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Brasil perdeu 15% da superfície de água em 30 anos; veja números

Dados, revelados pelo projeto MapBiomas, indica tendência preocupante: obras de represamento criadas para aumentar o acesso a recursos hídricos não compensaram as perdas ocorridas nos cursos d’água naturais

 (Paulo Fridman/Corbis/Getty Images)

(Paulo Fridman/Corbis/Getty Images)

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Agência O Globo

Publicado em 23 de agosto de 2021 às 07h50.

Última atualização em 23 de agosto de 2021 às 23h44.

Entre 1991 e 2020, a área de superfície de rios, lagos e outros corpos abertos de água doce se reduziu em média em 15,7% no Brasil. O número, revelado neste domingo pelo projeto MapBiomas, indica tendência preocupante: obras de represamento criadas para aumentar o acesso a recursos hídricos não compensaram as perdas ocorridas nos cursos d’água naturais.

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Nas três últimas décadas, a cobertura de 19,7 milhões de hectares desses corpos úmidos caiu para 16,6 milhões. As perdas aconteceram em todas as regiões, mas, somadas, equivalem a uma vez e meia toda a área de água doce do Nordeste.

Esse número, que saiu de imagens de satélite do programa Landsat, da Nasa, sobre o território brasileiro, compõe uma série de mapeamentos que cientistas ligados a ONGs e instituições de pesquisas no projeto vêm revelando nas últimas semanas.

Com detalhes sem precedentes, a equipe do MapBiomas produziu mapas mensais de todos os corpos de água doce do Brasil na forma de imagens de 9 bilhões de pixels em resolução de 30 metros por 30 metros. Isso foi feito mensalmente para toda a série histórica do Landsat, que se iniciou em 1985.

Os cinco primeiros anos do período são os únicos em que aparece uma tendência de aumento na área coberta por água no país. Entre um ano e outro, os números oscilam, mas de 1991 em diante, há uma tendência clara de ressecamento do território nacional.

Segundo o engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, a estimativa de área de água por satélite não é uma medida direta da quantidade do líquido disponível do país, porque deixa de fora os lençóis freáticos e não considera a profundidade de reservatórios. Porém, como o Brasil é um país de relevo pouco acidentado, as imagens são um bom indicativo do estresse hídrico que atravessamos.

— O que a gente enxerga na série é um indicador forte de perda de água — diz Azevedo. — E o que assusta é a tendência de longo prazo. Cada vez que temos um ano de seca mais forte, o país pode se recuperar um pouco depois, mas parece que não consegue voltar ao patamar anterior.

Essa tendência de perda vale para oito de 12 regiões hidrográficas do país, aponta o MapBiomas, que a partir de hoje torna aberto e gratuito o acesso a seus dados.

Drama pantaneiro

O bioma que mais sofreu perdas em termos proporcionais foi o Pantanal, onde a superfície média de água caiu de 1,6 milhão para 0,6 milhão de hectares de 1991 a 2020, uma redução de 70%.

Caracterizado essencialmente por extensas regiões de alagamento natural, esse ecossistema sofreu com secas nos últimos anos. O problema está relacionado ao desmatamento da Amazônia — que alimenta com chuvas o bioma vizinho —, à mudança climática global, que compromete o regime pluvial local, e também a alterações locais em cursos d’ água, como pequenas barragens.

Nenhum bioma do Brasil tem mais água do que possuía há 30 anos. A Amazônia, que concentra o maior volume de água do país, reduziu sua cobertura hídrica de 11,6 milhões para 10 milhões de hectares, uma perda de 14%, sobretudo na bacia do Rio Negro.

A Caatinga, entre 2004 e 2009, chegou a ter um ganho de 13% de área hídrica aberta, com a construção de mais estruturas para captação de água. Mas secas nos anos seguintes provocaram uma queda de 30%, e hoje o bioma perdeu, em relação a 1991, 15% da cobertura de água.

Os cientistas do projeto afirmam que boa parte dos pontos de redução mais acentuada está em região de fronteira agrícola, o que sugere o aumento do consumo de água pelo agronegócio. Além disso, represas pequenas de fazendas, que são difíceis de ver no mapa nacional mas existem em grande número, provocam assoreamento e fragmentação da rede de drenagem, reduzindo a capacidade das bacias de reter umidade.

Para se certificar de que os dados de tendência de longo prazo não fossem perturbados por eventuais períodos de seca sazonal, o projeto computou imagens da cobertura de água do país mês a mês durante os 36 anos da coleção do Landsat. Mesmo levando em conta a oscilação natural, a perspectiva de longo prazo é clara; e o diagnóstico dos cientistas, detalhado.

Mapa estratégico

“Mudanças no uso e cobertura da terra, construção de barragens e de hidrelétricas, poluição e uso excessivo dos recursos hídricos para a produção de bens e serviços alteraram a qualidade e disponibilidade da água em todos os biomas brasileiros”, escreveu Carlos Souza Jr., da ONG de Pesquisa Imazon, em comunicado do projeto MapBiomas. “Se não implantarmos a gestão e uso sustentável dos recursos hídricos considerando as diferentes características regionais e os efeitos interconectados com o uso da terra e as mudanças climáticas, será impossível alcançar as metas de desenvolvimento sustentável”, completou.

Quando se observa o histórico de 30 anos da água no mapa do Brasil, as mudanças que saltam aos olhos são as poucas grandes barragens produzidas nesse período. A perda de água em cursos naturais, apesar de mais tênue, permeia quase todas as grandes bacias do país.

Por ser de importância estratégica para o planejamento energético do país, a nova ferramenta do MapBiomas levou em consideração recomendações da Agência Nacional de Águas (ANA) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Com poder de mostrar uma tendência de longo prazo, os dados do MapBiomas são uma sugestão muito forte de que a atual crise hídrica que acomete o país não é um problema isolado no tempo e se tornará mais frequente.

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