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Remy Sharp
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Saídas para o mar são históricos temas de confronto. Mas na América do Sul, após décadas de negociações, empresários brasileiros podem estar perto de ganhar sua “saída para o Pacífico” de forma menos traumática. Materializa-se na região o Corredor Bioceânico, iniciativa conjunta de Brasil, Paraguai, Argentina e Chile que consiste em um corredor rodoviário de mais de 2.000 quilômetros.

A rota liga o Atlântico ao Pacífico saindo do Porto de Santos, em São Paulo, com destino ao polo portuário do norte do Chile. Ano após ano, paulatinamente, a iniciativa continuou: foram várias pequenas obras em cada país (além do uso da estrutura já existente) para juntar o corredor. Faltam agora dois trechos no Paraguai, um já em construção na fronteira com o Brasil e outro licitado perto da Argentina.

“O corredor deixou de ser um sonho e está muito próximo da conclusão. Será um eixo de desenvolvimento, alavanca para vários outros negócios”, diz o ministro do Itamaraty João Carlos Parkinson de Castro, que há anos cuida das negociações pelo lado brasileiro.

O lado de lá do continente garante acesso valioso ao mercado asiático, onde está, entre outros, a China, maior compradora das exportações do Brasil. Hoje, essa rota é comumente feita do Centro-Oeste até o Porto de Santos e, depois, sobe o Atlântico para atravessar o Canal do Panamá.

A saída de carga de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, para a China pode cair de mais de 50 dias hoje para pouco mais de 20 se feita via Iquique, no norte do Chile.

(Arte/Exame)

O principal beneficiado é o Centro-Oeste brasileiro, com a promessa de que poderá exportar de forma mais competitiva e ter seu mercado integrado ao restante da região. Enviar um contêiner para a China pelo Corredor Bioceânico é aproximadamente 30% mais barato do que pela atual­ rota, saindo do Porto de Santos.

Além disso, estados da região poderão importar insumos, de trigo a componentes eletrônicos, com mais facilidade. Segundo Castro, não se trata de retirar oportunidades do porto paulista, mas de uma estratégia logística que tornará os mercados do interior mais competitivos.

“No futuro, o que eu espero é ver fábricas, novos negócios e oportunidades no interior do Brasil”, diz o ministro. 

Além do corredor em si, faltam outros pontos, como a estruturação do sistema portuário do norte do Chile para receber cargas da dimensão das vendidas pelo Centro-Oeste brasileiro.

O governador José Miguel Carvajal, da região de Tarapacá, onde fica o Porto de Iquique, afirma que está acordado com o governo Gabriel Boric — que se elegeu prometendo um Chile descentralizado “para além de Santiago” — o investimento de recursos para modernizar o sistema portuário do norte, que inclui também outros portos estratégicos, como o de Antofagasta.

Empresas brasileiras já começam a conversar com os chilenos para eventuais adaptações e investimentos. A ­EXAME acompanhou em São Paulo parte da comitiva de Carvajal, que veio para um encontro com Tarcísio de Freitas em fevereiro. Ainda neste ano, a ProChile, instituição do Ministério das Relações Exteriores chileno, também abrirá um escritório no Mato Grosso do Sul.

“Nos transformaremos em um polo logístico internacional que permitirá que os empresários brasileiros utilizem nosso sistema”, diz Carvajal. “Queremos gerar um intercâmbio comercial com os empresários daqui.”

Dos planos à realidade, a totalidade dos projetos pode levar algum tempo — mas, após anos de espera, a saída brasileira para o Pacífico começa de fato a se materializar.


Esta reportagem faz parte da seção Visão Global, disponível na edição de março da EXAME. Leia também as outras notas da seção: 

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