Prêmio negativo para soja deve se repetir em 2024 – a menos que a armazenagem avance
Bernardo Nogueira, diretor comercial da Kepler Weber, afirma que recursos para financiamento de armazéns e seguro agrícola são prioridade do setor no pós-colheita
Repórter de Agro
Publicado em 28 de novembro de 2023 às 06h09.
O gargalo da armazenagem é cada vez mais o tendão de Aquiles do agronegócio. Na safra 2022/23, ficou mais evidente, já que o volume de grãos, entre primeira e segunda safra, pressionou a capacidade estática de armazenamento, travou o escoamento e fez o prêmio para exportação da soja ficar negativo. O prêmio é calculado com base na diferença entre o preço físico praticado em determinada praça e o preço na Bolsa de Chicago. Logo, o produto físico mais ofertado, mas sem local apropriado para ser mantido, derrubou os pagamentos.
Pelos números da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil tem apenas 15% da capacidade estática nas fazendas, enquanto os Estados Unidos contam com 65%. Nos últimos dez anos, a armazenagem cresceu, em média, 2,8% ao ano, enquanto as safras avançaram 5,5% ao ano. Diante destes números, é esperado que em 2024 se repitam o caos logístico, o pico no preço de frete e o prêmio negativo.
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“O gargalo vai se repetir, porque os grãos tendem a chegar [no porto] todos de uma vez, e o gargalo está na soja. Em janeiro, fevereiro, não dá para manter o grão a céu aberto de forma alguma. Por isso, a gente diz que a armazenagem foi de algo importante para algo crítico. E isso para toda a cadeia: agricultor, cooperativa, indústria, toda a exportação”, afirma Bernardo Nogueira, diretor comercial da Kepler Weber.
Se para uns o cenário é de preocupação, para outros é o momento de o limão se tornar limonada. É o que acontece no caso da empresa, considerada a mais consolidada no país em relação à infraestrutura de armazenagem. Silos, rede elétrica, secadores e todas as instalações necessárias para guardar o grão estão na alçada da empresa brasileira. Apenas no primeiro trimestre do ano, a companhia registrou crescimento de 10% no interesse por projetos de beneficiamento e armazenagem de grãos, em relação ao mesmo período de 2022.
Sem revelar os números ao longo do ano, Nogueira afirma que a demanda se manteve aquecida. “No segundo semestre, o mercado de armazenagem está maior do que no segundo semestre de 2022, tanto em demanda de pedidos, cotações e negócios efetivados”, afirma.
De acordo com ele, a capacidade de atender a demanda do país existe, a questão é a fonte de financiamento para os projetos.
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Necessidade de recursos
O executivo da Kepler Weber explica que este é o maior ponto de discussão do setor com o poder público atualmente, sobretudo na etapa do pós-colheita. “Independentemente de governos, a gente precisa se confrontar com a realidade de que existe uma limitação de recurso público, e não dá para achar que é natural”, ele diz.
Nogueira também é vice-presidente da Câmara Setorial de Equipamentos de Armazenagem de Grãos da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e conta que os interlocutores buscam uma agenda mais estratégica de recursos.
“As duas principais discussões do setor, inclusive discutidas na Abimaq, são recurso para financiamento e contratação de seguros. A unidade de armazenamento é um bem de capital, com investimento de longo prazo. Então, como criar recursos para que isso saia do papel, a exemplo do Minha Casa, Minha Vida? Nós queremos um fundo de mercado para oferecer recurso para quem tiver interesse em investir na infraestrutura de armazenagem”, afirma.
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Este momento crítico fez a armazenagem subir na lista de prioridades do produtor, de acordo com o executivo da Kepler Weber, passando à frente de outras etapas como irrigação ou biofábrica. Isso porque ter a infraestrutura própria para guardar os grãos evita que o produtor se exponha a fretes abusivos, além de permitir o momento mais adequado de comercialização – inclusive escapando do prêmio negativo.