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Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 9 de setembro de 2024 às 17h39.
Última atualização em 10 de setembro de 2024 às 15h08.
A seca e as queimadas que atingem o Brasil, sobretudo o Sul e o Centro-Oeste do país, têm atrasado o plantio da soja nos estados do Paraná e Mato Grosso, principais regiões produtoras da commodity.
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No Paraná, a semeadura do grão deveria ter começado em 1º de setembro, mas os trabalhos seguem parados. No Mato Grosso, com o fim do vazio sanitário no sábado, 7, período contínuo de no mínimo 90 dias em que não se pode plantar ou manter vivas plantas de soja, os produtores seguem cautelosos.
O Brasil viu um aumento de 100% nos focos de calor em 2024 em relação ao ano anterior, totalizando 159.411 focos até agora, conforme dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em comparação, no mesmo período de 2023, foram registrados 79.315 focos.
No último mês, o país teve 68.635 focos de queimadas, com o Mato Grosso liderando com 14.617 focos, seis vezes mais do que os 2.626 registrados no estado no ano passado.
Os índices de umidade no Centro-Sul do Mato Grosso estão alarmantemente baixos, com níveis abaixo de 6,5%, quando o ideal seria entre 20% e 30%. Nesse contexto, iniciar o plantio agora representa um risco significativo, mesmo com a possibilidade de chuvas futuras, afirma à EXAME Willians Bini, meteorologista e diretor da Tempo e Clima na Meteoblue.
"As temperaturas do solo também podem exceder 60ºC, o que prejudica severamente a germinação das sementes. Diante desse cenário crítico, o início do plantio de culturas como a soja se torna inviável. A recomendação é aguardar as primeiras previsões de chuvas, que devem ocorrer apenas no início da próxima primavera, para planejar a semeadura", diz o diretor.
Segundo a Meteoblue, nos próximos 15 dias, não há previsão de chuva para a região centro-leste do estado, o que significa que "os produtores devem monitorar de perto as previsões meteorológicas antes de tomar qualquer decisão".
Setembro, inclusive, deve fechar como o mês mais seco que o normal, em quase todo o Brasil. No caso do Mato Grosso, algumas regiões podem chegar a 200 dias sem chuvas. O alívio, afirma Bini, pode ser que chegue no final do mês.
Para Luiz Fernando Gutierrez, consultor e especialista no mercado de soja da Safras & Mercado, a principal preocupação do produtor agora não são as queimadas, e sim a seca neste início de plantio. De acordo com ele, a chuva é essencial para o plantio da soja, pois ajuda a manter o solo úmido, facilitando a absorção de nutrientes pelas raízes das plantas.
"Enquanto as queimadas também são uma preocupação, especialmente porque podem afetar áreas agrícolas e agravar os atrasos, a principal questão a ser monitorada neste início de temporada é a seca. Portanto, o foco deve estar na falta de chuvas e seu impacto no planejamento e na realização do plantio de soja", afirma.
Ainda é prematuro para os produtores se preocuparem com a produtividade da soja, avalia José Renato Farias, pesquisador da Embrapa Soja. De acordo com ele, os agricultores devem aguardar condições climáticas favoráveis para iniciar o plantio, uma vez que a atual seca pode comprometer o desenvolvimento das plantas, resultando em uma soja "fraca e raquítica".
"A produtividade da soja pode ser afetada porque se a planta vingar ela nasce sem vigor. Sem a quantidade de água suficiente a semente da soja diminui potencial de germinação", reitera o pesquisador.
O Brasil deve produzir 169 milhões de toneladas de soja na safra 2024/25, de acordo com a estimativa do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Além da seca, o país espera a chegada do La Niña a partir deste mês — a previsão é de que ele atue até fevereiro. O La Niña é um evento climático no qual a temperatura do Oceano Pacífico na região tropical fica abaixo da média, e esse resfriamento provoca uma série de efeitos climáticos, que incluem chuvas mais intensas na Ásia e condições mais secas em algumas áreas da América do Sul.