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Google e Médicos Sem Fronteiras buscam programadores para projeto social na África

A fase de implementação começa em setembro; saiba como se inscrever

Desnutrição África (Paula Bronstein/GettyImages)
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Da Redação

Publicado em 14 de agosto de 2015 às 17h32.

Depois de auxiliar operações de tratamento contra o ebola, o Project Buendia, um sistema de registro médico open source voltado para operações humanitárias, inicia uma nova missão na África, desta vez para combater a desnutrição. Nessa segunda etapa, o projeto, que é liderado por organizações como a ONG Médicos Sem Fronteira (MSF), o Google Crisis Response e a Escola de Medicina de Harvard, procura por engenheiros de softwares e profissionais da saúde para participar, como voluntários ou funcionários contratados.

No momento, a equipe do Project Buendia está adaptando a ferramenta já criada na primeira etapa contra o ebola, modificando seu software. O código já está disponível na plataforma Github, para qualquer pessoa acessá-lo e baixá-lo, mas os organizadores esperam tê-lo completamente finalizado após a fase de implementação da tecnologia, que está prevista para setembro deste ano. Os engenheiros de software ajudariam a equipe nessa fase ao trabalhar sobre os códigos disponibilizados no repositório.

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“Nosso projeto vai precisar de vários contribuidores ao longo do seu andamento, tanto do mundo da tecnologia como do mundo médico e humanitário”, disse à INFO, assessor de MSF em tecnologia e inovação baseado em Londres.

Os profissionais interessados em participar, a partir de setembro deste ano, podem trabalhar remotamente, ou nas bases de pesquisa em Londres, Amsterdam e São Francisco.

Tecnicamente, a equipe trabalha na melhoria de quatro frentes distintas: (1) um sistema de registro médico já existente chamado OpenMRS; uma combinação entre (2) um sistema móvel de coleta de dados humanitários, também já existente, chamado OpenDataKit (ODK), e (3) um aplicativo customizado, que gera gráficos sobre os dados dos paciente; e (4) um servidor local que funciona com uma bateria que dura uma semana e dispensa a necessidade de conexão de internet. Essa nova tecnologia permite, portanto, que médicos e enfermeiros continuem coletando dados dos pacientes durante o tratamento de nutrição mesmo em um local onde a conectividade da internet é escassa, cara e pouco confiável, e a eletricidade é igualmente problemática.

Esse aplicativo personalizado é baseado no sistema Android e sua exibição gráfica principal é WebView. O Android Webview, segundo o próprio Google, é um componente do sistema com tecnologia Chrome que permite aos apps Android apresentarem conteúdo da Web, e deve ser mantido atualizado para garantir que o usuário tenha as atualizações de segurança mais recentes e outras correções de bugs. “Qualquer desenvolvedor familiarizado com Java (melhor ainda Android Java) e HTML deve estar confortável trabalhando com este sistema”, disse Gayton.

Quanto ao servidor local, que é implementado em um Intel Edison – um computador pequeno, mas potente, e que consome pouca energia –, ele roda o sistema de distribuição Linux e o servidor OpenMRS. “Os desenvolvedores com interesse em Linux, sistemas embarcados e hardware, e servidores web (Tomcat, em particular) podem achar isso interessante”, ele disse.

Para Gayton, a verdadeira inovação do Project Buendia não está nos seus componentes individuais, a maioria bastante simples. O desafio é fazer que as coisas funcionem em um ambiente difícil. “A loja de tecnologia mais próxima fica muito longe do alcance, e o suporte técnico de TI é quase inexistente”, disse Gayton. “Adicione a isso a exigência extremamente alta de urgência para os profissionais de saúde realizarem seu trabalho”.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a desnutrição é a maior ameaça para a saúde pública do mundo, com 178 milhões de crianças desnutridas em todo o mundo. Os pesquisadores calculam que nove crianças morrem de desnutrição por minuto. O que iniciativas como o Project Buendia buscam é reduzir o sofrimento e a mortalidade relacionados a essa condição, que é tratável. Enquanto médicos e enfermeiro alimentam as crianças de maneira terapêutica (já que em um estado avançado do quadro muitas delas não conseguem absorver o alimento comum), os centros de terapia e ambulatórios necessitam de tecnologia para um tratamento mais eficaz dos pacientes – e a MSF querem aprimorá-la para combater a desnutrição na África de maneira mais eficiente.

O projeto, no entanto, não fica restrito a essa missão de desnutrição. “A ideia é generalizar o sistema para poder ser implementado em qualquer quadro clínico, mas para chegar lá nós escolhemos trabalhar em nutrição, um quadro que a MSF está habituada, e que oferece o potencial para salvar um grande número de vidas”, diz Gayton. “Em vez de construir algo completo a partir do conforto do mundo de alta renda, pretendemos construir partes do sistema e testá-las junto com os usuários em configurações reais do campo humanitário”.

Vagas

Apesar das vagas para voluntários, há um pequeno número de cargos remunerados disponíveis no projeto. As taxas de remuneração, segundo Gayton, são bem abaixo da taxa de mercado habitual para os desenvolvedores. “No entanto, estamos colocando bastante ênfase na construção de uma comunidade de apoio a esse projeto, inclusive para se tornarem membros a longo prazo da comunidade”, ele afirma. “Em primeiro lugar e acima de tudo estamos tentando construir a base dessa comunidade para um projeto que vai continuar para além do ciclo de desenvolvimento atual, e pagando as pessoas sempre que adequado, a fim de apoiar esse objetivo.”

Ponte entre tecnólogos e humanitários

Para Gayton, há um enorme motor de criatividade e generosidade no setor de tecnologia, que está disposto e pronto para se juntar à missão humanitária. “Mas, em grande parte, os ‘humanitários digitais’ têm pouca experiência dos problemas em lugares como Sudão do Sul, Congo e Bangladesh rural, e as restrições são muito difíceis de imaginar para pessoas que estão acostumadas a ter a internet tão onipresente quanto o oxigênio.”

“Da mesma forma”, ele continua, “falta ao setor dos humanitários de campo um senso do possível; nós não temos nenhuma ideia do que é um trivial bit de engenharia de software, o que é uma lacuna tecnológica profunda e mal compreendida.”

“Nossa ‘inovação’ é simplesmente tentar aproveitar esse motor de criatividade e generosidade e colocá-lo para trabalhar em um ambiente quente, sujo e tecnologicamente hostil, onde são feitas as operações humanitárias. Tentamos fornecer uma espécie de ponte entre os humanitários de campo, que conhecem os problemas e as restrições, e a comunidade de tecnologia, que tem esse senso do possível.”

Início do Project Buendia

O Projeto Buendia nasceu em setembro de 2014, no auge da epidemia de ebola na África, a partir de uma parceria entre a MSF e o Google Crisis Response, ramo do Google que auxilia operações de socorro a desastres humanitários, para criar um tablet resistente às condições adversas de tratamento da doença. Revestido por policarbonato, o chamado tablet “ à prova de ebola ” é resistente ao cloro (substância que médicos usam em seus próprios corpos e em objetos para evitar contaminação), a altas temperaturas e consegue enviar dados dos pacientes sem a necessidade de fios (já que a região possui baixo ou nulo sinal de internet e falhas de distribuição energia). A nova etapa começou após a redução do surto de ebola naquele continente.

Inscrições

Para mais informações e inscrições, engenheiros de software interessados em participar (em tempo integral), médicos, enfermeiros e voluntários que já tenham trabalhado em programas de nutrição devem contactar Gayton pelo e-mail: buendia.project@london.msf.org.

Já aqueles que desejam contribuir em tempo livre, em qualquer uma das qualificações acima, devem contactar a equipe do Google pelo e-mail: buendia-dev@googlegroups.com

No vídeo abaixo, veja a versão demo do aplicativo do Project Buendia, a qual os responsáveis caracterizam por ter um layout claro, fácil navegação, rápida entrada e edição de dados, e caixas de texto grandes – tudo pensando em deixar o sistema de controle dos pacientes mais eficiente.


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