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Opinião: O retorno de Trump: impactos e desafios para o agro e a economia brasileira

A recente elevação da Selic indica novos tempos que ainda são incertos

Donald Trump durante comício nos EUA

Donald Trump durante comício nos EUA

Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 18 de novembro de 2024 às 18h30.

Última atualização em 18 de novembro de 2024 às 18h48.

A reeleição de Donald Trump traz implicações significativas para o Brasil, especialmente em setores estratégicos como o agronegócio, a mola percursora da economia. O retorno de Trump, com uma postura notoriamente protecionista, impõe um cenário de competição intensa e pressões fiscais, afetando diretamente as exportações, o acesso a mercados e a política monetária no Brasil.

No passado recente, ainda no primeiro mandato, Trump deixou claro seu compromisso com o protecionismo, investindo pesado no apoio ao setor agrícola dos Estados Unidos. Esse incentivo ao agro americano coloca o Brasil em uma posição desafiadora, forçando o país a diversificar seus mercados e a buscar maior competitividade global para reduzir a dependência do mercado norte-americano.

Se no passado conseguimos aproveitar as sanções impostas por Trump à China para aumentar nossas exportações de commodities, agora a repetição desse cenário exige uma estratégia ainda mais cautelosa e bem estruturada.

A continuidade dessa política tarifária pode abrir brechas no mercado chinês, beneficiando o Brasil, mas a competição aumentada dos EUA requer que o agro brasileiro eleve sua competitividade e busque novos parceiros comerciais.

Além disso, o ambiente protecionista nos EUA afeta o campo de crédito. As relações comerciais influenciam diretamente as taxas de juros no Brasil e o acesso ao financiamento agrícola e às proteções como seguros de safra, especialmente em um cenário de mudanças climáticas.

Com a volatilidade nos mercados globais, o crédito rural brasileiro tende a enfrentar maior pressão. Essa nova realidade demanda políticas de crédito robustas para garantir a segurança financeira do agro em um ambiente cada vez mais incerto e competitivo.

A recente elevação da taxa Selic pelo Banco Central, de 10,75% para 11,25% ao ano, evidencia essa pressão externa. Foi o segundo ajuste em 2024, e tudo indica que o Brasil ainda enfrentará uma série de aumentos nos juros.

O impacto é direto: além de encarecer o crédito para o setor agrícola e para a economia em geral, a alta na Selic reflete a necessidade de manter a inflação sob controle em um ambiente de risco fiscal crescente. A expectativa é de que o Brasil precise adotar medidas fiscais rigorosas, com cortes de gastos na ordem de 30 a 40 bilhões de reais em 2025, para evitar que a inflação se descontrole e para manter uma margem de estabilidade econômica.

Trump 2, portanto, traz desafios monumentais e oportunidades estratégicas. Ao mesmo tempo que a desvalorização do real impulsiona as exportações brasileiras, há uma necessidade premente de ajustar políticas internas para dar suporte ao setor agro e à economia, preparando-os para um cenário de volatilidade global.

Como presidente de um banco, é evidente a importância de uma política de crédito adequada e de uma disciplina fiscal rígida para enfrentar os impactos de um cenário global protecionista e desafiador, aproveitando as oportunidades que surgem sem negligenciar a resiliência econômica do Brasil.

WOLNEY ARRUDA – presidente do Banco Plantae, produtor rural e administrador de empresas.

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