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Na COP, Embrapa mostra como reduzir em 36% emissão de gases na Amazônia e busca verba para pesquisa

Em entrevista à EXAME, presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, também fala dos preparativos para a COP 30

Silvia Massruhá, presidente da Embrapa (Divulgação/Divulgação)

Silvia Massruhá, presidente da Embrapa (Divulgação/Divulgação)

Luciano Pádua
Luciano Pádua

Editor de Macroeconomia

Publicado em 9 de dezembro de 2023 às 11h00.

Última atualização em 11 de dezembro de 2023 às 08h11.

DUBAI, EMIRADOS ÁRABES UNIDOS - A Embrapa é referência na pesquisa e inovação de agricultura tropical no mundo. E dentre as principais discussões da estatal está o papel da agropecuária na descabornização. Nesse desafio, uma coisa é certa: será necessário cada vez mais investimento em ciência e tecnologia -- e a empresa corre para tentar criar um fundo que permita o financiamento robusto da pesquisa.

"Hoje, na parte de custeio e investimento, temos um terço do [orçamento] necessário, que vem direto do Executivo. Precisamos triplicar esse valor. Precisaríamos de aproximadamente 500 milhões de reais -- e temos 150 milhões de reais. Trabalhamos muito com emendas parlamentares e parcerias público-privadas. A nossa ideia é criar um fundo", diz Silvia Massruhá, presidente da Embrapa, em conversa com a EXAME.

Segundo ela, o fundo teria um estilo de endowment -- modelo como se financiam universidades americanas, por exemplo. "O que viesse de emendas e parceria seria um "a mais". Essa é nossa meta", afirma Massruhá, ressaltando que a proposta", afirma.

A presidente da Embrapa destaca que, nessa COP, trouxe  dados que coletados nos últimos 20 anos de várias tecnologias que a companhia ajudou a desenvolver para mostrar ao mundo. "Trouxemos dados sobre a parte de pastagem com gramíneas em consórcio com leguminosas na Amazônia. Convertemos 55.000 hectares em 25 anos e, disso, comprovamos cientificamente a redução de 36% da emissão de gases de efeito estufa. São dados importantes de comunicar ao mundo", diz.

Na entrevista abaixo, a presidente da Embrapa destrincha os principais aprendizados na COP e os próximos passos na preparação para a COP 30, em Belém

O que a Embrapa trouxe para apresentar na COP e o que espera levar de lições?

Nessa COP, trouxemos alguns dados que coletamos nos últimos 20 anos de várias tecnologias que a Embrapa ajudou a desenvolver, têm sido implementadas no país e, agora, estamos coletando esses dados por cadeia produtiva e sistema de produção. Em primeiro lugar, falando de tecnologias conhecidas, como plantio direto, fixação biológica de nitrogênio (FNB), sistemas integrados e bioinsumos, a partir da introdução dessas tecnologias hoje, a depender do bioma, como o amazônico, por exemplo, trouxemos dados sobre a parte de pastagem com gramíneas em consórcio com leguminosas. Convertemos 55.000 hectares em 25 anos e, disso, comprovamos cientificamente a redução de 36% da emissão de gases de efeito estufa. São dados importantes de comunicar ao mundo.

O que mais? 

Temos trazido isso, como outras, como sistemas agroflorestais, com biofortificação, psicultura na Amazônia e a integração disso dentro do sistema. Falamos da questão do manejo florestal usando agricultura de precisão, que está sendo feito no Acre. Várias iniciativas que hoje estão ajudando a trazer os indicadores de sustentabilidade, seja econômico, ambiental ou social. A Embrapa tem roadmap pensando na descarbonização na agricultura. Temos a coleta de dados em várias unidades para cadeias produtivas e o desafio de integrar esses dados para gerar análise integrada cruzada dessas informações pensando em uma plataforma para subsidiar o governo federal. A ideia é visar o balanço de carbono, pois a depender do sistema de produção esse saldo pode ser até positivo. A agricultura emite mas também sequestra -- e pode haver um estoque de carbono no solo. Hoje, estamos trabalhando para trazer esses dados. Nos próximos dois anos, queremos ter mais maturidade com esses indicadores para apresentar na COP 30 (em Belém). Criamos um modelo de governança para a Embrapa nessa área de carbono para integrar essas várias iniciativas para começar a trabalhar na tropicalização desses indicadores para subsidiar o governo federal.

Um dos grandes anúncios do governo nessa COP foi a conversão de áreas de pastagem degradada. Como a Embrapa se encaixa nesse esforço?

Esse é outro trabalho que estamos discutindo. Dentro da visão de aumentar a produtividade com sustentabilidade, foi criado o programa para recuperação de áreas de pastagens degradadas. São 160 milhões de hectares de áreas de pastagem no país e aproximadamente 40 milhões com áreas degradadas que têm aptidão agrícola. Na Embrapa, estamos analisando esses 40 milhões de hectares cruzando os dados de zoneamento agrícola de risco climático (Zarc). Uma pastagem mal manejada emite. Se for bem manejada, pode até sequestrar carbono. Estamos pegando esses dados. Sistemas integrados como ILPF ou ILP conseguem ter saldo positivo. Esse projeto do governo federal, liderado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e o ministro Carlos Fávaro, traz essa recuperação e quais seriam as tecnologias mais adequadas e quais culturas e sistemas de produção. Dependendo da área, pode se mudar de uma pastagem mal manejada para uma bem manejada ou por agricultura, que não precisa ser só grãos.

Como assim?

No Nordeste, por exemplo, pode trabalhar com feijão-caupi, arroz, fruticultura. Estamos fazendo esse mapeamento. O segredo da nossa agricultura é trabalhar a ciência, alinhado ao setor produtivo e a políticas públicas.

Qual a entrega que podemos esperar desse levantamento? 

Vai sair qual a aptidão dessas áreas pelo país todo para ajudar a fomentar políticas públicas, como por exemplo o crédito rural para incentivar os produtores (com participação do Banco do Brasil e BNDES).

Qual o papel da agropecuária nas discussões que acontecem na COP?

Na verdade, 75% das emissões de gases de efeito estufa no mundo vêm de combustíveis fósseis. A agricultura é um setor que emite mas tem como sequestrar carbono. É uma grande oportunidade de mostrar isso. O que precisamos fazer é trazer dados e informações da nossa realidade da agricultura tropical. Sabemos que no país só 2% do desmatamento é ilegal. Isso já é comprovado, com Ministério do Meio Ambiente e Mapa. Nesse caso, é questão de comando e controle, tem que punir mesmo. Temos que trabalhar cada vez mais para o produtor rural entender que é possível produzir e preservar ao mesmo tempo usando tecnologia adequada.

Além de garantir um incentivo financeiro a esses produtores...

Lógico. Ele precisa entender como que isso pode melhorar a produtividade com sustentabilidade e isso vai ser o diferencial em questões ambientais do planeta, mas também para o mercado exterior. Estamos nesse desafio de trazer os dados que existem em vários ministérios para podermos trazer a transparência dos processos de produção que beneficie, no sentido de mostrar com transparência, a produção agropecuária do país.

A senhora já falou algumas vezes sobre a necessidade de investimentos na Embrapa. Há alguma negociação ou acordo de investimentos na Embrapa feita aqui na COP?

Sim. Nesse programa de recuperação de pastagens degradadas, o recurso está sendo negociado com vários fundos internacionais para vir -- e uma parte será para ciência e tecnologia. A Embrapa tem discutido também essa questão junto ao setor privado, de como pode apoiar. Tem uma discussão de fundos público-privados para incentivar a pesquisa agropecuária. Entendemos que a Embrapa foi criada, 50 anos atrás, em um momento da agricultura. Hoje é outra realidade, que necessita de mais aportes e pode ter mais parcerias com o setor produtivo, que é tão beneficiado, para subsidiar essa pesquisa. O sucesso da nossa agricultura obviamente passa pelo protagonismo dos produtores rurais, mas acho que é a parceria entre produtores e a ciência brasileira. É importante ter reconhecimento disso, de modo que o setor também invista na inovação e pesquisa.

Há alguma cifra que seja essencial ou a meta da senhora nesse aspecto?

Hoje, na parte de custeio e investimento, temos um terço do necessário, que vem direto do Executivo. Precisamos triplicar esse valor. Precisaríamos de aproximadamente 500 milhões de reais -- e temos150 milhões de reais. Trabalhamos muito com emendas parlamentares e parcerias público-privadas. Na verdade, a nossa ideia é criar um fundo.

Como seria isso? 

Seria no estilo de um endowment, que mantenha isso. O que viesse de emendas e parceria seria um "a mais". Essa é nossa meta.

E tem algum próximo passo que possamos adiantar? 

Ainda é cedo. Mas estamos discutindo ainda um projeto de lei para fazer esse fundo. Mas já está bem encaminhada.

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