São Paulo – Um novo estudo publicado nesta semana na revista científica Nature indica que a concentração de mercúrio nos oceanos triplicou em comparação com os níveis pré-industriais.
Por trás desse aumento, segundo a pesquisa, está a poluição causada por atividades humanas, como mineração e queima de combustíveis fósseis.
Além disso, o lançamento de esgoto sem tratamento na água também pode criar condições que potencializam os efeitos da substância ao torná-la mais solúvel.
A contaminação ambiental pelo metal altamente tóxico é uma realidade mundial. Mas só agora começou a ser dimensionada. E os resultados preocupam.
O estudo destaca que a concentração do mercúrio triplicou nas camadas de águas superficiais, onde a presença de vida marinha é grande.
Uma das características do mercúrio que mais preocupam os cientistas é sua capacidade de biomagnificação.
Ele se acumula ao longo da cadeia alimentar, fazendo com que as espécies mais altas na cadeia sejam expostas a uma maior concentração tóxica, o que aumenta, eventualmente, a exposição humana ao metal.
No entanto, falta quantificar essa acumulação nos animais aquáticos e seus possíveis efeitos, incluindo os riscos para os seres humanos.
Em entrevista ao jornal birtânico The Guardian, Simon Boxall, professor de Universidade de Southampton, disse que é difícil dizer, a partir da pesquisa, o tamanho do dano que já foi feito para a vida marinha.
"Eu não iria parar de comer peixes por conta disso", ponderou. "Mas esse aumento de mercúrio é um bom indicador do nosso impacto no meio ambiente marinho. É um alerta para o futuro", disse.
Ameaça tóxica
Em um relatório de 2010, a organização ambiental Blacksmith Institute listou os principais poluentes tóxicos que ameaçam o mundo. O mercúrio é um deles.
Usado em centenas de aplicações, da produção de gás cloro e soda cáustica à composição de amálgamas dentárias e baterias, o mercúrio assume sua forma mais ameaçadora à saúde humana durante o garimpo de ouro.
Na mineração, ele auxilia o processo de purificação do metal valioso conhecido como "amalgamação", sendo liberado na forma de vapor no meio ambiente.
Na literatura médica, o mercúrio é caracterizado como uma neurotoxina potente, capaz de causar danos irreversíveis ao cérebro.
Entre os sintomas da contaminação estão dormência em braços e pernas, visão nebulosa, letargia e irritabilidade, problemas renais e intoxicações pulmonares, além de prejudicar o desenvolvimento fetal.
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1. Morada tóxica
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1/12 (Getty Images)
São Paulo - Atualmente, mais de 200 milhões de pessoas em todo o mundo estão expostas à
poluição tóxica em níveis superiores aos tolerados pelas organizações internacionais de saúde. Essas populações vivem em regiões contaminadas por metais pesados, pesticidas e até por substâncias radioativas, como o césio. À frente de ações de monitoramento e mitigação de impactos, a organização ambiental Blacksmith Institute listou as 10 regiões que mais com sofrem com os poluentes tóxicos. Confira a seguir.
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2. Agbogbloshie, Gana
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2/12 (Blacksmith Institute)
Poluente: Chumbo População afetada: 40 mil + Agbogbloshie, na Gana, é a segunda maior área de processamento de lixo eletrônico na África Ocidental. Devido à composição heterogênea desses materiais, reciclá-los com segurança é complexo e pode exigir um elevado nível de habilidade. Na maior parte do tempo, não é isso o que ocorre em Gana, o que eleva o risco de contaminação. Através de processos de reciclagem informais, o chumbo é frequentemente liberado no meio ambiente sem controle de segurança ambiental. As principais formas de contaminação se dão pela ingestão de alimentos ou água contaminados e por inalação de partículas de poeira da substância, que pode se armazenar por até 30 anos no tecido ósseo. Os efeitos da exposição ao chumbo são devastadores e incluem danos neurológicos e redução de QI.
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3. Rio Citarum, Indonésia
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3/12 (Getty Images)
Poluente: Produtos químicos, incluindo chumbo, cádmio, cromo e pesticidas População afetada: 500 mil + diretamente e até 5 milhões indiretamente A Bacia do Rio Citarum em Bandung, Indonésia, ocupa uma área de aproximadamente 13.000 quilômetros quadrados, que abrange uma população de 9 milhões de pessoas. O rio fornece 80% das águas para abastecimento em Jacarta, irriga fazendas que fornecem 5% do arroz da Indonésia, e é uma fonte de água para mais de 2.000 fábricas. Mas a água deste rio também contém uma gama de contaminantes oriundos de fontes industriais e domésticas. Investigações de campo realizadas pelo Blacksmith Institute encontraram níveis de chumbo em mais de 1.000 vezes a norma internacional para água potável. As concentrações de alumínio, manganês e ferro no rio também estão bem acima do nível de metais pesados considerado seguro pela EPA.
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4. Hazaribagh, Bangladesh
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4/12 (Getty Images)
Poluente: Cromo População afetada: 160.000 + Processos industriais são os principais responsáveis pela poluição através do chamado cromo hexavalente, a forma mais perigosa deste metal pesado e altamente cancerígeno. As indústrias que mais contribuem para a contaminação envolvem operações de tratamento de metais, soldagem de aço inoxidável, produção de cromato e processo de curtimento de couro. Existem nada menos do que 270 curtumes registrados em Bangladesh, e a maioria está localizada em Hazaribagh. Os métodos de processamento utilização são antigos, desatualizados e ineficientes. Todos os dias, os curtumes despejam coletivamente 22.000 litros cúbicos de resíduos tóxicos no Buriganga, principal rio de Dhaka. As comunidades locais utilizam a água contaminada para vários fins, incluindo irrigação de cultivos, higiene pessoal e para lavar louças e roupas.
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5. Norilsk, Rússia
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5/12 (Blacksmith Institute)
Poluente: cobre, óxido de níquel, outros metais pesados População afetada : 135 mil Norilsk é uma cidade industrial fundada em 1935. As operações de mineração e fundição começaram na década de 1930 e fizeram da região o maior complexo de fundição de metais pesados do mundo. Cerca de 500 toneladas de óxidos de cobre e de níquel, além de 2 milhões de toneladas de dióxido de enxofre, são lançadas anualmente no ar. A expectativa de vida para os trabalhadores de fábrica em Norilsk é de 10 anos abaixo da média russa. Embora o número exato de pessoas potencialmente afetadas pela poluição em Norilsk seja desconhecido, estima-se que mais de 130 mil moradores da região estão sendo expostos a material particulado, dióxido de enxofre, metais pesados e fenóis. Estudos anteriores descobriram elevado concentrações de cobre e níquel o solo de quase todos os lugares dentro de um raio de 60 quilômetros da cidade. Isso levou ao aumento dos níveis de doenças respiratórias e câncer dos pulmões e do sistema digestivo.
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6. Dzerzhinsk, Rússia
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6/12 (Blacksmith Institute)
Poluente: Produtos químicos e subprodutos tóxicos de inúmeros processos químico-industriais População afetada: 300 mil Durante o período soviético, Dzershinsk foi um dos principais locais da Rússia para fabricação de produtos químicos, incluindo armas químicas. Hoje em dia, é ainda um centro significativo da indústria química russa. Entre 1930 e 1998, cerca de 300.000 toneladas de resíduos químicos foram indevidamente depositados na cidade e em áreas circundantes. Em 2007, amostras de água tomadas dentro da cidade apresentaram níveis de substâncias químias tóxicas milhares de vezes acima dos níveis recomendados. Isso levou o Livro de Recordes do Guiness Book a citar Dzershinsk como a cidade mais poluída do mundo no mesmo ano. Nos últimos anos, esforços têm sido realizados para fechar instalações obsoletas e restaurar a terra contaminada. Um estudo de 2006 revelou que a expectativa média de vida em Dzershinsk é de 47 para as mulheres e apenas 42 para os homens.
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7. Matanza-Riachuelo, na Argentina
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7/12 (Blacksmith Institute)
Poluentes: compostos orgânicos voláteis, incluindo tolueno População afetada: 20 mil + A bacia do rio Matanza-Riachuelo, na Argentina, tem mais de 60 quilômetros de extensão e abriga um sem número de fabricantes de produtos químicos. Estima-se que 15 mil indústrias estão ativamente lançando efluentes no rio, que corta 14 municípios. Um estudo publicado na Revista Latino-Americana de Sedimentologia e Análise de Bacia, em 2008, revelou que o solo nas margens do rio continha níveis de zinco, chumbo, cobre, níquel e cromo bem acima dos níveis seguros. Acredita-se que 60% das cerca de 20 mil pessoas que residem perto da bacia do rio vivem em território considerado impróprio para a habitação humana. Doenças diarreicas, doenças respiratórias e câncer estão entre os problemas de saúde pública associados aos vários setores da bacia.
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8. Chernobyl, Ucrânia
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8/12 (Sergei Supinsky/AFP)
Poluente: poeira radioativa, incluindo urânio, plutônio, césio-137, estrôncio-90, e outros metais População afetada: Até 10 milhões Chernobyl é reconhecido internacionalmente como um dos piores desastres nucleares da história. Na noite de 25 de abril de 1986, o teste na usina provocou um colapso do núcleo do reator, liberando mais de 100 vezes a radioatividade das bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki. Cerca de 150 mil quilômetros quadrados de terra foram afetados no acidente. O reator foi enterrado em uma caixa de concreto projetado para absorver a radiação e conter o combustível remanescente. No entanto, a estrutura tinha intenção de ser uma solução temporária e projetada para durar não mais do que 30 anos. Hoje, existem mais de uma dúzia de radionuclídeos artificiais como o césio-137 que podem ser detectados na superfície do solo ao redor da planta. A ingestão de alimentos produzidos em áreas contaminadas continua a ser a principal via de intoxicação, como resultado da exposição prolongada de baixa dosagem.
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9. Kabwe, Zâmbia
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9/12 (Blacksmith Institute)
Poluente: Chumbo População afetada: 300.000 + Kabwe, a segunda maior cidade da Zâmbia, está localizada a cerca de 150 quilômetros ao norte da capital do país, Lusaka. Um estudo de saúde feito em 2006 descobriu que, em média, os níveis de chumbo no sangue das crianças em Kabwe ultrapassam os níveis recomendados em até dez vezes. Este é o resultado de contaminação a partir de mineração de chumbo na área, que fica ao redor do Copperbelt. Em 1902, ricas jazidas de chumbo foram descobertas, conduzindo operações de mineração e fundição por mais de 90 anos. Apesar das minas terem sido fechadas, a atividade artesanal em pilhas de rejeitos continua. Crianças que vivem brincando no solo e jovens garimpeiros na área estão em maior risco.
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10. Kalimantan, na Indonésia
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10/12 (Getty Images)
Poluente: Mercúrio e cádmio População afetada: 225.000 + Kalimantan é a parte indonésia da ilha de Bornéu. Em duas de suas cinco províncias, a mineração artesanal de ouro em pequena escala constitui a principal fonte de renda para 43 mil pessoas. A grande maioria dos mineiros utilizam mercúrio no processo de extração de ouro. Ele auxilia o processo de purificação do metal conhecido como "amalgamação", sendo liberado na forma de vapor no meio ambiente. Os trabalhadores, que lidam dia-a-dia na atividade garimpeira, são os mais suscetíveis a aspirar esse vapor tóxico e imperceptível. A contaminação também pode acontecer por ingestão de peixes oriundos de águas poluídas.
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11. Delta do Rio Níger, na Nigéria
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11/12 (Getty Images)
Poluente: Petróleo População afetada: indeterminada O Delta do Rio Níger é uma região densamente povoada que se estende por cerca de 70.000 km2 e representa quase 8% do território da Nigéria. É fortemente poluído por petróleo e hidrocarbonetos, uma vez que a região tem sido palco de grandes operações petrolíferas desde o final da década de 1950. Entre 1976 e 2001, havia cerca de 7.000 incidentes envolvendo derrames de petróleo, onde a maior parte do óleo nunca foi recuperado. Uma média de 240 mil barris de petróleo são derramados no delta do Níger a cada ano devido a falhas mecânicas e muitas causas desconhecidas. Os vazamentos não só contaminam a água superficial e subterrânea do delta, mas também o ar ambiente e as culturas agrícolas locais, além de afetar a saúde da população. Um artigo publicado no Nigerian Medical Journal, em 2013, estima que a poluição generalizada pode levar a uma redução de 60% na segurança alimentar das famílias e um aumento de 24% dos casos de desnutrição infantil.
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12. Abusos
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12/12 (Alexandre Battibugli)