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Catito Peres: do Bar Lagoa ao governo do Rio?

Fã de Brizola e ex-ministro de Itamar Franco, o empresário dono de boate e restaurantes afirma vai “recuperar a alma” do Rio. Ele é pré-candidato pelo PDT

Rio de Janeiro: "Sofro da doença que todo carioca sofre atualmente: de indignação", diz o empresário Catito Peres (Dabldy/Thinkstock)

Rio de Janeiro: "Sofro da doença que todo carioca sofre atualmente: de indignação", diz o empresário Catito Peres (Dabldy/Thinkstock)

EH

EXAME Hoje

Publicado em 3 de outubro de 2017 às 18h33.

Última atualização em 3 de outubro de 2017 às 18h46.

Se o Rio de Janeiro está precisando recuperar sua alegria, o empresário Omar Peres, dono de bares e boates, garante ser a solução. Ele é o mais novo pré-candidato ao governo do Rio pelo PDT de Ciro Gomes, um dos padrinhos do seu retorno à política.

Peres, conhecido como “Catito”, não é exatamente um novato na política. Já concorreu a quatro pleitos. Nunca venceu uma eleição, mas sempre “fez barulho”: em 2006, pelo mesmo PDT, recebeu quase 400.000 votos em sua candidatura ao Senado por Minas Gerais, contando com apenas 26 segundos de tempo de televisão. “Nunca tive militância ou apoio financeiro. Sempre fui um franco atirador. Essa história de ser candidato ao governo do Rio começou com uma marolinha e virou um caminho sem volta. Sofro da doença que todo carioca sofre atualmente: de indignação”, afirma Catito.

Ciro Gomes, pré-candidato à presidência, não está de olho apenas num bom cabo eleitoral no Rio. Na onda na ascensão de políticos como João Doria, ele quer um candidato no Estado que também tenha um perfil de “gestor” e que não esteja envolvido nos recentes escândalos de corrupção.

Dono de dois ícones da gastronomia local – o restaurante La Fiorentina e do Bar Lagoa –, ambos com fila na porta (sucesso que ele credita aos preços modestos, se comparados a de seus principais concorrentes) –, Catito reabriu, no início de agosto, em parceria com Ricardo Amaral, a lendária boate Hippopotamus, que estava fechada desde 2001. Sediada em Ipanema, com investimento de 8 milhões de dólares, a boate cobra anuidade de 6.000 reais para cada sócio – as adesões, segundo Catito, estão no ritmo esperado pela dupla de investidores.

“O meu lema é ‘O que mora na alma não morre”. Os meus empreendimentos, que são todos icônicos, vão muito bem no ponto de vista de mercado, mesmo com o país vivendo uma recessão profunda”, afirma Catito, também dono da rede de padarias Guerin. Ele adquiriu recentemente o Piantella, um dos restaurantes mais tradicionais de Brasília, ponto de encontro de políticos e advogados. Ele aposta na tríade que ele batizou de “BBB”, Bom, Bonito e Barato. “No Bar Lagoa e no La Fiorentina, você come bem gastando 50 reais por pessoa. Está explicado o meu sucesso em plena crise”.

Catito está de olho nas urnas e nos próximos empreendimentos. Ele estava muito perto de fechar a compra do Jornal do Brasil. Fundado em 1891, um dos maiores importantes veículos de comunicação do país, sobretudo de 1950 a 1980, o JB perdeu a força após anos de crise financeira. A marca pertence ao empresário Nelson Tanure, que teria se irritado pelo fato de Catito ter anunciado a compra da marca antes que o contrato fosse assinado. Ainda há divergências sobre os valores da transação.

Catito diz que continua conversando com Tanure. “Ele sabe que eu não desisti. Eu sou movido a desafios. E o JB é outro empreendimento ligado à alma carioca. Se depender de mim, não vai morrer nunca”, afirma o empresário, que já tem uma equipe na cabeça e um plano de expansão para a marca. “Investir na criação de um jornal impresso seria suicídio. Eu estou de olho é no poder da marca e, para que ela volte a ter essa força, é preciso estabelecer parcerias”, diz o empresário, que já teria aberto conversas com uma agência de notícias internacional e com o diário esportivo Lance. “Será um jornal de banca, voltado pro Rio, e com sucursal em Brasília”.

De Brizola a Itamar

O empresário também está de olho em outro empreendimento que fez sucesso durante muitos anos até enfrentar uma grave crise financeira e fechar as portas em 2010: o Canecão, que por muitos anos foi o espaço de shows mais tradicional da cidade. A casa pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que começa a se movimentar para reabrir o Canecão em 2020, data que marca o centenário da universidade.

O plano da reitoria é construir um prédio comercial no local, tendo como contrapartida a reforma da casa de espetáculos e abertura de um centro cultural voltado para os alunos. A UFRJ procura investidores. Catito já se apresentou. “Tenho verdadeira paixão pelo Canecão, um patrimônio do Rio. Estou acompanhando muito de perto todo esse processo”.

O curioso é que Catito, 60 anos, não é carioca e sim mineiro de Leopoldina (mudou-se para o Rio com cinco anos de idade) e sua história como empreendedor, sobretudo no início, não está ligada a restaurantes, casas de shows e boates. Ele ganhou fama investindo no setor naval, também recuperando empresas em crise financeira. Em 1996, no seu lance mais ousado, comprou, por um “valor quase simbólico”, o estaleiro Mauá, também passando por dificuldades na época. Seis anos depois, o vendeu por 30 milhões de dólares. “Foi uma grande sacada. Eu sabia que o Fernando Henrique (Cardoso, então presidente) preparava a abertura para a exploração de petróleo no Brasil por empresas estrangeiras”, afirma Catito, que presidiu no fim dos anos 1990 o Sindicato Nacional da Indústria Naval Brasileira (Sinaval).

Ciro Gomes terá dificuldade para apresentar Catito como um novo nome da política brasileira. Além de ter disputado quatro eleições, o empresário nasceu em berço político – seu pai, morto precocemente, aos 33 anos, candidatou-se a prefeito de Leopoldina. O próprio Catito foi ministro da Indústria e Comércio de Minas durante o governo Itamar Franco (1999-2003). Ele também foi muito próximo de Aécio Neves (namorou inclusive a irmã do senador tucano, Andrea Neves) –, com quem hoje se diz rompido. O empresário, porém, diz não só representar uma nova maneira de pensar o Brasil, como faz questão de dissociar sua imagem a dos novos “gestores”, como João Doria, que pregam uma menor participação do Estado e apostam nas privatizações.

“Não sei se essas privatizações foram boas para o país. Eles só transferiram o monopólio, que estava na mão do Estado, para o setor privado”, afirma. Catito quer reviver o plano de educação colocado em marcha pelo ex-governador do Rio Leonel Brizola, um de seus gurus. “Goste ou não de Brizola, é preciso reconhecer que o seu projeto para a educação é até hoje imbatível. Ele colocou 500.000 crianças estudando em tempo integral. Fez isso sem quebrar as finanças do Estado”, afirma.

E como repetir o feito com o Rio, agora sim, quebrado? “Eu vou conseguir. Eu vou recuperar a alma desse lugar, pode me cobrar mais pra frente”, diz. Eis um desafio realmente

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