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Estudo reduz tempo de uso de remédio contra doença de Chagas

Trabalho mostra que terapia pode ser diminuída de oito para duas semanas, sem que a eficácia seja comprometida

O inseto barbeiro (Rhodnius prolixus), um dos transmissores da doença de Chagas (Erwin Huebner / Wikimedia Commons/Wikimedia Commons)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 14 de março de 2019 às 13h43.

Brasília — Resultados de estudo inédito coordenado pela Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) abrem uma nova perspectiva para o tratamento da doença de Chagas (DC), infecção que atinge aproximadamente 2 milhões de brasileiros e uma das quatro maiores causas de mortes por doenças infecciosas e parasitárias no país. Conduzido na Bolívia entre 2016 e 2017, a pesquisa científica mostra que a terapia com o medicamento benzonidazol pode ter sua duração reduzida de oito para duas semanas, sem que a eficácia seja comprometida e com melhora do estado geral do paciente.

O benzonidazol é usado desde a década de 80. Mas há entre parte dos profissionais uma resistência em indicar o tratamento na fase crônica da doença, porque a droga pode provocar efeitos colaterais significativos.

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"Mesmo quando indicado, boa parte dos pacientes acaba desistindo da terapia, por causa do mal estar", conta o diretor do programa clínico de Chagas do DNDi, Sérgio Sosa Estani. Entre os problemas relatados estão erupções cutâneas, intolerância gástrica e problemas neuromusculares.

No esquema de tratamento testado pelo estudo, no entanto, a taxa de abandono caiu de 20% para menos de 3% dos casos. "É um ganho importante", constata. Quando não tratada na fase crônica, a doença de Chagas ataca o coração e órgãos do sistema digestivo e pode levar à morte.

Além disso, a doença pode ser transmitida da mãe para o feto.Sosa Estani observa que o tratamento sem efeitos colaterais significativos permite a adoção de estratégias direcionadas, por exemplo, para o tratamento de mulheres em idade fértil. Isso ajudaria não apenas a preservar a saúde dessa população mas a evitar novos ciclos da doença.

A estimativa é que 6 milhões de pessoas no mundo estejam infectadas com o protozoário causador da doença, o Trypanosoma cruzi. A infecção pode ocorrer por meio da picada de insetos conhecidos como barbeiros, pela ingestão de alimentos contaminados, além da transmissão da mãe para o feto. Há ainda o risco de transmissão por transfusão de sangue - no Brasil muito reduzido, em virtude da melhora da vigilância. Na maioria dos casos, a doença de Chagas é assintomática nos primeiros anos da infecção. Mas em cerca de 30% dos pacientes a doença se torna crônica. Nesses casos, silenciosamente o parasita provoca danos no sistema cardíaco e digestivo.

Embora animadores, os resultados do estudo coordenado pelo DNDi ainda precisam ser confirmados por outros trabalhos. Sosa Estani conta que nesta próxima etapa DNDi inicia uma rodada de discussões com órgãos reguladores de países mais afetados pela doença para iniciar novos braços da pesquisa e, confirmado o resultado, liberar rapidamente essa nova indicação do tratamento.

O estudo foi feito em parceria com a Fundação Ciência e Estudos Aplicados para o Desenvolvimento em Saúde e meio Ambiente e a Fundação Mundo São. "Essa é uma das estratégias que avaliamos para tentar aumentar o arsenal terapêutico contra Doença de Chagas", contou Sosa Estani. Organização sem fins lucrativos, a DNDi trabalha na pesquisa e desenvolvimento de tratamentos para doenças negligenciadas. As pesquisas são feitas tanto com drogas novas quanto com novos esquemas de uso, como é o caso do benzonidazol.

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