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Caso Marielle: promotoras da força-tarefa deixam as investigações

Motivo teria sido 'interferência externa' no MP, porque promotoria e DH foram alijados da negociação de delação da viúva de Adriano da Nóbrega

Marielle (Emmanuele Contini/NurPhoto//Getty Images)

Marielle (Emmanuele Contini/NurPhoto//Getty Images)

AO

Agência O Globo

Publicado em 10 de julho de 2021 às 18h28.

Última atualização em 10 de julho de 2021 às 18h28.

As promotoras Simone Sibílio e Leticia Emile deixaram a Força-Tarefa do Caso Marielle. A informação consta do boletim interno do Ministério Público do Rio (MPRJ) que deverá ser publicado nesta segunda-feira. As duas foram exoneradas a pedido. Fontes da instituição sustentam que as duas entregaram os cargos devido ao risco de interferências externas comprometerem as investigações. O procurador-geral de Justiça, Luciano Mattos, não quis comentar a saída das promotoras do caso. Desde setembro de 2018, ambas estavam à frente do inquérito sobre os assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. O crime ocorreu em 14 de março daquele ano.

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Há cerca de um mês, a Polícia Civil do Rio apresentou ao procurador-geral de Justiça a viúva do ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, Júlia Lotufo, para fazer uma delação premiada em troca de benefícios como a revogação da prisão — atualmente ela se encontra presa em casa e fazendo uso de tornozeleira eletrônica. Ao assinar o termo de colaboração, que ainda não foi homologado, Júlia estaria disposta a denunciar o submundo do crime organizado, principalmente envolvendo a contravenção, a qual Adriano pertencia. O ex-PM foi morto na Bahia, em fevereiro do ano passado, de acordo com a polícia daquele estado, num confronto.

A viúva de Adriano também teria pistas sobre os mandantes do Caso Marielle, razão pela qual teria sido apresentada às promotoras da força-tarefa pela delegada da Coordenadoria de Investigação de Agentes com Foto (Ciaf) da Polícia Civil, Ana Paula Costa Marques. No meio do processo, porém, houve um desacerto. De acordo com as fontes do MPRJ, as promotoras da Força-Tarefa do Caso Marielle e o titular da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), Moysés Santana, foram alijados da negociação sobre a colaboração de Júlia. O processo foi redirecionado ao promotor que atua na 1ª Vara Especializada Criminal, onde a viúva do ex-capitão responde por associação criminosa e lavagem de dinheiro, com a coordenação da delegada Ana Paula.

Sem conhecer detalhes do processo do Caso Marielle, que já possui mais de 40 volumes, o promotor da 1ª Vara Especializada teria dificuldade de confrontar as informações trazidas por Júlia Lotufo com as peças da investigação, para verificar a veracidade do depoimento da viúva de Adriano. Também pesou para a crise o não envolvimento da DH, que conduz a investigação sobre as mortes de Marielle e Anderson desde o primeiro momento, enquanto a Ciaf é especializada em crimes de atribuição originária do procurador-geral de Justiça — geralmente, casos chamados de crime do colarinho branco, com conotação política.

Foi a Ciaf, por exemplo, que investigou o ex-prefeito Marcelo Crivella, no caso que ficou conhecido como QG da Propina. Crivella foi acusado, enquanto ainda era prefeito, no fim do passado, de comandar um esquema de liberação de pagamentos a credores do executivo municipal e direcionar licitações em troca de vantagens indevidas.

Júlia teria acertado também que daria informações sobre outros assassinatos ocorridos ao longo dos últimos 20 anos no Rio, sem que fossem elucidados. Sibilio e Emile foram as responsáveis, junto com a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), pela prisão do sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa e do ex-PM Élcio de Queiroz. Atualmente, as promotoras estavam trabalhando no caso para chegar ao mandante do crime.

Em janeiro deste ano, Sibílio e Emile chegaram a entregar seus casos quando estavam no Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). A primeira promotora era coordenadora do órgão. Ela, Emile e equipe conseguiram não só prender Lessa, como avançar em outras dezenas de homicídios que estavam sem autoria. Foi na gestão de Sibílio que as investigações chegaram ao ex-capitão do Bope como chefe das milícias de Rio das Pedras e da Muzema, em janeiro de 2018, além de comandar um grupo de matadores de aluguel. A operação contra os milicianos das duas favelas ganhou o nome de Intocáveis, justamente porque ninguém investigava o bando de Adriano da Nóbrega. A partir dessa ação, Adriano passou a viver foragido da Justiça, até ser morto em 9 de fevereiro do ano passado, na Bahia.

Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça, mãe e ex-mulher de Adriano da Nóbrega, respectivamente, são acusadas de fazer parte do esquema das rachadinhas, quando estavam lotadas no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro — atualmente senador e sem partido). A mãe do miliciano ficou lotada por lá de maio de 2016 a novembro de 2018. Já Danielle foi nomeada em setembro de 2007 e ficou até novembro de 2018.

A saída de Simone Sibílio e Letícia Emile ocorre no mesmo momento em que a Polícia Civil do Rio substituiu o delegado Moyses Santana por Henrique Damasceno à frente da DH Capital. Damasceno foi responsável pela resolução do caso do menino Henry Borel, de 4 anos, assassinado na madrugada de 8 de março no apartamento em que vivia com a mãe, Monique Medeiros, e com o padrasto, o ex-vereador Jairo de Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho. No mês passado, Jairinho teve o mandato cassado pela Câmara dos Vereadores, por ser réu no Caso Henry. A cassação foi histórica, porque nunca havia ocorrido isso antes.

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