Em nova fase, Mercado Livre vai emprestar dinheiro
Em parceria com instituições bancárias, a companhia começou a emprestar dinheiro para pequenos empresários que vendem pelo site no Brasil
Estadão Conteúdo
Publicado em 11 de maio de 2017 às 17h38.
Última atualização em 15 de maio de 2017 às 15h31.
Buenos Aires - A companhia argentina Mercado Livre está vivendo um dos melhores momentos da história desde a fundação há quase 18 anos, bem na época da chamada "bolha da internet", período marcado pela ascensão e fracasso de muitas startups.
Só em 2016, ela alcançou receita de mais de US$ 844 milhões, 30% maior que em 2015 - o Brasil representa metade disso.
O site reúne uma comunidade de 174,2 milhões de usuários na América Latina e movimentou US$ 8 bilhões no ano passado.
Tudo isso fez o valor das ações da empresa dobrar no último ano. Os números impressionam, mas ainda são só uma pequena fatia do varejo total na América Latina.
O grande desafio do Mercado Livre para continuar a crescer é atrair mais latino-americanos para sua plataforma - e incentivar os consumidores que já estão lá comprarem mais.
"O crescimento deles está acima da média no Brasil, por uma associação entre os efeitos da crise econômica com a oferta de uma solução de e-commerce bem feita", diz o presidente executivo da consultoria eBit.
Depois de anos investindo em pagamento online e em entregas, a palavra da vez no Mercado Livre é crédito.
A companhia começou nesta semana a emprestar dinheiro - em parceria com instituições bancárias - para pequenos empresários que vendem pelo site no Brasil.
Os compradores também devem entrar no radar em breve. "Muita gente não tem cartão de crédito e nem conta no banco", diz o diretor de operações do Mercado Livre, Stelleo Tolda.
"Essa é uma grande barreira para o comércio eletrônico."
Origem
O Mercado Livre foi fundado em agosto de 1999 por Marcos Galperín e Hernán Kazah, dois argentinos que se conheceram na Universidade de Stanford, que fica no coração do Vale do Silício, na Califórnia, Estados Unidos.
Naquela época, a internet começava a ganhar força na América Latina, mas faltavam serviços para usar na rede.
Nos EUA, Galperín conheceu o poder do eBay, plataforma de compra e venda de produtos pela internet.
Por que não lançar algo semelhante na América Latina? Fez uma pesquisa com estudantes latino-americanos: ninguém achou que ia dar certo.
Mesmo assim, Galperín seguiu em frente. Com o plano de negócios na mão, procurou investidores.Chegou a ficar frente à frente com Warren Buffett - hoje o segundo homem mais rico do mundo -, mas não o reconheceu.
"Não tinha Google no celular ainda", disse Galperín, rindo, durante entrevista exclusiva ao jornal O Estado de S. Paulo, concedida na sede da empresa, em Buenos Aires.
O modelo do eBay dava certo nos EUA porque havia uma série de empresas nascendo para encaixar as peças restantes do quebra-cabeça do e-commerce. Já havia empresas de meios de pagamento online, gestão de lojas virtuais, rastreamento de produtos.
Na América Latina, porém, nada disso existia.
O Mercado Livre expandiu rapidamente pela região - dois meses depois do pontapé inicial, já operava no Brasil.
Hoje, está presente em 19 países.
Em apenas sete anos, fez sua oferta inicial de ações na bolsa norte-americana Nasdaq - um feito que transformou a empresa no principal caso de sucesso do ecossistema de startups latino-americano até hoje.
"Os fundadores continuam ajudando outros empreendedores a criar startups de sucesso, seja por meio de mentoria ou de investimentos", diz Pedro Waengertner, presidente executivo da aceleradora de startups Ace.
Conglomerado
Assim, o Mercado Livre começou a resolver, aos poucos, os problemas que atrapalhavam a experiência no site: as pessoas tinham dificuldades para pagar e desistiam da compra ou fechavam o negócio e não recebiam o produto - e não voltavam ao site.
Ela criou o Mercado Pago, uma plataforma de pagamento online que, hoje, é usada em 100% das compras feitas no Mercado Livre no Brasil.
Depois, o Mercado Envios para a gestão das entregas. Em 2012, abriu sua plataforma para desenvolvedores independentes, na esperança de que ajudem a empresa a criar as "peças" que faltam.
Agora, o Mercado Livre vai dar crédito para os vendedores manterem suas lojas no site de pé, a exemplo de gigantes do e-commerce da Ásia, como o Alibaba.Em geral, esse público não consegue dinheiro nos bancos tradicionais, porque não tem toda a papelada.
Como o Mercado Livre tem acesso ao fluxo de caixa dos vendedores, poderá fazer análises personalizadas.
O crédito é contratado pelo celular no Mercado Pago, que vai concedê-lo por meio das parcerias com instituições financeiras não reveladas.
O serviço de crédito começa a operar no Brasil depois de nove meses de testes com vendedores na Argentina. Por lá, a empresa diz já ter feito milhares de operações de crédito com valor de até US$ 10 mil.
"Acho que estamos apenas começando", afirma Galperín. "Ferramentas como o Mercado Pago podem ajudar a democratizar o dinheiro."