Campanha do governo pela reforma ataca vantagens de servidores
Governo mudou o foco da publicidade após observar que boa parte da população defende igualdade de regras entre a iniciativa privada e o serviço público
Reuters
Publicado em 2 de fevereiro de 2018 às 09h20.
Última atualização em 2 de fevereiro de 2018 às 11h02.
Brasília - O governo federal estreará na próxima semana uma nova campanha de vídeos nas redes sociais em defesa da reforma da Previdência com foco no que chama de privilégios do setor público e a diferença no teto das aposentadorias de servidores e aposentados pela iniciativa privada.
Em um dos vídeos, são comparados dois personagens de 60 anos, com o mesmo nome e a mesma profissão, ambos advogados. Um, diz o locutor, já está aposentado, enquanto o outro ainda terá que esperar cinco anos.
Um, "alto funcionário público", se aposentou com salário integral de 35 mil reais, enquanto o da iniciativa privada terá o teto da Previdência, de 5.645 reais.
Um segundo vídeo imita uma conhecida propaganda de um posto de combustíveis. Uma mulher para o carro e pergunta a um homem na beira da estrada onde se encontra "gente se aposentando com 30 mil reais", ou "aposentados com 50 anos", e ouve que no posto da Previdência. Mas quando pergunta onde encontrar uma Previdência justa, a resposta é "aí só com a reforma da Previdência".
O governo identificou em pesquisas recentes que, apesar da maioria da população ainda não ser favorável à reforma, uma boa parte defende igualdade de regras entre a iniciativa privada e o serviço público, e tem batido no que chama de "privilégios".
Os novos vídeos, que serão divulgados nas redes sociais a partir da próxima semana, usam o slogan "Reforma da Previdência. Contra os privilégios, a favor da igualdade".
A reforma, no entanto, mexe apenas com a idade mínima de aposentadoria, que passaria a ser a mesmo da iniciativa privada, de 62 anos para mulheres e 65 anos para homens, já que desde 2013 os servidores já se aposentam pelo teto do regime geral da Previdência.
Neste ano foi criado o fundo de previdência complementar dos servidores, para o qual quem entrou depois desse ano tem que contribuir para garantir a aposentadoria acima do teto. A reforma não mexe em quem entrou antes desse período.
Ainda assim, o governo aposta no destaque das diferençasentre servidores e iniciativa privada para conseguir uma boa vontade da população com as mudanças, que poderia se refletir entre os deputados.
A estratégia do governo de antagonizar os servidores públicos, no entanto, não tem agradado a alguns deputados. Na quinta-feira, o vice-líder do governo, Rogério Rosso (PSD-DF) - que tem sua base entre servidores públicos -- apresentou ao presidente Michel Temer algumas propostas para estender o período de transição para idade mínima dos servidores e tentar facilitar a aprovação.
Rosso, no entanto, criticou a estratégia do governo. "Fiz apelo para o governo parar de generalizar que todos os servidores são privilegiados, isso não é verdade", disse Rosso."Falei dessa campanha de colocar brasileiro contra brasileiro".
O governo quer colocar a reforma da Previdência em votação este mês. No entanto, a contagem mais otimista aponta apenas 270 votos favoráveis, quando são necessários um mínimo de 308.