Bares e restaurantes de portas abertas no Rio, mas com mesas ainda vazias
Diante das incertezas com a pandemia, um em cada quatro estabelecimentos decide manter apenas o delivery
Agência O Globo
Publicado em 13 de julho de 2020 às 11h23.
Última atualização em 13 de julho de 2020 às 11h26.
Uma semana após a reabertura parcial dos bares, restaurantes e lanchonetes ser sancionada pela Prefeitura do Rio , os estabelecimentos pela cidade estão com dificuldades para completar o salão que, mesmo reduzido a apenas 50% da capacidade, tem apresentado frequência diária abaixo dos 20%. Diante desse cenário, ainda de incertezas com a pandemia do novo coronavírus, um em cada quatro estabelecimentos do setor decidiu ainda não receber clientes, mantendo apenas o serviço de entrega ativo.
Um dos símbolos da boemia carioca, o Café Lamas completou 146 anos em abril com delivery de vento em popa. Mas a frequência na casa ainda não voltou ao antigo normal: varia entre 10 e 12 pessoas por dia.
— O pessoal ainda está meio receoso. Fechávamos às 2 horas da manhã, agora encerramos o serviço às 23h — disse o gerente Wilson Campelo.
No último sábado, o restaurante Adriano, em Botafogo, que geralmente fica com salão lotado e fila na porta na hora do almoço, tinha apenas poucas pessoas sentadas. A casa reduziu para apenas 50 lugares neste período, mas atende em média 12 clientes.
— Nós nunca chegamos nem perto do limite ainda. Eu esperava que, com a reabertura parcial, isso fosse ficar um pouquinho melhor, mas tem mais gente levando a refeição para viagem do que ficando no salão — disse Fátima Miranda, que comanda o restaurante com o marido.
No Bar do Elias, no Flamengo, o ritmo de almoço frenético de 600 refeições por dia, registrado antes da pandemia, está longe de ser alcançado. Atualmente, o número chega em torno de 100, mas com o reforço do delivery,
— O público caiu muito e, à noite, praticamente não tem gente aqui. Com certeza, vai demorar um pouco para chegar no ideal que o restaurante poderia atender nesta época — disse o gerente Carlos Roberto Oliveira.
Aberta em Copacabana desde 1957, a Adega Pérola costumava lotar depois das 20h. Hoje, este é o horário em que o bar fica mais vazio. A casa, que recebia 200 pessoas por dia, atualmente não ultrapassa de 40 clientes.
— E está assim porque a gente quase não trabalha com entrega. Só no entorno, com os próprios garçons, para não deixar os nossos clientes sem atendimento — disse o gerente Júnior Souza.
No Estácio, o restaurante Costelas preferiu manter, neste momento, apenas as entregas em casa. Para o proprietário Rodrigo Mendes, o retorno ainda não compensa abrir nem a parte externa, na Rua Sampaio Ferraz.
— Nós recebemos cerca de 10 ligações por dia de gente perguntando se estamos com a área aberta, mas acreditamos que o momento é de introspecção por mais que tenhamos uma calçada a nosso favor — disse Rodrigo.
Em Benfica, o Bar Velho Adonis reduziu de 120 para 45 lugares. Mas, durante a semana, a média fica em torno de seis pessoas por dia. No fim de semana, o administrador João Campos, que toca a casa com o irmão Pedro, percebeu padrão diferente no ‘novo’ normal:
— Descobri que o movimento que antes era maior na hora do almoço começa um pouco mais tarde, após 16h. As pessoas acham que, mais cedo, o bar estaria cheio e preferem fugir da aglomeração.
Recuperação só em 2022
Segundo o presidente do Sindicato de Bares e Restaurantes (SindRio), Fernando Blower, já se previa retorno gradual mais lento nessa primeira fase de reabertura. Além do medo de contágio e também do luto com o momento, a perda do poder aquisitivo da classe média reduziu a frequência de comer ou beber fora de casa. O SindRio avalia que três mil dos cerca de 10 mil bares e restaurantes da cidade irão encerrar suas atividades até o fim do ano. A previsão é que a situação só se normalize em 2022