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Cinco pontos para avançar na atividade de recria e engorda em anos de baixa do ciclo pecuário

ARTIGO | Rogério Coan, doutor em nutrição animal e diretor da Coan Consultoria, mostra que a intensificação da produção permite ao pecuarista alcançar maior competitividade e rentabilidade

Custos de produção: Para 2023, os dados da Coan Consultoria estimam que na atividade de recria e engorda, a compra do bezerro corresponderá de 45% a 53% do custo total (Wenderson Araújo/Agência Brasil)

Custos de produção: Para 2023, os dados da Coan Consultoria estimam que na atividade de recria e engorda, a compra do bezerro corresponderá de 45% a 53% do custo total (Wenderson Araújo/Agência Brasil)

Rogério Coan
Rogério Coan

diretor da Coan Consultoria

Publicado em 15 de agosto de 2023 às 14h00.

A pecuária de corte é uma atividade que requer a otimização dos resultados. A aplicação de tecnologia deve, portanto, ser analisada como uma ação estratégica da empresa para que se evite o aumento injustificável de custos. Mesmo em anos amargos, de baixa do ciclo pecuário, quando há uma resistência natural aos investimentos, a tecnologia não deve ser negligenciada, mas potencializada para aproveitar as brechas positivas. Afinal sempre é possível fazer aquela limonada.

Além disso, o próprio crescimento da agricultura em áreas antes destinadas à pecuária evidencia a necessidade de maior aporte tecnológico nas empresas de produção pecuária, com o objetivo principal de, simplesmente, ganhar mais arrobas por hectare a cada ano. Se não for assim, é impossível competir, em termos de resultados econômicos, com culturas cuja produtividade aumenta ano a ano. Basta analisar a evolução de produtividade de culturas como soja, milho, arroz, cana-de-açúcar, entre outras.

Entretanto, algumas linhas mais conservadoras ainda se posicionam contra a incorporação de tecnologias de produção na pecuária e a classificam como uma atividade de baixo risco se for feita “como sempre se fez”. Grave erro. Alguns acreditam que a atividade deva ser conduzida nos moldes tradicionais, com baixas lotações por hectare e com aquela visão extrativista já conhecida por muitos. Simplesmente não acreditam em resultados tecnológicos dentro da propriedade, seja pela adubação e correção, práticas de manejo do pastejo, fornecimento de suplementos, sanidade, melhoramento genético ou confinamento estratégico.

Pode-se enumerar várias linhas de raciocínio que defendem o posicionamento anti tecnologia. No entanto, se analisarmos o curso da história fica nítido que a não adoção de tecnologia, visando menores produções por área (@s/ha/ano), culminará no fracasso, com consequente saída da atividade. É preciso buscar conhecimento em eventos técnicos para aplicá-lo hoje e aprender com os exemplos de quem está a frente.

Resistência financeira

Sabemos que a maior resistência está no bolso. Quando se aplica tecnologia, há um aumento dos “desembolsos” com insumos e outros itens de custo variável. Por outro lado, os custos fixos se diluem, já que há maior produção na mesma área, fato comum num processo de intensificação bem feito. Os ganhos passarão a ser em escala.

Para visualizar esse cenário, basta observar a Figura 1, que demonstra o impacto das tecnologias de produção no aumento da produtividade e, consequentemente, no lucro operacional do sistema de recria e engorda.

Análise do lucro operacional na recria e engorda por nível de tecnologia. Adaptado de Athenagro, 2023. (Coan Consultoria/Reprodução)

Fica evidente (Figura 1) que a intensificação da produção, com metas de produtividade superiores a 20 @s/ha/ano, permitem ao pecuarista alcançar maior competitividade e rentabilidade para o seu negócio. E quando se analisa a atual conjuntura da pecuária de corte, marcada pela virada do ciclo pecuário, é perceptível que o momento se torna ainda mais oportuno para aumento dos ganhos de escala nos projetos pecuários.

Para se ganhar escala produtiva, o pecuarista deve em um primeiro momento calcular os custos de produção. Para 2023, os dados da Coan Consultoria estimam que na atividade de recria e engorda, de baixa a alta tecnologia, a reposição (compra do bezerro) corresponderá de 45% a 53% do montante total, uma vez que o ágio da arroba do bezerro em relação ao boi gordo situa-se ao redor de 16%.

Para efeito de comparação, no ciclo pecuário anterior, caracterizado pela baixa oferta de bezerros, o ágio chegou próximo de 50%, sendo muito comum o pecuarista interiorizar suas compras com 35 a 40% de ágio. Com esse ágio, o bezerro chegou a representar 50% a 65% do custo total de produção. O problema é que muitos pagaram caro pelo bezerro e venderam na baixa, exatamente na virada do ciclo, ou seja, pior cenário não poderia existir.

5 fatores para o sucesso da atividade

Por outro lado, quando se analisa as perspectivas para 2023 e 2024, o pecuarista poderá visualizar uma grande oportunidade para o crescimento sustentado do seu projeto. Nesse contexto, enumeramos cinco fatores para o sucesso da atividade de recria e engorda que podem ser adotados, baseando-se principalmente em incorporar tecnologia ao negócio pecuário, sendo:

1) Momento favorável para “criar estoque de arrobas magras”, ou seja, comprar bezerros. Até o ano passado, o ágio estava desfavorável ao pecuarista, ou seja, com o preço do boi magro muito valorizado frente ao boi gordo. Com esse maior estoque, quando estiver com o boi pronto ele poderá aproveitar o momento de alta do ciclo e obter grande valorização das arrobas;

2) Houve uma redução dos preços dos corretivos e fertilizantes. Existem algumas marolas de alta, mas o preço está bem inferior ao que praticamos no ano passado. Desta forma, é hora de aproveitar a oportunidade, recuperar as pastagens degradadas e intensificar as melhores áreas. Se o produtor tiver caixa, pode aproveitar a baixa para fazer um estoque estratégico de fertilizantes;

3) A atenção às pastagens passa a ser essencial, mesmo para os que têm uma grande operação em confinamento. Saber manejá-las com precisão permite um tempo maior de recria a pasto, antes da etapa de terminação, garantido com isso, uma redução do custo total/@ produzida. Lembrando que a arroba produzida a pasto é a mais barata.

4) A redução dos preços dos grãos reflete também nos coprodutos, como a ração. Por exemplo, o milho apresentou uma queda significativa de R$ 82,93/saca de 60 kg em julho do ano passado para R$ 53,62 para este ano, segundo o CEPEA. Portanto, torna-se interessante intensificar também a suplementação a pasto e incrementar o pacote tecnológico no confinamento;

5) A atenção ao bem-estar animal permite antecipar problemas de saúde, principalmente, que afetariam o resultado produtivo. Além de atender a uma demanda da sociedade e do mercado consumidor.

Por fim, é importante ressaltar que todo pecuarista busca aumentar a rentabilidade e, não existe uma receita de sucesso, sendo necessário avaliar porteira adentro sua realidade produtiva e a habilidade para potencializar da melhor forma possível seus ganhos, sejam eles produtivos ou econômicos para aproveitar os cinco pontos acima adaptados a sua realidade. O que parece uma grande oportunidade para uns pode significar riscos e dificuldades para outros.

Uma coisa é certa, enquanto alguns pecuaristas ainda derrubam lágrimas pelas margens negativas no ciclo pecuário anterior, muito outros estão estruturando seus projetos, aumentado a escala e aproveitando as oportunidades de mercado para construir empresas pecuárias extremamente lucrativas. Pense nisso e faça suas contas.

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