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Baterias de carros podem abastecer uma cidade? Isso não é tão louco

Agora que a casa e os veículos estão conectados, é possível usar as baterias para armazenar energia dos painéis solares do quintal

Nissan Leaf 2018: carro elétrico traz mais autonomia e piloto automático (Nissan/Divulgação)

Lucas Agrela

Publicado em 9 de abril de 2018 às 17h09.

Última atualização em 9 de abril de 2018 às 17h12.

Quando se mudou para a zona rural, nos arredores de Dublin, Damien Maguire teve problemas com a luz elétrica da casa devido às constantes quedas de energia na cidade. Ele encontrou a solução dentro de seus carros elétricos: as baterias .

Maguire, que é muito habilidoso e publica vídeos de seus veículos no Youtube, criou um sistema de fiação que permite sugar energia dos carros quando estacionados na garagem. Agora que a casa e os veículos estão conectados, ele também pode usar as baterias para armazenar energia dos painéis solares do quintal, outra fonte não totalmente confiável devido ao clima irlandês.

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“Tive uma iluminação”, disse o engenheiro elétrico de 41 anos. “Há uma grande bateria no carro, que tal usá-la?”

Uma iluminação ainda maior está ocorrendo nas empresas de serviços públicos e fabricantes de veículos, que querem usar baterias de carros elétricos como armazenamento para toda a rede pública de energia elétrica. A ideia, chamada ‘do veículo à rede’, é que algum dia milhões de motoristas se tornem minicomerciantes de eletricidade, recarregando quando as tarifas são baratas e injetando energia na rede nos horários de pico ou quando o sol não estiver brilhando. Se funcionar -- ênfase no “se” --, a energia renovável pode ficar muito mais barata e ser usada muito mais amplamente.

Hoje, menos de 1 por cento dos veículos do mundo são elétricos, mas em 2040 mais da metade de todos os carros novos funcionarão com o mesmo insumo dos televisores, dos computadores e dos secadores de cabelo, segundo estimativas da Bloomberg New Energy Finance. Quando forem alimentados com a mesma fonte, os carros e todo o resto poderão dividir o mesmo sistema.

Na forma atual, a energia gerada pelos parques eólicos e solares é muitas vezes desperdiçada porque não há onde armazená-la. O estado da Austrália Meridional resolveu o problema investindo um total estimado em US$ 80 milhões a US$ 90 milhões para construir a maior bateria de íon de lítio do mundo na fronteira do Outback. O resultado é um enorme conjunto de caixas brancas que, em essência, é um enorme reservatório de eletricidade. Dentro estão as mesmas baterias que a Tesla usa em seus carros.

Mas e se esse reservatório fosse dividido entre milhões de carros que já estão nas ruas? Esse é o conceito ‘do veículo à rede’.

No mundo real, porém, há um emaranhado de complicações. Será preciso construir novas e elaboradas redes de computadores, fabricantes de veículos e empresas de energia precisariam colaborar e as pessoas teriam que parar de pensar nos carros como uma bolha privada. O principal problema prático é convencer os motoristas a recarregarem suas baterias quando há energia excedente e fazer com que retribuam quando a rede pública registra déficit, ao mesmo tempo garantindo que os carros nunca fiquem sem energia.

Jonn Axsen, professor associado da Universidade Simon Fraser, no Canadá, que estudou os sistemas ‘do veículo à rede’, diz que não está claro se as empresas de energia serão capazes de gerar reduções de custo suficientes para convencer os donos de carros a cooperarem. “Além disso, existe um problema de confiança entre alguns compradores de veículos elétricos no sentido de não confiar na empresa de energia local o bastante para permitir que gerencie a recarga de seu veículo elétrico”, disse, por e-mail.

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