Economia

Abr/19: Caminhoneiros ameaçam iniciar nova greve em 29 de abril

Wanderlei Alves, conhecido como Dedéco, disse que "não tem mais condições" de a categoria continuar a trabalhar após aumento de R$ 0,10 no diesel

Em 2018, greve dos caminhoneiros contra a então política de preços da Petrobras fez PIB crescer menos e inflação do mês de maio disparar (Rodolfo Buhrer/Reuters)

Em 2018, greve dos caminhoneiros contra a então política de preços da Petrobras fez PIB crescer menos e inflação do mês de maio disparar (Rodolfo Buhrer/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 18 de abril de 2019 às 18h43.

Última atualização em 24 de maio de 2019 às 10h33.

São Paulo — Um dos representantes dos caminhoneiros Wanderlei Alves, conhecido como Dedéco, disse nesta quinta-feira, 17, que a categoria iniciará uma paralisação a partir da meia-noite do dia 29 de abril.

"A maioria dos grupos de caminhoneiros já decidiu pelo dia 29 de abril, tem uns ou outros que acham que é pouco tempo, que devemos esperar ainda, mas a maioria concorda sobre o dia 29 porque chegamos num ponto que não tem mais condições de trabalhar", disse.

"Isso não foi uma decisão só minha, foi decidido em grupo por várias lideranças de caminhoneiros", ressaltou. Ele acredita que, a exemplo do que ocorreu no ano passado, o movimento deve atingir o Brasil inteiro, crescendo à medida que os dias passam.

Segundo ele, os caminhoneiros decidiram antecipar a paralisação, anteriormente prevista para 21 de maio, em virtude do novo aumento do diesel. "Com esse aumento do óleo diesel não tem mais condição", afirmou. "Os caminhoneiros estão cientes de que, dentro de 14, 15 ou 16 dias vai ter outro aumento do diesel, e esse aumento de R$ 0,10/litro já afetou em R$ 1 mil o lucro mensal, e o frete continua o mesmo."

A Petrobras informou na quarta-feira que decidiu aumentar o preço do diesel em R$ 0,10/litro, o que implica uma variação mínima de 4,518% e máxima de 5,147%, nos seus 35 pontos de venda no Brasil. O aumento começou a vigorar nesta quinta.

Para Alves, o dispositivo da lei do piso mínimo de transporte rodoviário de carga que associa o incremento do frete ao aumento do diesel não adianta porque a tabela de frete não está sendo cumprida. "Se estivessem pagando o piso mínimo, o aumento do óleo diesel não iria nos afetar. Mas não estão cumprindo", disse. A lei indica que, sempre que ocorrer oscilação no preço do óleo diesel no mercado nacional superior a 10%, para mais ou para menos, nova norma com pisos mínimos deverá ser publicada pela Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT), considerando a variação no preço do combustível.

O representante defende a melhora na fiscalização do cumprimento do piso mínimo do transporte rodoviário. Ele citou que o governo vai testar no Espírito Santo o documento de transporte eletrônico, quando poderia fazê-lo no Brasil inteiro. "Isso obrigaria a transportadora a pagar piso mínimo."

Segundo Alves, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, interrompeu o diálogo com parte dos caminhoneiros. "Somos uma espécie de linha dura da categoria e exigimos nossos direitos. Não vemos sentido em pedir esmola para quem elegemos. Brasília foi feita para atender aos anseios da população. E é esse grupo linha dura que o governo quer isolar."

Segundo ele, o governo está optando por dialogar com grupos que não representam os reais interesses dos caminhoneiros. "Estamos aqui abertos ao diálogo e, se o governo atender à nossa expectativa, cancelamos a paralisação. Está na mão deles. Por isso demos o nome da paralisação de Onyx Lorenzoni."

A mobilização, assim como na greve do ano passado, está sendo feita por grupos de WhatsApp fechados apenas para caminhoneiros, conforme o representante. Segundo Alves, o efeito da greve na economia poderia ser evitado. "O que eu vejo é o seguinte: o prejuízo da paralisação da economia é o valor que o governo poderia desembolsar para oferecer subsídio no diesel até que o piso mínimo do frete funcionasse para valer." Alves reforçou ainda que a categoria espera uma resposta do governo. "Bolsonaro falou com os índios, será que vai conversar com a gente?"

Comando Nacional do Transporte acha que é cedo

Apesar da insatisfação com a alta no valor do óleo diesel, o líder do Comando Nacional do Transporte (CNT), Ivar Schmidt, acredita que é cedo para uma paralisação, ao contrário de "Dedéco".

"Obviamente, nós não gostamos de mais despesas, mas existe a percepção de que o governo atual é muito recente e ainda não teve tempo de trazer uma solução. Mas se tiver mais dois reajustes já seria motivo para uma nova greve", afirma o representante.

Na noite de quarta, a Petrobras informou ao mercado a decisão de aumentar o preço do diesel em R$ 0,10 por litro, o que implica uma variação mínima de 4,518% e máxima de 5,147%, nos seus 35 pontos de venda no Brasil. Este aumento passou a vigorar a partir de hoje.

Segundo Schmidt, novos ajustes no valor do combustível têm potencial para desencadear uma paralisação nacional, na mesma dimensão que a ocorrida no fim de maio de 2018 e, novamente, com potencial para prejudicar o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do País. "Não tenho a menor dúvida de que pode vir um novo efeito negativo para o agronegócio e para o PIB", enfatiza.

Com base nessas possíveis consequências, o líder da CNT alerta que o governo federal precisa trazer uma solução no menor tempo possível. "Até agora, não recebemos uma receita certa para conter o problema", diz. A interlocução entre a categoria e o poder público está sendo feita por meio do Fórum Permanente do Transporte Rodoviário de Cargas.

Uma das alternativas defendidas pelo comando para minimizar o problema com os fretes rodoviários é a redução e a fiscalização das jornadas de trabalho dos caminhoneiros, que, de acordo com Schmidt, hoje chegam a trabalhar 16 horas corridas.

Ele conta que desde 2012 há uma lei que reduz a carga horária para oito horas de expediente. No entanto, "grandes corporações de setores como o agronegócio fazem lobby para que essa lei não seja cumprida e que se adote apenas a estratégia da oferta e da demanda".

Na visão da CNT, a redução na jornada de trabalho aumentaria o número de caminhões nas estradas, mas regularia a oferta de transporte e ajudaria a equalizar o valor dos fretes o que, por outro lado, poderia elevar os custos de logística para as empresas. "Em vez de terem um único caminhão rodando por muito tempo, as companhias precisariam de mais um caminhão para transportar a mesma quantidade de produto e eles não querem isso", explica. Também para o cumprimento dessa medida o governo precisaria construir pontos de parada para os caminhoneiros, algo que, desde 2012, "foi prometido e nunca aconteceu".

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