Avell desafia multinacionais com notebooks gamer e conquista até dentistas
A empresa brasileira sediada em Joinville ampliou o foco para além dos games e dobrou faturamento em 2020; para 2021 a meta é repetir essa marca
Karina Souza
Publicado em 29 de julho de 2021 às 13h28.
Última atualização em 29 de julho de 2021 às 15h25.
Se você procura notebooks de alta performance, mas o nome Avell não lhe soa familiar, não estranhe. A empresa brasileira de equipamentos de alto desempenho estava voltada ao mercado de games até bem pouco tempo atrás. Apesar disso, não são só os jogadores de CS Go e League of Legends que procuram os aparelhos da empresa. Com placas gráficas de alta performance e telas com taxa de atualização ou fidelidade de cores acima da média, as máquinas também são procuradas por profissionais de diversos setores, como dentistas, arquitetos, engenheiros e editores de imagens.
Com uma estratégia diferente das também brasileiras Positivo Tecnologia e Multilaser, focadas em alto volume de vendas, a Avell busca se diferenciar pela inovação ao trazer ao país, o quanto antes, todas as novas tecnologias, como processadores de última geração da Intel ou placas gráficas, componentes cruciais para jogos e também para o uso de software visual -- de modelagem 3D para dentistas, por exemplo. Além dos dentistas, a alta capacidade de processamento dos computadores também chamou a atenção de arquitetos e profissionais de foto e vídeo, segundo a empresa.
Em busca de competitividade, a Avell mudou sua planta de fabricação de Joinville (SC) para Manaus, onde se concentram os principais fabricantes de eletrônicos que atuam no mercado brasileiro. A mudança também teve um motivo financeiro essencial: os benefícios fiscais melhores do que no restante do país.
“Agora, competimos diretamente com Dell, Acer, HP ou Lenovo”, afirma Emerson Salomão, fundador da Avell.
A companhia brasileira acaba de se mudar para uma nova sede, também em Joinville, no Ágora Tech Park. “Buscamos o centro tecnológico de Joinville porque temos muitos clientes na região. Há cerca de 250 empresas na área e temos uma parceria importante com a universidade local”, diz.
Tantas mudanças vão ao encontro do bom momento que a empresa enfrenta. Em 2020, o faturamento da Avell praticamente dobrou, atingindo a marca de R$ 120 milhões -- ante R$ 65 milhões em 2019.
A empresa já crescia cerca de 40% a 50% anualmente antes da pandemia, mas as restrições de circulação e a necessidade do home office colaboraram para impulsionar os negócios da empresa. Os números fazem sentido, se comparados com um estudo feito pela Intel, que mostra aumento constante das compras de PCs nos últimos três anos. Se antes esse crescimento era de 8% ano a ano, em 2020 explodiu e chegou a 27% só no Brasil.
No primeiro trimestre, o mercado continuava aquecido. A consultoria IDC Brasil projetava aumento de 8,6% nas vendas totais, sendo 17,3% impulsionados por compras feitas por empresas.
Com o objetivo de atender a esses consumidores, a Avell lança, em julho, uma nova linha de notebooks premium, pensando especialmente no público corporativo que não abre mão de velocidade e qualidade. O B.On tem autonomia de 14 horas e deve custar de 10 a 11 mil reais. O aparelho tem versões com processadores da Intel Core i5 e Core i7 da 11ª geração e possui a certificação premium Intel Evo, concedida apenas a notebooks topo de linha.
A ideia é enfrentar modelos consolidados, como o MacBook e o Dell XPS, de topo de linha. Questionado a respeito do preço mais baixo do que o da concorrência, Emerson explica: “Fabricar no Brasil reduz consideravelmente nossos custos e, além disso, mantemos uma parceria com a Intel, que permite alcançar preços atrativos mesmo com componentes de alta qualidade”.
Desafios
Falar em produção de itens eletrônicos é sinônimo de lembrar da crise de semicondutores que atinge o setor e causa impactos até mesmo em outros segmentos nem tão -- aparentemente -- tecnológicos assim, como o automotivo.
Mesmo diante da maior crise de fornecimento que o mundo enfrenta, a Avell afirma não enfrentar dificuldades severas que comprometam a produção. A principal consequência, até agora, foi o aumento do prazo de entrega de encomendas: se antes podiam ser feitas com até dois meses de antecedência, agora a exigência mínima é de seis meses.
A maior parte do aumento de custos com peças foi absorvida pela própria empresa, especialmente em produtos novos. Ao repassar uma pequena parte disso em aumento de preços, a empresa também procurou facilitar as formas de pagamento para os consumidores interessados.
“Antes, tínhamos parcelamento em até doze vezes ou desconto à vista. Hoje, empresas podem comprar em até 36 vezes ou optar por uma assinatura de até 60 meses para garantir novos equipamentos sempre”, diz Julia Salomão, gerente de marketing da empresa.
Na era em que é possível contratar quase tudo por assinatura -- supermercado, entretenimento e carros, por exemplo -- por que não deixar também que os consumidores tenham o computador de que precisam, sem precisar necessariamente da posse deles?
Mercado para isso existe. O Banco UBS divulgou recentemente uma estimativa de que o setor de assinaturas possa atingir US$ 1,5 trilhão em 2025 -- mais do que o dobro dos US$ 650 bilhões que movimenta atualmente.
E como conciliar os planos com o fato de ainda não ter o conhecimento de marca que as rivais multinacionais possuem? Para a Avell, a retomada econômica e da vacinação deve contribuir para popularizar a empresa.
Isso porque, antes da covid-19, a companhia participava de vários eventos pelo Brasil, investindo no networking com profissionais das áreas que mais compram os equipamentos de última geração.
No Instagram, a empresa conta com 61,4 mil seguidores. O número é dez vezes maior do que o do Twitter, mas ainda quatro vezes menor do que o do Facebook, plataforma em que registra 247 mil curtidas.
No ambiente presencial ou no digital, o mote da Avell é sempre o mesmo: qualidade. “Se você cresce e se torna popular pela alta qualidade que os produtos têm, fica mais fácil diversificar o portfólio lá na frente. Agora, crescer como uma empresa que faz ‘mais do mesmo’ pode trazer dificuldades para que o consumidor identifique um produto de alto nível atrelado à marca. Deixamos isso claro em todos os canais”, diz Emerson.