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Celular encriptado da Apple não impedirá ação de espiões

Aparelho deve retardar, mas não impedirá as agências de segurança e de inteligência dos EUA de obter evidências ligadas aos aparelhos

Novo iPhone 6, da Apple: empresa promete proteger fotos, documentos, listas de contato e outros dados (Adrees Latif/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 2 de outubro de 2014 às 17h05.

Washington - Os últimos smartphones da Apple e do Google encriptarão automaticamente os dados que armazenarem, mas isso não impedirá as agências de segurança e de inteligência dos EUA de obter evidências ligadas aos aparelhos.

A divulgação de ambas as empresas, por meio da qual elas prometem proteger fotos, documentos, listas de contato e outros dados dos olhos curiosos do governo ou de hackers, ganhou aplausos dos defensores do direito à privacidade.

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E também foi condenada pelo procurador-geral dos EUA, Eric Holder, pelo diretor do FBI, James Comey, e por autoridades policiais locais que dizem que a medida tornará mais difícil investigar crimes como abuso de crianças, tráfico de drogas e terrorismo.

Essas afirmações “são muito exageradas” porque a polícia ainda pode obter evidências por meio de mandados judiciais e as revelações a respeito da espionagem do governo mostram que a Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês) pode quebrar ou driblar a criptografia para investigações de terrorismo, disse Jonathan Turley, professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito da Universidade George Washington.

“Os cidadãos não devem presumir que esses aparelhos encriptados necessariamente evitarão que o governo intercepte comunicações”, disse Turley, em uma entrevista por telefone. “Se a história serve de guia, o governo encontrará uma maneira de penetrar nesses aparelhos”.

O assunto reativou a tensão entre as agências de segurança e inteligência e as empresas de tecnologia, que tentam defender o direito de seus usuários à privacidade.

A Apple, o Google e outras empresas vêm tentando restaurar suas reputações após as revelações do ex-funcionário terceirizado da NSA, Edward Snowden, de que elas cooperaram com programas de espionagem do governo no passado.

Embaralhamento automático

As empresas anunciaram nas últimas semanas que seus novos telefones efetuarão um embaralhamento automático dos dados, de forma que uma chave digital mantida pelo proprietário é necessária para destravá-los, tornando mais difícil de os detetives examinarem o conteúdo de telefones suspeitos sem seu conhecimento ou cooperação.

Anteriormente, essa criptografia era uma opção que exigia que os usuários passassem por um processo demorado de ativação.

Qualquer coisa enviada a partir ou com destino aos aparelhos ainda pode ser capturada e os investigadores podem hackear softwares para coletar evidências.

Isso significa que provavelmente haverá pouca mudança na forma em que mensagens de textos, e-mails, telefonemas, coordenadas de localização e outros dados são explorados por comunicações terroristas e outras ameaças.

As informações armazenadas nos chamados serviços em nuvem, incluindo fotos como as que foram roubadas de Jennifer Lawrence e outras celebridades, ainda estariam vulneráveis a hackers.

O recurso de criptografia oferece aos usuários alguma segurança e é um argumento de venda para as companhias.

“Há um pouco de relações públicas, um pouco de pressão competitiva e um pouco de esforço honesto para melhorar a segurança da internet como um todo”, disse Jon Oberheide, fundador e diretor de tecnologia da Duo Security.

A empresa com sede em Ann Arbor, Michigan, fornece segurança para computadores.

A NSA está “preocupada com a proliferação de qualquer tecnologia que possa permitir que terroristas internacionais ou outros alvos de inteligência eludam a vigilância autorizada legalmente”, disse a porta-voz da agência, Vanee Vines.

Fechaduras de combinação

A porta-voz do Google, Niki Christoff, disse que “as pessoas antes usavam cofres e fechaduras de combinação para manter sua informação segura -- agora elas usam criptografia”.

A Apple, que no passado acatou ordens judiciais e desbloqueou telefones para aplicação da lei ou forneceu dados de seus sistemas, descreveu suas medidas em um comunicado em seu site em 17 de setembro.

“Diferentemente dos nossos concorrentes, a Apple não pode evitar a senha e, portanto, não pode acessar esses dados”, diz o comunicado. A Apple tem sede em Cupertino, na Califórnia.

O Google, que tem sede em Mountain View, Califórnia, disse no início de setembro que estava tornando automático seu recurso de criptografia após oferecê-lo como um item opcional por mais de três anos.

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