Manifestação em São Paulo: em vez de propor soluções para o problema da previdência, os sindicatos querem acabar com medidas como o fator previdenciário (Marcelo Camargo)
Da Redação
Publicado em 6 de setembro de 2013 às 06h00.
São Paulo - Ao longo de quase cinco décadas, a administradora de empresas Tuulikki Ruuska-Kinnunen, de 69 anos, passou incólume pelos altos e baixos do mercado de trabalho finlandês. Conseguiu o primeiro emprego nos anos 60, quando a taxa de desocupação no país era de 2%. Manteve-se atuante mesmo nos anos 90, na maior crise da história do país, que fez a taxa de desemprego disparar para 16%.
Com esse histórico, poderia ter parado de trabalhar aos 62 anos, idade mínima para a aposentadoria na Finlândia. Mas Tuulikki decidiu postergar a carreira até os 68 anos. O motivo? “Queria aumentar o valor da aposentadoria.” Por ter ficado empregada mais tempo, Tuulikki conquistou o direito, para o resto da vida, de receber 4 000 euros a mais por ano — quase 13 000 reais pelo câmbio atual.
Histórias como a de Tuulikki têm se repetido cada vez mais na Finlândia. Em 2001, apenas 5% das pessoas acima de 65 anos estavam empregadas. Em 2011, a fatia passou para 12%, o maior avanço registrado na zona do euro. “A Finlândia apresenta uma das taxas de envelhecimento mais rápidas do mundo e, por isso, temos feito um grande esforço para prolongar o período de trabalho da população”, diz Paula Risikko, ministra de Relações Sociais e Saúde da Finlândia.
O país tem sido pioneiro na adoção de políticas inovadoras. Já na década de 90, montou um fundo para financiar o treinamento de trabalhadores da terceira idade e começou a veicular campanhas de divulgação para convencer as empresas a contratá-los. Em 2005, criou regras que passaram a incentivar trabalhadores como Tuulikki a ficar empregados mais tempo.
Quem decide se aposentar aos 62 anos ganha 70% da média de seus salários ao longo da vida. Os que esticam o vínculo empregatício por mais seis anos saem da ativa com uma aposentadoria equivalente a 90%. Os resultados dessa mudança nas regras não demoraram a aparecer.
Antes da reforma, a expectativa era que os gastos com previdência equivaleriam a 42% da massa salarial em 2030. Hoje, o governo estima o percentual em 33%. “A Finlândia tem como meta a solidez do sistema de previdência e deveria servir de exemplo”, diz Keith Ambachtsheer, diretor do Centro Internacional de Pesquisas de Gestão de Previdência da Universidade de Toronto, no Canadá, um dos centros de excelência nessa área.
O governo brasileiro é um dos que deveriam se inspirar no caso finlandês. Os brasileiros acima de 65 anos eram 5% da população no ano 2000, mas serão 18% em 2050. “Poderíamos começar instituindo uma idade mínima para quem para de trabalhar”, diz Marcelo Caetano, especialista em previdência social e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
Pelas regras atuais, os homens podem se aposentar após 35 anos de tempo de contribuição, e as mulheres, após 30 anos. Em 1999, o governo federal criou o fator previdenciário, segundo o qual quanto mais anos de contribuição e mais avançada a idade, maior o valor da aposentadoria.
O problema é que os incentivos não são considerados vantajosos pela maioria dos trabalhadores. Como é possível ganhar o equivalente a 70% da média dos salários a partir dos 54 anos, a idade média dos homens que se aposentam é muito baixa — 55 anos. “As pessoas recebem a aposentadoria e continuam a trabalhar”, afirma o economista Fabio Giambiagi.
Enquanto aqui as centrais sindicais querem derrubar o fator previdenciário, na rica Finlândia o governo estuda uma nova reforma. “Temos de agir agora para evitar problemas lá adiante”, diz a ministra Paula.