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Conheça o legado de Lillian Schwartz, pioneira da arte digital que uniu criatividade e tecnologia

A artista desafiou os limites entre arte ao incluir computadores e telas eletrônicas em sua obra; Lillian morreu aos 97 anos

Lillian Schwartz: trabalhando no Bell Labs por volta de 1975
André Lopes

Repórter

Publicado em 15 de outubro de 2024 às 10h17.

Última atualização em 15 de outubro de 2024 às 10h21.

Lillian Schwartz, uma das primeiras artistas a usar computadores para criar filmes e que desbravou os caminhos entre arte, ciência e tecnologia nos anos 1970, faleceu no sábado, 12, em sua casa em Manhattan, aos 97 anos. Sua obra pioneira demonstrou o potencial do uso da tecnologia na transformação da criatividade, tornando-se uma referência para o diálogo entre esses mundos aparentemente distantes.

Lillian começou sua carreira artística explorando vários meios, como aquarelas, esculturas e colagens. No entanto, foi nos computadores que encontrou seu principal meio de expressão. Convidada a integrar o Bell Labs no final dos anos 1960 como artista residente, Lillian mergulhou no universo dos computadores mainframe, como o IBM 7094, para criar algumas das primeiras obras de arte geradas digitalmente. Seu filme "Pixillation" (1970), por exemplo, foi produzido através de cartões perfurados e exigiu dois meses para criar quatro minutos de imagens.

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Imagem de “Big MOMA": anúncio de 30 segundos gerado por computador, criado por Lillian Schwartz para a reabertura do Museu de Arte Moderna em 1984

Seu trabalho foi realizado muito antes dos computadores terem interfaces gráficas, o que tornava cada processo de criação manual e altamente técnico. Lillian escreveu, em seu livro "The Computer Artist’s Handbook" (1992), que precisou convencer cientistas a transformar o computador em uma ferramenta artística. Ela desafiava os limites da tecnologia da época, tratando o computador como um pincel, uma gravura ou uma tela em branco, sempre buscando fazer a máquina acompanhar sua visão artística.

Além de suas criações digitais, Lillian também ganhou notoriedade por sua teoria de que Leonardo da Vinci teria usado a si mesmo como modelo para a "Mona Lisa". Em 1986, utilizando sua expertise em forense digital, ela sobrepôs imagens do famoso retrato com uma do próprio Da Vinci, afirmando que as semelhanças eram notáveis. Embora muitos historiadores de arte tenham refutado a teoria, ela gerou discussões acaloradas e atraiu a atenção pública para sua ousadia intelectual.

O impacto de Lillian Schwartz, no entanto, vai muito além da polêmica. Sua verdadeira contribuição foi a união entre arte, ciência e tecnologia. Em um período em que essas disciplinas eram mantidas separadas, Schwartz colaborou com engenheiros, cientistas e programadores no Bell Labs, criando um diálogo entre esses mundos. "Ela mostrou novas maneiras de integrar arte, ciência e tecnologia", disse Kristen Gallerneaux, curadora do Museu Henry Ford, onde o arquivo de Lillian é mantido.

Esboço de "Head" (1968): imagem criada com caracteres alfanuméricos em papel milimetrado, finalizada com serigrafia em duas cores

Lillian também foi uma inovadora no uso de tecnologia para questionar o status quo da arte. Sua habilidade em adicionar camadas de complexidade visual, como no curta "Olympiad" (1971), e em experimentos com esculturas cinéticas, como "Proxima Centauri" (1968), revelava seu talento para criar experiências imersivas e desafiadoras. Mesmo que a era digital em que vivemos hoje pareça familiar com essas fusões, o trabalho de Lillian estava décadas à frente.

Apesar de seu pioneirismo, o reconhecimento formal demorou a chegar. Foi apenas em 2016, aos 89 anos, que Lillian teve sua primeira exposição solo em Nova York, no Magenta Plains. Críticos, como Hannah Stamler, da Artforum, reconheceram o impacto duradouro de sua obra, elogiando sua capacidade de dar uma “perspectiva fascinante e muitas vezes pictórica ao mundo digital”.

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