A CES continua relevante para o mercado de tecnologia?
A feira Consumer Electronics Show em Las Vegas ainda revela tendências, mas encara um consumidor que se interessa menos por hardware
Repórter
Publicado em 12 de janeiro de 2024 às 13h27.
Última atualização em 15 de janeiro de 2024 às 08h19.
A Consumer Electronics Show (CES), um dos mais tradicionais eventos de tecnologia do mundo, que ocorre em Las Vegas, chegou ao fim nesta sexta-feira, 12. Criada na distante década de 1960, a feira, hoje com 57 anos, era o grande centro para quem queria entender as tendências em eletrodomésticos e áudio, os grande produtos tecnológicos da época.
Ao longo dos anos, a feira viu os computadores dominarem os estandes e mais recentemente a inteligência artificial (IA). Também viu a dominância americana ser ameaçada por empresas japonesas, e atualmente, experimenta a invasão das marcas chinesas.
Mas muito mais do que a mudança de perfil de quem vai até a feira mostrar suas novidades, a CES por si só mudou. Muito disso, depois da pandemia de covid-19, quando precisou recorrer a uma edição virtual e outras seguintes limitadas em público.
Enfraquecida em relevância, a CES tem sido considerada secundária para algumas das maiores empresas do mundo, como a Apple e Microsoft, que preferem organizar seus próprios eventos para lançamentos. Como resultado, a CES deixou de ser o palco principal para inovações, dando lugar à exibição em massa de protótipos que, por vezes, nem chegam ao grande público.
Onze anos atrás, Matt Buchanan, importante analista de tecnologia, escreveu em um artigo do BuzzFeed News o motivo por não se preocupar mais em comparecer à CES, afirmando que, na era da internet, os eletrônicos não estavam mais no centro da forma como interagimos com a tecnologia, tornando a feira menor.
Hoje, é possível acrescentar o fato de que computadores e até os smartphones não são a grande força da relação. Claro, suas características de hardware ainda são importantes, mas o que move suas capacidades é o software, alocado, por vezes, nas nuvens e espalhado por dezenas de serviços.
Mas há quem fuja à regra. O setor de televisores continua a apresentar inovações significativas. A LG, por exemplo, revelou sua TV transparente, enquanto a Samsung demonstrou uma OLED sem reflexo. A Xgimi, empresa emergente, trouxe um projetor que também funciona como alto-falante Bluetooth e lâmpada de teto.
Na área de computadores, os fabricantes aproveitam a CES para apresentar novos conceitos e as versões mais recentes de laptops. O setor automotivo, apesar da ausência das grandes montadoras americanas devido a greves, viu marcas como Honda, Hyundai e BMW preencherem parcialmente esse espaço, exibindo veículos que mesclam tecnologia e condução. Até a Sony mostrou um carro elétrico com foco em fãs do PlayStation.
Permeando todos esses anúncios, estava a inteligência artificial (IA), uma tecnologia que já provou sua capacidade de ser onipresente. "Dar alma" a tudo e qualquer objeto é o futuro de quem quiser emplementa-la. Exemplos incluem robôs que servem vinho, assistentes domésticos e até um Volkswagen com ChatGPT integrado.
Na história no BuzzFeed de 2013, Buchanan deu um exemplo de uma influência menor da CES. Ela destacou que, das quatro empresas mais importantes em tecnologia naquele período, Apple, Amazon, Facebook e Google, nenhuma delas esteve na CES naquele ano. Avançando para 2024, Google, Amazon e Meta (controladora do Facebook) tiveram seus estandes na feira. Na verdade, o Google fez questão de colocar anúncios do sistema Android na megalomaníaca Sphere, a tela LED gigantesca de Las Vegas em forma redonda. Um sinal que, talvez, a CES ainda mostre o futuro do que usamos e compramos.