LUSTOSA E CHIAMULERA, DA CLEARSALE: 476 milhões de fraudes evitadas por ano / Fabiano Accorsi
Letícia Toledo
Publicado em 18 de maio de 2016 às 15h13.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h49.
A cada minuto os sites de comércio eletrônico do país são vítimas de tentativas de fraudes no valor de 3.600 reais, o que poderia resultar em um prejuízo de quase 2 bilhões de reais no ano. Na maioria dos casos, o fraudador utiliza os dados de um cartão de crédito da vítima, o cliente não reconhece a compra e a loja online precisa arcar com o prejuízo.
A maioria das decisões de aprovar ou não uma compra não está nas mãos das varejistas e sim de empresas especializada em sistema antifraudes. A líder absoluta deste terreno é Clearsale, que controla 80% do mercado antifraude no varejo eletrônico brasileiro – e evita, segundo as contas empresa, cerca de 476 milhões de reais em fraude todos os anos.
A Clearsale tem como clientes empresas como o grupo B2W, dono da Americanas.com e Submarino.com, a operadora de turismo CVC, a varejista esportiva Centauro e a rede de livrarias Saraiva. Com eles, a empresa faturou 78 milhões de reais em 2015 – resultado quase cinco vezes maior que o de 2010. A Clearsale recebe uma mensalidade de cada um dos clientes. “Nesse setor, escala é importante. Conseguimos aprender com os padrões de compra em um cliente, e melhorar a detecção de fraudes em outros. Esse é nosso maior diferencial”, diz Pedro Chiamulera, presidente e fundador da empresa.
A Clearsale mantém informações como endereço, CPF e os valores de cada compra realizada em cada site em um único sistema. Assim, toda vez que um cliente efetua uma compra, o sistema da Clearsale checa se o CPF informado já foi utilizado para fraudes anteriormente, se o valor médio da compra é o mesmo das anteriores e se o endereço fornecido já foi utilizado. Com essas informações, o sistema calcula o risco percentual daquela transação ser uma fraude.
Caso a possibilidade de fraude seja alta, a compra passa para análise manual de um dos 450 analistas da Clearsale na sede da empresa, em São Paulo. “O sistema deles é realmente o melhor do mercado, os concorrentes não conseguem avançar”, diz o ex-presidente de uma varejista online.
Durante boa parte da sua vida, a rotina de Chiamulera era superar, e não levantar barreiras. Ele competiu nos Jogos Olímpicos de Barcelona 92 e Atlanta 96 nas provas de 110 e 400 metros com barreiras. O atletismo levou-o a San Diego, nos Estados Unidos, onde se formou em Ciências da Computação. Em 2001, quando fundou a Clearsale, ele não tinha nenhum conhecimento sobre gestão.
“Nos primeiros anos eu fazia software de tudo, fiz até um sistema para guardar dados de testes de paternidade em laboratórios farmacêuticos. Eu cobrava o preço que achava que tinha que cobrar, vendia o software e depois não ganhava mais nada com isso”, diz.
Em 2005, Chiamulera encontrou um sócio, o estatístico Bernardo Lustosa e os dois decidiram focar sistemas para o comércio eletrônico. Foi aí que perceberam que as varejistas que conheciam estavam insatisfeitas com os softwares antifraudes. Os sistemas existentes eram desenvolvidos pelos próprios varejistas e interpretavam qualquer erro pequeno do consumidor como fraude, a compra era negada e os clientes abandonavam o site. “Nós identificamos um problema e dedicamos nosso negócio a resolvê-lo”, afirma Chiamulera. Na época, a empresa tinha apenas dois funcionários, hoje são 700.
Este ano a empresa abriu um escritório em Miami, nos Estados Unidos. O objetivo é tentar abocanhar parte do mercado americano de e-commerce, que faturou 350 bilhões de dólares no ano passado. No Brasil, o comércio eletrônico faturou 45 bilhões de reais em 2015.
Lá, os sócios da Clearsale não têm muito a oferecer as grandes varejistas como Amazon e Ebay. O objetivo é prestar serviços para pequenas empresas de e-commerce. Ainda assim, a empresa enfrentará concorrência acirrada com startups como a israelense Forter, que já recebeu 50 milhões de dólares em aportes para dominar o mercado. Por lá, os gastos são maiores, as oportunidades também – e a concorrência, idem.
(Letícia Toledo)