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Opinião: De olho no futuro: os avanços do Brasil rumo à pecuária sustentável

Olhando em retrospectiva, 2024 trouxe grandes avanços para a pecuária brasileira

Gado das Fazendas Reunidas Boi Gordo (Exame.com)

Gado das Fazendas Reunidas Boi Gordo (Exame.com)

Marina Piatto
Marina Piatto

diretora executiva do Imaflora

Publicado em 28 de dezembro de 2024 às 06h01.

Marina Piatto, Marina Guyot e Lisandro Inakake*

Olhando em retrospectiva, 2024 trouxe grandes avanços para a pecuária brasileira aumentar a competitividade em um mercado cada vez mais exigente quanto à sustentabilidade dos produtos que consome.

Alguns dos grandes passos nesse sentido foram o lançamento do Plano Nacional de Rastreabilidade Individual da Pecuária, que prevê a identificação obrigatória de bovinos e bubalinos em todo o território nacional até 2032 e dá um prazo de dois anos para que todos os estados implementem os sistemas que permitirão aos produtores realizarem o registro do gado junto ao governo federal.

Nesse sentido, o estado do Pará saiu na frente quando lançou, por meio do decreto 3.533 em novembro de 2023, o programa de Desenvolvimento Sustentável da Pecuária do Pará, que inclui a identificação individual de bovinos e bubalinos associada à integridade socioambiental das propriedades rurais até o final de 2026.

Além disso, houve avanço no diálogo com o mercado chinês, com a apresentação do protocolo Boi na Linha como um mecanismo aderente aos requisitos de uma sociedade em rota para o que chama de Civilização Ecológica, caracterizada por um estilo de vida de baixo carbono, conforme assumido pelo governo chinês.

Outro fato marcante no ano foi o adiamento para dezembro de 2025 da entrada em vigor da lei antidesmatamento da União Europeia, a EUDR.

Ainda que o adiamento seja problemático do ponto de vista ambiental, espera-se que seja positivo para o amadurecimento dos instrumentos em desenvolvimento para esse controle, como a Plataforma AgroBrasil+Sustentável, anunciada pelo Ministério da Agricultura também nessa reta de final do ano.

Esse instrumento público, que permite qualificar a produção brasileira em relação a quesitos socioambientais, é, sem dúvida, um marco na agenda da sustentabilidade da agropecuária brasileira.

Todos esses eventos aconteceram em um ano pautado pelo agravamento das mudanças climáticas e pelo quarto aumento consecutivo de emissões de gases de efeito estufa no setor agropecuário.

Dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), referentes a 2023, indicaram aumento de 2,2% mais gás carbônico equivalente do que no ano anterior, devido principalmente ao aumento do rebanho bovino.

Para resolver essa equação, a pecuária brasileira precisará abraçar práticas regenerativas para provar que é sustentável, além de mostrar que é livre de desmatamento ilegal e de trabalho análogo à escravidão.

Há condições para responder a esse desafio. Afinal, 2024 inaugurou uma nova fase para a pecuária brasileira, com a criação de políticas e instrumentos concretos de compromisso com a responsabilidade socioambiental.

Olhando para o futuro, a expectativa é que 2025 seja um ano de consolidação desses avanços, com entrega de resultados concretos.

A ocorrência da COP 30 em Belém colocará o país no centro das atenções mundiais no que diz respeito às políticas e práticas de cunho ambiental e social. E o setor pecuário não estará isento dessa atenção. A boa notícia é que ele agora tem a faca e o queijo nas mãos para fazer bonito.

O ano termina deixando um legado positivo a ser celebrado, mas também muito trabalho para concretizar as novas ferramentas que irão respaldar a sustentabilidade do setor.

* Marina Piatto é diretora executiva; Marina Guyot é gerente de Políticas Públicas e Lisandro Inakake é gerente de projetos em Cadeias Agropecuárias – todos do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora)

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