estado e de seu principal candidato. O discurso parecia prometer soluções rápidas para problemas graves, como o domínio territorial por facções criminosas, mas falamos na campanha que isso era um estelionato eleitoral. Essas questões são responsabilidade direta do estado, que controla as polícias militar e civil.
No entanto, em áreas que são da nossa competência, temos dado resultados concretos. Desde 2021, a frequência do BRT no Rio de Janeiro aumentou significativamente, passando de 120 mil passageiros por dia, no início da gestão, para mais de 500 mil em 2024, graças à recuperação do sistema e à implementação de programas como o BRT Seguro.
O BRT Seguro, por exemplo, reduziu em quase 100% as ocorrências de vandalismo neste meio de transporte em três anos. Em 2024, criamos a Central de Inteligência e Vigilância, a Civitas, que já ajudou em mais de 300 casos investigados pela Polícia Civil, resultando em diversas prisões. Nosso objetivo é ampliar esse sistema e garantir a sensação de que quem comete crimes no Rio está sendo monitorado.
Em eventos de grande porte, como o Réveillon e o show da Madonna, em maio de 2024, a prefeitura mostrou sua capacidade de garantir a segurança e a ordem pública. No show da Madonna, a integração com o governo estadual foi essencial para uma operação eficiente, com revista, controle e policiamento ostensivo, o que permitiu que o evento ocorresse com tranquilidade. O mesmo aconteceu no último Réveillon, em que a operação bem planejada assegurou que cariocas e turistas aproveitassem a festa com segurança.
Essa coordenação e organização são fundamentais para atender à expectativa da população, que quer paz e tranquilidade, seja nas praias, nas ruas ou nos grandes eventos da cidade.
Ainda assim, problemas persistem, como arrastões em praias e tiroteios em vias expressas. Como lidar com eles?
Para situações sazonais, temos a Operação Verão, feita em parceria com o governo estadual. Ela inclui presença policial e fiscalização para garantir que as pessoas possam frequentar esses espaços com segurança.
Quanto a tiroteios em áreas como a Avenida Brasil e a Linha Vermelha, precisamos lembrar que o comando das polícias é responsabilidade do governo estadual. A prefeitura faz sua parte nos grandes eventos, garantindo ordem pública e cobrando ações mais efetivas do estado.
Pensando nos próximos quatro anos, quais são os legados que a prefeitura deseja deixar?
Ainda estamos na fase de diagnóstico, avaliando os resultados do planejamento estratégico de 2021-2024. O prefeito Eduardo Paes tem grandes ambições para o futuro. Já conseguimos revitalizar BRTs, clínicas da família e o Super Centro Carioca de Saúde, que é hoje o maior equipamento municipal de saúde pública do Brasil.
Num tema com tantas ramificações, como o da segurança pública, qual é a sua visão sobre o papel de cada esfera de governo nesse tema?
É essencial que os governos assumam suas responsabilidades na segurança pública. No Brasil, temos uma divisão de atribuições diferente da dos Estados Unidos, por exemplo. O governo federal precisa atuar como articulador.
Os estados são os protagonistas, ou pelo menos deveriam ser, enquanto os municípios, especialmente grandes prefeituras como a do Rio, também têm seu papel. Mas o crime organizado, com facções criminosas, demanda uma coordenação mais forte do governo federal.
A proposta da PEC sobre segurança pública é um passo importante, apesar das controvérsias naturais do processo político. Ela sinaliza que o governo federal está disposto a assumir seu papel. O presidente Lula e o ministro Flávio Dino deram um recado claro sobre a necessidade dessa coordenação.
Como você avalia a proposta recente de uma PEC para a segurança pública e o que falta para que propostas como essa avancem?
A iniciativa do governo federal é fundamental. Pela primeira vez, temos uma sinalização clara de que a segurança pública será tratada como prioridade nacional. Historicamente, o Brasil só teve um Ministério da Segurança Pública, no governo Michel Temer.
O sistema único de segurança pública proposto pela PEC é crucial porque transforma o tema em matéria constitucional. Isso significa investimentos do governo federal com diretrizes claras: o que estados e municípios devem fazer e como cada um pode contribuir.
No Brasil, políticas públicas que funcionaram – como a atenção básica na saúde e a universalização da educação – tiveram forte coordenação do governo federal. O mesmo precisa acontecer na segurança pública.
Por que há resistência, por parte de alguns governadores, em relação a essa proposta?
A resistência em relação à proposta acontece porque ainda falta consenso sobre segurança pública no Brasil. Enquanto áreas como saúde e educação avançaram com políticas nacionais claras e diagnósticos mais robustos, a segurança pública ainda é uma área onde há dificuldade maior de produzir consciência e um diagnóstico comum.
O debate público é, naturalmente, o espaço de disputa política e de discordâncias, mas é nele que precisamos construir consensos. No entanto, produzir consenso no espaço público no Brasil tem sido uma das coisas mais difíceis nos últimos anos.
A segurança pública também é uma área onde as responsabilidades estão divididas entre os entes federativos, o que aumenta a complexidade. Os estados têm um papel mais protagonista, especialmente por conta das polícias militares e civis, mas é necessário que o governo federal estabeleça diretrizes claras e coordene os esforços.
Apesar das resistências, há um consenso crescente na sociedade de que a segurança pública é o tema mais urgente a ser enfrentado pelos governos, o que torna ainda mais importante o avanço dessa discussão.
Sobre 2026, o prefeito Eduardo Paes é visto como um nome forte para o governo do estado do Rio de Janeiro. Podemos esperar um governo Cavaliere na prefeitura em 2027?
Meu papel é ser vice-prefeito e ajudar Eduardo Paes a cumprir integralmente seu mandato. Pegamos a cidade destruída em 2021, com BRTs sucateados, clínicas da família fechadas e serviços essenciais praticamente paralisados. Conseguimos reverter esse cenário, e agora a população enxerga os resultados desse trabalho: BRTs funcionando, clínicas abertas e o Super Centro Carioca de Saúde se tornando referência no país.
A continuidade desse projeto foi uma escolha clara da população, que vê em Eduardo Paes uma liderança confiável e, a partir de 2025, ele se tornará o prefeito mais longevo da história do Rio. Essa estabilidade é essencial para consolidar os avanços e seguir com metas ainda mais ambiciosas para os próximos quatro anos.
O PSD, como partido, está preparado para debater o futuro do estado e do país, com quadros qualificados e propostas sólidas. Mas meu foco está no trabalho conjunto com Eduardo Paes. Nosso compromisso é garantir que a prefeitura continue entregando resultados e que o Rio de Janeiro seja referência em gestão pública eficiente.