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Emergências climáticas: modelos escaláveis apoiados por investimentos são a salvação?

Um novo approach, mais ágil, é necessário - um em que o capital de risco possa intervir, particularmente no setor agrícola

 (New Holland/Divulgação)

(New Holland/Divulgação)

Kieran Gartlan
Kieran Gartlan

Diretor da The Yield Lab Latam

Publicado em 13 de novembro de 2024 às 06h30.

Por Kieran Gartlan*

À medida em que os prazos de ESG e neutralidade de carbono de 2030 se aproximam, e eventos climáticos como inundações no Rio Grande do Sul e incêndios florestais no Meio-Oeste se tornam mais comuns, fica cada vez mais claro que o modelo tradicional "baseado em projetos", apoiado por organizações filantrópicas e de impacto, é insuficiente.

Um novo approach, mais ágil, é necessário - um em que o capital de risco possa intervir, particularmente no setor agrícola. A agricultura é um dos principais contribuintes para as emissões de gases de efeito estufa, mas também é uma das indústrias mais vulneráveis às mudanças climáticas, enfrentando interrupções na produção de alimentos devido a secas, inundações e outros impactos climáticos.

Finpact impulsiona a mudança por meio de incentivos financeiros

No coração do modelo de capital de risco está o princípio de que incentivos financeiros promovem mudanças de comportamento, incluindo nos esforços de sustentabilidade. Ao contrário das abordagens baseadas em projetos ou regulamentações, o capital de risco enfatiza a aliança entre interesses financeiros e objetivos de sustentabilidade.

Por exemplo, créditos fiscais ou subsídios para investimentos em energia renovável incentivam as empresas a reduzirem suas pegadas de carbono. Na agricultura, incentivos financeiros semelhantes podem impulsionar os agricultores em direção a práticas mais sustentáveis, como a adoção de agricultura de precisão ou técnicas de regeneração do solo.

Esses incentivos tornam a transição para a sustentabilidade financeiramente atrativa, em vez de depender de mandatos regulatórios. Exemplos incluem pagamentos por créditos de carbono gerados por práticas de cultivo sem degradação do solo, projetos de reflorestamento ou mesmo créditos de ecossistema por usar tecnologias que tornam o uso da terra mais eficiente.

A conexão entre Finanças e Sustentabilidade

Um fator chave muitas vezes negligenciado na conversa sobre clima é que finanças e sustentabilidade estão profundamente interconectadas. Sem viabilidade financeira, até mesmo as iniciativas mais ambientalmente benéficas estão condenadas ao fracasso.

Para muitos agricultores brasileiros, que lidam com margens de lucro apertadas e mercados voláteis, a sobrevivência de curto prazo prevalece sobre a sustentabilidade ambiental a longo prazo. Dois grandes obstáculos impedem a adoção de práticas sustentáveis: acesso limitado ao capital e incerteza sobre a lucratividade futura.

Muitos agricultores carecem de recursos financeiros para investir em tecnologias sustentáveis. O Finpact aborda essa lacuna fornecendo incentivos financeiros que reduzem esses riscos, oferecendo empréstimos de baixo juros para a compra de equipamentos agrícolas sustentáveis ou subsídios para projetos de energia renovável. Esses incentivos facilitam a adoção de inovações pelos agricultores enquanto permanecem lucrativos.

Abordagens de Sustentabilidade: de cima para baixo vs. de baixo para cima

Diferentes regiões adotam diferentes abordagens em relação à política ambiental, especialmente na agricultura. A Europa tradicionalmente se baseou em uma abordagem de cima para baixo, onde governos e instituições impõem regulamentos uniformes em todos os setores.

Esse modelo teve algum sucesso, como a promoção de energia renovável e a redução de emissões, mas também resultou em consequências não intencionais, como a dependência excessiva do gás natural russo. Além disso, a incerteza regulatória causada por mudanças frequentes nas regras pode desencorajar investimentos de longo prazo e inovação.

Em contraste, o modelo de baixo para cima observado nos EUA depende de soluções impulsionadas pelo mercado para alcançar metas ambientais. Essa abordagem prioriza o Retorno sobre o Investimento (ROI), garantindo que os esforços de sustentabilidade sejam economicamente viáveis.

Nesse modelo, agricultores e empresas adotam práticas sustentáveis não porque são obrigados pelo governo, mas porque essas práticas fazem sentido financeiro.

Para um país como o Brasil, onde a aplicação de regulamentos ambientais é desafiadora devido ao seu tamanho e onde muitos agricultores enfrentam dificuldades econômicas, uma abordagem de baixo para cima pode se mostrar muito mais eficaz do que uma estrutura regulatória de cima para baixo.

Agricultores no vermelho não pensam em verde

Um dos maiores desafios na promoção da sustentabilidade na agricultura é que agricultores financeiramente pressionados frequentemente se veem forçados a priorizar cortes de custos em detrimento de preocupações ambientais.

Ao operar com margens apertadas, muitos agricultores escolhem opções mais baratas e menos sustentáveis simplesmente porque não conseguem arcar com alternativas mais verdes e caras. É aqui que o modelo do Finpact entra em cena.

Ao fornecer incentivos financeiros - seja por meio de subsídios para equipamentos sustentáveis, empréstimos de baixo juros para instalações de energia renovável ou programas de seguro agrícola que recompensam práticas agrícolas ambientalmente amigáveis, o Finpact ajuda os agricultores a adotarem métodos mais verdes sem comprometer seus meios de subsistência.

Em última análise, modelos apoiados por capital de risco oferecem uma solução escalável e impulsionada pelo mercado para os desafios de sustentabilidade enfrentados pela agricultura.

Ao alinhar incentivos financeiros com objetivos ambientais, o Finpact e iniciativas semelhantes podem ajudar a impulsionar um progresso significativo em direção às metas climáticas, garantindo que os agricultores permaneçam financeiramente viáveis.

À medida que o tempo se esgota para cumprir metas críticas de 2030, fica claro que modelos escaláveis e apoiados por investimentos podem ser uma das melhores ferramentas que temos para enfrentar a crise climática de frente.

Kieran Gartlan é Diretor da The Yield Lab Latam, rede global de fundos de venture capital focada em AgriFoodTech. Ele também é um dos fundadores da Rural Ventures. Originalmente da Irlanda, cresceu em uma pequena fazenda leiteira, que foi completamente transformada pela tecnologia. Possui mestrado em Economia pela UCD, Irlanda e MBA em Gestão de Riscos pela USP, Brasil. Sua carreira profissional abrange mais de 25 anos, principalmente no Brasil, como fundador de startup, repórter de commodities, Country Head do CME Group no Brasil e três anos em Chicago no CME Ventures.

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