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"Não queremos ouvir Wall Street", diz CEO do SAS Institute

Para Jim Goodnight, CEO da empresa de software SAS Institute, as vantagens de continuar como empresa de capital fechado são bem maiores do que se for à bolsa

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h24.

Os analistas de mercado que acompanham o setor de tecnologia da informação costumam dizer que se existe uma música capaz de definir o estilo de gestão de Jim Goodnight, fundador e presidente da empresa de software SAS Institute, ela é "My Way", de Frank Sinatra. Isso porque, assim como o personagem da música, o CEO do SAS sempre fez tudo à sua maneira, sem se render a padrões ou tendências. Hoje o SAS Institute é a maior empresa de capital fechado do mundo, com faturamento de 2,1 bilhões de dólares. E Goodnight mostra que suas apostas, que até agora deram certo, não devem mudar tão cedo, como ir à bolsa ou aderir às aquisições. Em entrevista exclusiva a EXAME, Goodnight comenta seu estilo peculiar de comandar o SAS, que serve até como inspiração para o Google, e fala também sobre como a empresa olha para o Brasil.

Por que o SAS continua contra a abertura de capital?

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Quem abre o capital geralmente tem como objetivo levantar dinheiro. O SAS, ao contrário, nunca precisou de dinheiro, nem mesmo de empréstimos. Então, nunca tivemos uma razão financeira para ir à Bolsa. Nós pensamos em nossos clientes como nossos acionistas e, então, nos concentramos em oferecer o que eles precisam. Os investidores só se preocupam com dinheiro e lucro. Nós não vamos trabalhar de olho apenas nos resultados do próximo trimestre. Somos focados no longo prazo.

Quais os pontos positivos de ser uma empresa privada, em sua opinião?

A primeira delas é não precisar estar sujeito às rígidas regras da lei fiscal norte-americana Sarbanes-Oxley. Da mesma forma, estamos livres de ter acionistas processando a companhia. O terceiro e mais importante aspecto, para mim, é: não precisamos e nem queremos ouvir aqueles garotinhos de Wall Street dizendo como devemos tocar nossa companhia. Eles não sabem gerenciar os negócios deles, quem dirá, os nossos. Temos elevado o faturamento ao longo dos nossos 32 anos de existência e somos lucrativos também todos esses anos. Ainda por cima, conseguimos guardar dinheiro. Permanecer como uma empresa de capital fechado tem com certeza mais vantagens do que desvantagens.

Quanto o SAS fatura hoje?

Fechamos o ano passado com faturamento de 2,15 bilhões de dólares e, nesses seis primeiros meses, crescemos 11,5%. Estamos esperando uma expansão de dois dígitos também para esse ano.

Como estão as operações da empresa nos mercados emergentes?

Hoje, nosso principal mercado entre os emergentes é o Brasil. Obtivemos um crescimento de 60% no faturamento no país e hoje a situação é parecida com o que vimos na Índia há alguns anos. Estamos muito fortes nas áreas financeira, de telecomunicações e de energia. Esses setores são muito fortes na economia brasileira e agora estão com necessidade crescente por software de análise.

Quanto fatura a subsidiária brasileira?

O Brasil faturou 30 milhões de dólares e estamos incentivando a expansão dessa unidade, especialmente diante do fato de o país ter governo e economia estáveis. Por causa dessas oportunidades, planejamos contratações especialmente na área comercial. Temos hoje 110 pessoas na unidade brasileira do SAS, em escritórios espalhados por São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. Estamos estudando ampliar o número de funcionários em até 50% já neste ano. Um dos setores que também queremos atingir é o de governo.

O SAS também tem se destacado em vários prêmios como uma das melhores empresas para trabalhar. O que o senhor considera essencial para ter uma boa gestão de pessoas?

Nós acreditamos que a companhia precisa deixar todos os funcionários satisfeitos, remover as distrações, para que eles façam um trabalho. Aqui, oferecemos todos os tipos de benefícios para que ajudar esses profissionais, como o berçário para seus filhos, e também uma unidade de saúde aqui mesmo. A idéia é criar um ambiente saudável de todas as formas possíveis para que esses funcionários também criem um canal de comunicação saudável com os clientes. Eles buscam aproximação ao máximo que podem com esses nossos usuários. Temos hoje quase 4000 pessoas no mundo pesquisando junto aos clientes quais são as suas necessidades. E embora hoje boa parte das interações seja feita pela internet, tentamos fazer algo pessoal, em um contato mesmo com esse cliente de forma que eles podem fazer sugestões e dar um retorno sobre nosso sistema.

Seu estilo de gestão influenciou a criação do Googleplex, sede do Google. De que forma é seu contato com os fundadores da empresa?

Geralmente encontro Larry Page e Sergey Brin em alguns eventos durante o ano, mas tivemos nosso primeiro contato há uns quatro ou cinco anos. Quando eles estavam formando a empresa, enviaram para cá alguns funcionários para conhecer nossa forma de trabalhar. E, de fato, se inspiraram em nós. Hoje eles utilizam muitos dos mesmos benefícios aos funcionários que oferecemos por aqui.

O SAS tem um índice de retenção de talentos invejável. Qual é a fórmula para manter os profissionais motivados em um mercado tão dinâmico quanto o de tecnologia?

Nós fornecemos muitos cursos para eles, entre profissionais e também complementares, como de idiomas. Além disso, permitimos muita movimentação interna. Temos por princípio considerar quem já está por aqui quando surge uma vaga. Isso motiva quem fica.

O mercado de sistemas de inteligência de negócios passa por uma consolidação expressiva. Como isso afeta o SAS?

O momento está bem positivo para nós. Sim, é verdade que algumas consolidações aconteceram e que alguns concorrentes foram comprados. Isso é bom para nós, já que enquanto eles estão sendo absorvidos, nós continuamos a ganhar mercado.

Qual o futuro do mercado de sistemas de inteligência de negócios?

Acredito que todo software analítico terá um papel muito importante nesse desenvolvimento. Nos últimos 10 a 12 anos, falou-se muito na instalação de sistemas de gestão empresarial (ERP). Todas as empresas queriam colocar um ERP funcionando para automatizar suas operações. Agora, o foco se volta para a esfera analítica. Todo mundo quer saber o que pode extrair dos dados que tem e prever o que pode acontecer em seus negócios. Por isso acredito que os sistemas de análise vão se sobressair.

E qual o futuro do SAS nesse contexto?

Até onde eu sei, não planejamos ser adquiridos e nem abrir o capital. Fizemos algumas pesquisas com os funcionários nos últimos anos e 87% deles não querem que a empresa faça um IPO. Como empresa de capital fechado, eles se sentem mais seguros. Também não queremos demissões.

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