Exame Logo

Nível do mar sobe ao ritmo mais rápido em 2 800 anos

Entre 1900 e 2000, os oceanos e os mares do planeta subiram cerca de 14 centímetros, mostra conjunto de artigos publicados em prestigiada revista científica

Escultura do artista Jason deCaires Taylor: aumento do nível do mar é um dos efeitos colaterais do aquecimento global que mais preocupam. (Divulgação)

Vanessa Barbosa

Publicado em 24 de fevereiro de 2016 às 17h51.

São Paulo - Os níveis do mar estão subindo ao ritmo mais rápido já registrado nos últimos 2 800 anos, e as emissões liberadas por atividades humanas dos nocivos gases de efeito estufa, vilões do aquecimento global , são as principais responsáveis.

O alerta vem de um conjunto de artigos publicados nesta semana na prestigiada revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências (PNAS).

Segundo os estudos, até a década de 1880 (durante o período de industrialização do mundo), o ritmo mais rápido de elevação do nível dos oceanos foi de 3 centímetros a 4 centímetros por século. Mas no século 20, sozinho, os mares do mundo subiram nada menos do que 14 centímetros.

As pesquisas ilustram o crescente poder dos computadores para simular as complexas interações entre o clima , o derretimento do gelo polar e os oceanos do planeta — ao todo, mais de 6 milhões de anos de dados climáticos foram analisados.

Seus resultados somam-se à crescente coleção de evidências de que a humanidade contribui, em muito, para o aumento da temperatura global e a consequente elevação do nível do mar. Parte do aumento é devido ao derretimento das geleiras e outra parte ao aumento da temperatura da água, que se expande quando fica mais quente.

Pelas projeções dos cientistas , até 2100, os oceanos do mundo poderão subir ainda mais — entre 28 centímetros e 131 centímetros, dependendo do volume de emissões de gases efeito estufa que as indústrias e veículos liberarem na atmosfera.

"Nós definitivamente estamos confiantes de que a elevação do nível do mar vai continuar a acelerar se houver mais aquecimento, o que inevitavelmente ocorrerá", disse ao The New York Times o geofísico Stefan Rahmstorf, do Potsdam Institute for Climate Impact Research, autor de um dos estudos publicados.

O aumento do nível do mar é um dos efeitos colaterais do aquecimento global que mais preocupam os cientistas. Mantidos os atuais padrões de emissões, a elevação de 4ºC na temperatura tem potencial suficiente para submergir terras que atualmente são o lar de mais de 500 milhões de pessoas.

São Paulo - Ao longo dos últimos 20 anos, o nível dos mares subiu uma média de 8 centímetros como resultado do aquecimento das águas e do derretimento das geleiras. Até o final deste século, ele pode aumentar em um metro ou mais, segundo previsões do último Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas ( IPCC ), principal referência científica no assunto. Essa alta reserva um futuro sombrio para muitas cidades costeiras e nações insulares no mundo e coloca mais de 40 milhões de pessoas em situação de risco. A sentença severa já ameaça a existência de micronações, como as Maldivas, o país mais baixo e plano da Terra, e Kiribati, um pequeno país no Pacífico que estuda a ideia radical de mudar toda a sua população para uma nova ilha. Não por acaso os líderes destes pequenos Estados insulares representam algumas das vozes mais apaixonadas, firmes e exigentes nas discussões da COP 21 , a conferência mais importante sobre clima da ONU, que acontece em Paris. Afinal, se o mundo não chegar a um acordo capaz de frear o ritmo das mudanças climáticas , estes micropaíses serão os primeiros a sofrer as piores consequências por estarem na linha de frente do perigo. Para eles, o desafio da sobrevivência já começou. Veja nas imagens.
  • 2. Ilhas Maldivas

    2 /10(Thinckstock)

  • Veja também

    Um micropaís no meio do Oceano Índico é uma vítima fácil para o aumento do nível do mar. No último século, as água já subiram 20 centímetros em algumas partes do país. De acordo com o levantamento da Ong Co+Life, uma elevação brusca poderia varrer do mapa esse paraíso de praias de areia branquinha, palmeiras e atóis de corais. Temendo o pior, o governo local já estuda comprar um novo território para o seu povo.
  • 3. Ilhas Salomão, no Pacífico

    3 /10(Creative Commons/ Jenny Scott / Flickr)

  • Pequeno país insular localizado a leste da Papua-Nova Guiné, no Oceano Pacífico, as pacatas Ilhas Salomão ganharam o noticiário mundial em fevereiro de 2013, após serem atingidas por um tsunami que matou cinco pessoas. Embora possa parecer pontual, a tragédia é a face mais radical de um drama vivido diariamente pela população local, formada por pouco de mais de 500 mil habitantes. Comunidades inteiras estão se realocando para evitar catástrofes a medida que a maré sobe. As ilhas com altitudes mais baixas são as mais atingidas.
  • 4. Ilhas Marshall

    4 /10(Creative Commons/ Sarah Boyd / Flickr)

    Se nos dias de maré alta, a população das Ilhas Marshall já sofre com os danos da invasão da água salgada, uma alta brusca de quase um metro até o fim do século é uma sentença de morte para a região. O mar já cobriu parte do território e está erodindo a costa, enquanto secas e cheias castigam ainda mais o arquipélago, formado por 29 atóis e ilhas de corais entre a Austrália e o Havaí.
  • 5. Kiribati

    5 /10(Torsten Blackwood/AFP)

    Outro pequeno país insular que pode estar com os dias contados é Kiribati, um arquipélago formado por 32 atois no Oceano Pacífico. Com o aumento do nível do mar circundante, o presidente de Kiribati, Anote Tong, prevê que seu país provavelmente se tornará inabitável dentro de 30 a 60 anos. Ele está atrás de um novo lar para os 100 mil habitantes da região, que tem sofrido com a invasão de água salgada que prejudica a agricultura local. Durante discurso na COP 21, em Paris, Tong agradeceu publicamente a nação de Fiji por ter concordado em receber o seu povo se o pior acontecer.
  • 6. Tuvalu

    6 /10(UNICEF/Getty Images)

    Na arena internacional, o pequeno conjunto de nove ilhas localizado no oceano pacífico, entre a Austrália e o Havaí, é um dos que mais trabalha para se fazer ouvir em meio aos interesses de grandes nações nas negociações climáticas. Com área de 26 km², o minúsculo Estado corre o risco de submergir diante do aumento do nível do mar. Nos últimos anos, as inundações constantes já vêm atrapalhando a produção de cultivos locais e a obtenção de água potável.
  • 7. Seicheles

    7 /10(Esskay/ Wikipedia)

    Nação insular localizada no Oceano Índico, as Seicheles são constituídas por vários arquipélagos localizados a noroeste de Madagáscar. Com uma população de 87 mil habitantes, foi uma das primeiras nações a ligar o alarme global sobre o impacto das alterações climáticas e da consequente ameaça da elevação do mar para pequenos países insulares.
  • 8. Delta do Mekong

    8 /10(Getty Images)

    Densamente povoado, a região do Delta do Mekong, uma das mais férteis do Vietnã, pode tornar-se vítima das mudanças climáticas. Um aumento do nível do mar inundaria rapidamente as fazendas de camarões, os vilarejos e os cultivos agrícolas, que garantem trabalho e sustento para os moradores locais. Segundo previsões mais pessimistas, até 2100, o mar engolirá 5% do território e 7% das terras agrícolas.
  • 9. Delta do Ganges, Bangladesh

    9 /10(Wikimedia Commons)

    Bangladesh é um país com poucas elevações acima do nível do mar, com grandes rios em todo seu território situado ao sul da Ásia. A estimativa é que 120 milhões de pessoas que vivem no delta do Ganges estão ameaçadas pela elevação do nível do mar. Os desastres naturais como inundações, ciclones tropicais, tornados e marés em rios são normais em Bangladesh todos os anos.
  • 10. Ar irrespirável

    10 /10(REUTERS)

    Agora, veja 10 números chocantes do "arpocalipse" chinês

  • Acompanhe tudo sobre:ClimaOceanos

    Mais lidas

    exame no whatsapp

    Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

    Inscreva-se

    Mais de Tecnologia

    Mais na Exame