Protesto em Bruxelas: agricultores europeus protestam contra acordo UE-Mercosul e uma série de demandas (OLIVIER MATTHYS/EFE)
Repórter de agro e macroeconomia
Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 10h52.
Última atualização em 18 de dezembro de 2025 às 11h01.
Agricultores europeus estão furiosos com o acordo entre a União Europeia e o Mercosul. Nesta quinta-feira, 18, cerca de 10 mil produtores participaram de protestos contra a assinatura do tratado, enquanto legisladores do Parlamento Europeu continuam as negociações para avançar com o acordo.
Segundo o Politico, os protestos desta quinta-feira não se limitam à possível assinatura do acordo, mas também incluem diversas demandas dos agricultores locais.
Em relação ao pacto com o Mercosul, os produtores europeus temem que o setor agrícola perca competitividade, especialmente em razão da concorrência com as commodities mais baratas provenientes do bloco sul-americano, particularmente do Brasil.
"Os agricultores estão preocupados com possíveis reduções nos subsídios agrícolas e com os custos elevados de implementação de regulamentos ambientais rigorosos. Por isso, é conveniente culpar as importações — e o Mercosul — pelos seus problemas", afirma John Clarke, ex-negociador da UE e um dos responsáveis pela estruturação do acordo com o Mercosul, em entrevista à EXAME.
Para tentar atender às preocupações dos agricultores locais, o Conselho Europeu anunciou, na noite de quarta-feira, 17, uma série de ajustes nas salvaguardas do acordo, em uma nova tentativa de viabilizar sua implementação.
As novas salvaguardas estabelecem que, caso a importação de um produto específico aumente substancialmente ou se os preços caírem além de limites considerados inaceitáveis, a União Europeia poderá iniciar uma investigação e revisar a eliminação das tarifas ou aplicar outras medidas.
Entre as mudanças, destaca-se a criação de um mecanismo de resposta mais ágil. Em casos sensíveis, como as importações de carne bovina fresca, arroz e etanol, a investigação deverá ser concluída em até 21 dias. Para os demais produtos, o prazo será de quatro meses.
Além disso, o limite que aciona as salvaguardas foi elevado de 5% para 8%. Isso significa que a proteção poderá ser acionada caso o volume de importação de um produto aumente 8% ou mais, ou caso o preço do item importado caia 8% ou mais, em comparação com a média dos últimos três anos.
Desde 2024, quando as negociações para a assinatura do acordo entre os blocos se intensificaram, agricultores europeus, especialmente da França e da Polônia, têm se mobilizado contra o tratado.
As manifestações acontecem em um contexto onde as exportações agroalimentares da UE para o Mercosul devem crescer 50%, impulsionadas pela redução das tarifas sobre produtos como vinho e bebidas (até 35%), chocolate (20%) e azeite (10%), de acordo com estimativas da Comissão Europeia.
Os agricultores europeus não estão apenas protestando contra o acordo com o Mercosul, mas também reivindicando uma série de demandas.
Segundo o Politico, uma das principais preocupações no momento é o possível corte de recursos destinados à agricultura, à medida que o orçamento da União Europeia para 2027 está em debate.
A Comissão Europeia, por sua vez, assegurou que continuará com os pagamentos diretos aos agricultores após 2027, uma medida essencial para garantir a viabilidade econômica das áreas rurais.
Além das tensões comerciais externas, os agricultores da UE também enfrentam desafios internos. Na França, por exemplo, surtos de doenças animais, como a dermatite nodular contagiosa, têm levado ao abate de rebanhos inteiros, gerando protestos contra as políticas do governo.
Embora o governo francês esteja tentando controlar a situação, a insatisfação é crescente, e os agricultores ameaçam intensificar os protestos caso o acordo com o Mercosul avance.
Outro ponto de tensão são as novas regras ambientais, especialmente as mais rigorosas sobre o uso de pesticidas, que geram frustração no setor agrícola.
Os produtores argumentam que essas medidas dificultam a competitividade, já que os produtos de países terceiros não seguem os mesmos padrões, o que os coloca em desvantagem.