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Surra na infância induz a uso de droga, aponta estudo

Segundo levantamento, 21,7% dos brasileiros apanharam dos pais ou cuidadores quando crianças. Entre usuários de maconha, número sobe para 47,5%

Homem consumindo maconha: segundo pesquisadores, criança que sofre agressão fica neurologicamente mais vulnerável ao uso futuro de drogas (Christopher Furlong/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 7 de maio de 2014 às 22h25.

São Paulo - Sofrer agressão física durante a infância ou adolescência aumenta em quase três vezes o risco de dependência química na idade adulta, aponta pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgada nesta quarta-feira, 7.

Segundo o 2.º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), 21,7% dos brasileiros apanharam dos pais ou cuidadores quando crianças. Entre usuários de maconha, número sobe para 47,5%. Entre os dependentes de cocaína, é de 52%.

Segundo os pesquisadores, a criança ou o adolescente que sofre agressão fica neurologicamente mais vulnerável ao uso futuro de drogas .

"Sabemos que qualquer tipo de evento estressante no começo da vida afeta áreas do cérebro que são as mesmas responsáveis pelo desenvolvimento de dependência química e também pela administração do nosso humor, da nossa motivação", explica Clarice Madruga, pesquisadora da Unifesp e uma das coordenadoras do estudo.

Segundo Clarice, esse estresse torna a pessoa mais vulnerável para desenvolver dependência. "Claro que também vai depender de outros fatores ambientais, como a facilidade de obtenção da droga e o amparo social que a pessoa tem."

Usuário de crack, cocaína e maconha, o mecânico Donizete Matos, de 28 anos, diz ter iniciado o consumo de drogas depois que começou a apanhar frequentemente do pai, aos 12 anos. "Meus pais se separaram e fui morar com o meu pai.

Só que minha madrasta não gostava de mim, e eu apanhava muito, geralmente sem motivo", conta o mecânico, que frequenta a Cracolândia, no centro da capital paulista.

Ainda hoje, ele mostra um desvio no osso do nariz e uma cicatriz na perna como marcas das agressões que sofria.

"Ele me dava soco, me cortava com faca de cozinha. E eu não aguentava apanhar sozinho, sem poder fazer nada. Ia fumar maconha." Agora que sua mulher, também dependente química, está grávida, Matos quer parar de usar drogas.

Clarice afirma que a prevalência de crianças agredidas no Brasil é muito superior à observada em outros países que registram a estatística. "Enquanto aqui temos 21,7%, em outros países o índice nunca passa de 12%."

Para a pesquisadora, a agressão contra os filhos não pode ser vista como natural. "É preciso pensar no trabalho de prevenção e estimular que a agressão seja denunciada. As escolas e as unidades de saúde devem ser treinadas para identificar a criança que sofreu algum abuso. Também temos o Disque 100, uma central para denunciar qualquer tipo de violação dos direitos humanos."

Abuso e bullying

O Lenad mostrou ainda que 5% dos brasileiros relataram já ter sofrido abuso sexual na infância ou adolescência. O índice chega a 7% quando analisados os dados das entrevistadas do sexo feminino. Na maioria dos casos (58%), o autor do abuso era um parente ou amigo da família.

As mulheres também são os maiores alvos de bullying, de acordo com a pesquisa da Unifesp. Entre os homens, 12,1% dos entrevistados disseram já ter sido vítimas da prática. Entre as entrevistadas, o índice foi de 13,8%.

A agressão verbal foi o tipo de bullying mais sofrido pelos que responderam a pesquisa (12%), seguido pelas provocações indiretas, como fofocas, rumores e isolamento social, citadas por 5% dos entrevistados. Os pesquisadores da Unifesp entrevistaram 4.607 pessoas com mais de 14 anos, em 149 municípios brasileiros.

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Segundo o 2.º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad), 21,7% dos brasileiros apanharam dos pais ou cuidadores quando crianças. Entre usuários de maconha, número sobe para 47,5%. Entre os dependentes de cocaína, é de 52%.

Segundo os pesquisadores, a criança ou o adolescente que sofre agressão fica neurologicamente mais vulnerável ao uso futuro de drogas .

"Sabemos que qualquer tipo de evento estressante no começo da vida afeta áreas do cérebro que são as mesmas responsáveis pelo desenvolvimento de dependência química e também pela administração do nosso humor, da nossa motivação", explica Clarice Madruga, pesquisadora da Unifesp e uma das coordenadoras do estudo.

Segundo Clarice, esse estresse torna a pessoa mais vulnerável para desenvolver dependência. "Claro que também vai depender de outros fatores ambientais, como a facilidade de obtenção da droga e o amparo social que a pessoa tem."

Usuário de crack, cocaína e maconha, o mecânico Donizete Matos, de 28 anos, diz ter iniciado o consumo de drogas depois que começou a apanhar frequentemente do pai, aos 12 anos. "Meus pais se separaram e fui morar com o meu pai.

Só que minha madrasta não gostava de mim, e eu apanhava muito, geralmente sem motivo", conta o mecânico, que frequenta a Cracolândia, no centro da capital paulista.

Ainda hoje, ele mostra um desvio no osso do nariz e uma cicatriz na perna como marcas das agressões que sofria.

"Ele me dava soco, me cortava com faca de cozinha. E eu não aguentava apanhar sozinho, sem poder fazer nada. Ia fumar maconha." Agora que sua mulher, também dependente química, está grávida, Matos quer parar de usar drogas.

Clarice afirma que a prevalência de crianças agredidas no Brasil é muito superior à observada em outros países que registram a estatística. "Enquanto aqui temos 21,7%, em outros países o índice nunca passa de 12%."

Para a pesquisadora, a agressão contra os filhos não pode ser vista como natural. "É preciso pensar no trabalho de prevenção e estimular que a agressão seja denunciada. As escolas e as unidades de saúde devem ser treinadas para identificar a criança que sofreu algum abuso. Também temos o Disque 100, uma central para denunciar qualquer tipo de violação dos direitos humanos."

Abuso e bullying

O Lenad mostrou ainda que 5% dos brasileiros relataram já ter sofrido abuso sexual na infância ou adolescência. O índice chega a 7% quando analisados os dados das entrevistadas do sexo feminino. Na maioria dos casos (58%), o autor do abuso era um parente ou amigo da família.

As mulheres também são os maiores alvos de bullying, de acordo com a pesquisa da Unifesp. Entre os homens, 12,1% dos entrevistados disseram já ter sido vítimas da prática. Entre as entrevistadas, o índice foi de 13,8%.

A agressão verbal foi o tipo de bullying mais sofrido pelos que responderam a pesquisa (12%), seguido pelas provocações indiretas, como fofocas, rumores e isolamento social, citadas por 5% dos entrevistados. Os pesquisadores da Unifesp entrevistaram 4.607 pessoas com mais de 14 anos, em 149 municípios brasileiros.

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