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O agronegócio muda o mapa do brasil

O interior é o novo eixo de desenvolvimento, com a agricultura de exportação e pólos industriais descentralizados

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Da Redação

Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 17h46.

O mapa brasileiro da geração de riqueza requer atualização. Em meio à crise econômica do ano passado, consolidaram-se novos pólos regionais de desenvolvimento que tornam defasadas as estatísticas tradicionais. Ainda em grande parte desconhecido, o país que emerge dessas ilhas de prosperidade começa a chamar a atenção. Tome-se o Sul como exemplo. Em torno da cidade gaúcha de Caxias do Sul, empresas ligadas ao transporte têm sinal verde para crescer. A Agrale, fabricante de tratores, elevou as vendas em quase 80% no primeiro quadrimestre de 2004 em relação ao mesmo período de 2003. A vizinha Randon, produtora de autopeças, prevê faturamento 20% maior neste ano. São números que destoam do pífio crescimento nacional.

O retrato dessa conjuntura, porém, é só a ilustração de uma realidade mais abrangente. Esse Brasil pouco conhecido inclui as novas fronteiras agrícolas em expansão em Tocantins, Mato Grosso, oeste da Bahia, Vale do São Francisco e sul do Piauí e os pólos agroindustriais de Goiás. Só quando os resultados de 2003 forem incorpo rados ao cálculo da participação de cada estado e região na produção nacional será possível dimensionar todo o impacto da mudança. O rumo da transformação, no entanto, é inequívoco: a maioria das correções anotadas no mapa aponta para o agronegócio, que tem sido também motor do crescimento das exportações.

"Não há dúvida de que a economia no interior tem crescido mais que nas grandes cidades", afirma Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. "O fenômeno mais notável desse deslocamento é a expansão do Centro-Oeste." Capitaneada por Goiás, a região atrai empresas em número crescente. Não o tipo de empresa que na década passada buscava, principalmente, levar vantagem na guerra fiscal entre estados. Até porque a oferta dos governos está limitada. O tipo de empresa que se instala no Centro-Oeste procura não o favor concedido pelo estado, mas o ganho proporcionado pela exportação.


Se é verdade que a guerra fiscal perdeu relevância na definição do traçado do novo mapa da geração de riqueza, não se deve concluir que as empresas tenham deixado para segundo plano a questão dos custos, incluindo impostos. Reduzir custos e pagar menos imposto é receita vencedora, sobretudo em épocas de crise. Patamar salarial inferior, IPTU mais baixo, terrenos mais baratos, além de vantagens logísticas, como o escoamento da produção sem os engarrafamentos de trânsito das metrópoles, são razões que continuam levando muitas empresas a sair dos grandes centros industriais, nota Antônio Cor rêa de Lacerda, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos sobre Empresas Transnacionais e Globalização. "O país se interioriza", afirma Lacerda. 

Depois de o primeiro ano do governo de Luiz Inácio Lula da Silva ter passado ao largo do prometido espetáculo do crescimento, no início de 2004 a melhora verificada nos indicadores de produção apenas compensou o fraco desempenho da indústria nos meses anteriores. Ainda assim, e para continuar com a metáfora do espetáculo, merecem aplausos o agronegócio e a exportação, os carros-chefes da economia brasileira. O crescimento que alcançaram pode ser medido até pelo efeito multiplicador que produziram. Paulo Levy, diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, órgão do Ministério do Planejamento, diz que o desempenho nessas duas frentes explica, por exemplo, o fato de a produção de bens de capital ter crescido mais que a de bens duráveis.

Ele descarta da análise o primeiro semestre de 2003, período atípico, influenciado por juros elevadíssimos. No segundo semestre, ambos os setores registraram expansão acima da média nacional da indústria, de 8%. Os bens duráveis, mais dependentes do mercado interno, obtiveram alta de 16%. Os bens de capital (entre os quais material de transporte e máquinas para a indústria de exportação), de 22%. Enquanto a produção dos primeiros é concentrada no Sudeste, a dos últimos se espalha por outras regiões, sobretudo o Sul. Para Levy, a conclusão se impõe: "É natural que o maior dinamismo da economia esteja fora do eixo Rio São Paulo".
 

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