Clientes do Itaú: o banco foi o líder em rentabilidade sobre o patrimônio em 2017 (Felipe Gombossy/Exame)
Da Redação
Publicado em 7 de junho de 2018 às 05h00.
Última atualização em 7 de junho de 2018 às 05h00.
Ao longo dos anos, difundiu-se a ideia de que os bancos são um dos principais beneficiários da política de juros altos no Brasil. Dizia-se que, quando os juros caíssem, o setor bancário seria um dos grandes perdedores. Pois bem. Mesmo com a queda da Selic, a taxa básica de juros — reduzida de 13,75% ao ano no início de 2017 para 6,5% hoje —, os bancos brasileiros conseguiram aumentar a rentabilidade. De acordo com um levantamento exclusivo feito pela consultoria Economatica para a edição de MELHORES E MAIORES 2018 — que chegará às bancas em agosto —, os bancos brasileiros tiveram um retorno sobre o patrimônio líquido de 13,6% em 2017 ante 10,4% no ano anterior. “Os bancos brasileiros apresentam atualmente quase o dobro do retorno médio de empresas de outros setores”, diz Einar Rivero, gerente de relacionamento institucional da Economatica. “Eles obtêm também quase o dobro da rentabilidade alcançada por bancos de outros países.”
O corte do juro básico tem dois efeitos opostos nas instituições financeiras. “Se, por um lado, afeta negativamente os recursos em tesouraria dos bancos aplicados em títulos públicos, por outro, a queda- da Selic e a inflação controlada diminuem a percepção de risco, e os bancos passam a emprestar mais”, diz Clemens Nunes, professor de economia na Fundação Getulio Vargas. No balanço entre os dois efeitos, os bancos brasileiros claramente saíram ganhando. Entre os 41 bancos com mais de 100 bilhões de dólares de ativos que fazem parte da base internacional de dados da Economatica, o Itaú foi o que obteve a maior rentabilidade anual (18,7%). Em segundo lugar está a instituição canadense Canadian Imperial (16,6%). Outros bancos com operações no Brasil figuram entre os dez com maior retorno sobre o patrimônio — o Santander (14,7%) está na sexta posição, o Bradesco (14%) aparece na sétima e o Banco do Brasil (13,5%) é o nono. Campeão de rentabilidade, o Itaú teve em 2017 um lucro líquido de 25 bilhões de reais, 12% mais do que no ano anterior. “Esse resultado reflete as estratégias que estamos adotando há cinco anos, de reduzir as perdas com crédito, manter os custos abaixo da inflação, investir em novas tecnologias e ampliar a prestação de serviços”, diz Alexsandro Broedel, diretor executivo de finanças e relações com investidores do Itaú.
Uma das explicações para o bom desempenho dos bancos mesmo com a queda da Selic é que, por falta de competição no setor, não há pressão para as instituições repassarem a redução dos juros aos clientes. Embora os bancos afirmem ter repassado integralmente a redução da Selic em algumas linhas de crédito, os juros, de modo geral, continuam altos — no cheque especial, a taxa média para pessoas físicas é de 321% ao ano. “Os juros bancários estão caindo a uma velocidade muito distante do corte da Selic”, diz a economista Betty Grobman, sócia da BSG DuoPrata, um centro de capacitação em finanças. De acordo com ela, a parcela de lucro dos bancos com o spread — a diferença entre os custos de captação dos recursos no mercado e os custos de empréstimo aos clientes — mantém-se elevada. “No Brasil, dependendo dos produtos, de 17% a 26% dos spreads correspondem ao lucro dos bancos.”
A melhora da economia em 2017, ainda que modesta, também ajudou o setor bancário ao ampliar a venda de produtos como seguros e planos de previdência e diminuir o calote. “A redução da inadimplência é um fator relevante para o retorno dos bancos”, diz o economista Roberto Luis Troster. “Isso atenua as perdas por devedores duvidosos e, com isso, sobra mais dinheiro para os acionistas.” No Bradesco, a provisão para devedores duvidosos — uma das principais despesas dos bancos — caiu 24% em 2017. Isso ajudou o banco a fechar o ano com lucro líquido de 19 bilhões de reais, um crescimento de 11% em relação a 2016. “Conseguimos avançar nos resultados em razão de uma forte disciplina financeira, controlando a inadimplência e capturando as sinergias com a compra do HSBC”, diz Carlos Firetti, diretor de relações com o mercado do Bradesco. Nada mal para tempos difíceis.