Revista Exame

O que Dilma quer para o Brasil

Para Dilma Rousseff, candidata do PT à presidência, o país tem tudo para inaugurar "Uma nova era de prosperidade". O que ela pretende - e o que ela não pretende - fazer nas áreas mais importantes da ecomomia

Dilma Vana Rousseff, 62 anos, candidata do PT (Germano Lüders/EXAME.com)

Dilma Vana Rousseff, 62 anos, candidata do PT (Germano Lüders/EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 15 de março de 2011 às 13h16.

Houve um tempo em que o herói de Dilma Rousseff era o guerrilheiro Che Guevara. No final dos anos 60, ela sonhava em mudar o mundo pela revolução, instaurando o regime socialista no país. Nascida no seio de uma próspera e tradicional família mineira - a alta burguesia, segundo o jargão marxista -, na juventude Dilma engajou-se em organizações trotskistas que combatiam a ditadura militar. Presa em janeiro de 1970, foi torturada e passou três anos na prisão. Depois de quatro décadas, hoje o herói e mentor de Dilma é o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um ex-sindicalista que se converteu no mais popular e pragmático líder brasileiro desde Getúlio Vargas. A despeito da falta de experiência eleitoral dela, e contrariando a ambição de caciques petistas, Lula - que a considera o mais eficiente e leal integrante de seu governo - inventou e patrocina a candidatura de Dilma à sua sucessão. "Ao mesmo povo que me dá o voto de confiança há sete anos, vou pedir para dar um voto de confiança à Dilma", disse Lula recentemente ao jornal Correio Braziliense. "Vou fazer campanha. Não pensem que vou ficar parado vendo a banda passar." Graças sobretudo à alta popularidade de Lula, em um ano Dilma saltou de meros 3% nas intenções de voto para cerca de 30%. Na disputa cada vez mais acirrada com o tucano José Serra, Dilma terá o desafio de convencer o eleitorado de que está à altura do cargo e que conseguirá não só manter as conquistas sociais e econômicas dos últimos anos como também comandar um novo salto.

Hoje, em vez do socialismo, ela é adepta do desenvolvimentismo, escola que prega a forte presença do Estado na economia, induzindo o investimento em infraestrutura e o crescimento da produção e do consumo. "Acreditamos no Estado indutor, que toma as medidas para que o ambiente de negócios seja adequado e também para viabilizar os investimentos do setor privado", disse Dilma a EXAME. "Um Estado omisso não é bom na prosperidade e não é bom na crise". Dilma - que é graduada em economia pela UFRGS e chegou a cursar mestrado e doutorado na Unicamp - tem como gurus o economista britânico John Maynard Keynes, pai da escola desenvolvimentista, e Maria Conceição Tavares, uma das idealizadoras do Plano Cruzado, de quem foi aluna na Unicamp. Favorecida pela vigorosa reação da economia brasileira diante da crise global, sua plataforma econômica se apoia no mantra publicitário "Uma nova era de prosperidade". A tese governista reza que, com programas como o Bolsa Família, o Luz para Todos e o Minha Casa, Minha Vida, Lula inaugurou um tempo de desenvolvimento e justiça social até então inédito na história do país. "Nós, do governo Lula, construímos as bases que possibilitaram romper com o passado de estagnação", diz Dilma. "O efeito maior de uma nova era de prosperidade é fazer com que as pessoas subam na vida." Ela também nota uma vantagem do próximo governante: contar com mais recursos. "No passado, o Estado estava quebrado. Agora temos dinheiro. Podemos fazer muito mais", diz. No afã de exaltar as glórias da atual gestão, a candidata não se furta a fazer uma leitura nada convencional dos fatos econômicos recentes - até mesmo a estabilidade monetária, forjada no Plano Real, é computada como conquista de Lula.


Como será a Dilma da campanha eleitoral? Encontrar a melhor resposta a essa pergunta é o desafio da hora dos cardeais petistas. Já é consenso que ela precisa se afastar da imagem de ministra durona dos últimos sete anos. Na manhã em que falou com a reportagem de EXAME, na mansão do Lago Sul que sedia sua campanha, em Brasília, uma elegante Dilma, que trajava um terninho preto e brincos de pérolas e brilhantes, distribuiu sorrisos. Conversas que provavelmente a irritariam nos tempos de ministério - sobre vestuário feminino, crianças e artes plásticas - agora fazem parte do script de candidata. Em seu aprendizado eleitoral e sua reconstrução de imagem, ela já se mostrou fazendo ovos mexidos na TV ou abraçando criancinhas em viagens pelo país. Aliás, o ritmo de campanha já é frenético. Na noite anterior à entrevista, Dilma havia voado para Fortaleza, e no dia seguinte, à tarde, teve uma agenda em São Paulo, incluindo um jantar com a apresentadora global Ana Maria Braga. O próprio Lula, porém, julga que ela ainda não encontrou o tom - sua aparição recente em um programa televisivo foi considerada sofrível pelo presidente, para quem ela ainda precisa deixar o tom professoral e as longas frases, indo direto ao ponto e, se possível, com emoção.

Também é considerado prioritário afastar quaisquer temores de um suposto "radicalismo esquerdista" de Dilma - não custa lembrar que Lula perdeu três eleições antes de encampar o modelo "paz e amor" que finalmente lhe rendeu a vitória. Se eleita, ela promete preservar o atual arcabouço macroeconômico. "Vamos manter o equilíbrio fiscal, o controle da inflação e a política de câmbio flutuante", diz. Suas propostas econômicas descartam os devaneios das franjas mais radicais do PT, que flertam com a reestatização da Vale e o controle dos meios de comunicação. "A Dilma conhece bem os problemas do Brasil e tem maturidade suficiente para não se envolver em aventuras", diz o deputado Michel Temer (PMDB-SP), presidente da Câmara dos Deputados e provável candidato a vice na chapa da petista. Entre os conselheiros econômicos da candidata despontam nomes respeitados no mercado, como um discretíssimo Antonio Palocci, um dos coordenadores de sua campanha, ao lado do ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel. Se no passado Dilma e Palocci travaram duros embates sobre a questão fiscal - ele é mais conservador do que ela na questão do gasto público -, hoje o ex-ministro da Fazenda é um elemento importante na campanha petista, promovendo a articulação com o setor empresarial e afiançando a continuidade da política econômica. Ao lado de Pimentel, Palocci está cotado para ocupar um ministério forte num eventual governo Dilma. Outro conselheiro importante é o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. "Se eleita, Dilma, que, além de boa economista, é uma brilhante gestora, irá trabalhar pelo aperfeiçoamento institucional do país, o que por sua vez irá contribuir para o crescimento sustentável", diz Coutinho. O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, um dos conselheiros econômicos do governo Lula, afasta o risco de uma volta ao passado. "Promover o desenvolvimento hoje é muito diferente do que era na década de 50. Antes, muitas economias eram fechadas. A globalização mudou tudo", diz. Segundo fontes petistas, entre os líderes do setor privado mais próximos do governo Lula - e, por extensão, de Dilma - despontam Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústria de Base; Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco; Sérgio Andrade, presidente do conselho de administração do grupo Andrade Gutierrez; Abilio Diniz, presidente do conselho do grupo Pão de Açúcar; e Paulo Simão, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção. A grande quantidade de representantes de empresas de construção civil e de infraestrutura, evidentemente, não é um acaso. Dilma é "a mãe" do Programa de Aceleração do Crescimento e do Minha Casa, Minha Vida, o grande projeto de casas populares do governo.


Uma proposta que certamente vai agradar ao meio empresarial é a da reforma tributária, incorporada à agenda econômica de Dilma para seu primeiro ano de governo, a fim de modernizar o sistema fiscal e aliviar o setor privado. "Temos de acabar com os tributos em cascata", diz Dilma. "Eles estão quebrando a nossa indústria." Cautelosa, apesar de simpática ao modelo de reforma tributária proposto pelo governo Lula, que previa a extinção gradativa do ICMS e um sistema de compensação para perdas das receitas estaduais - e que acabou naufragando no Congresso -, ela diz que só formataria seu projeto de reforma depois de consultar a nova safra de governadores, eleitos em novembro. Quando indagada sobre os fronts trabalhista e previdenciário, impregnados de uma legislação arcaica, que, por sua vez, infla o custo Brasil, Dilma é categórica. "O Brasil não é excessivo em matéria de direitos trabalhistas", diz, tomando como argumento a elevação do número de empregos formais criados nos últimos meses, fruto do crescimento da economia. "A Previdência está com um deficitizinho, mas está de certa forma equilibrada." É o discurso de uma candidata que não quer irritar boa parte do eleitorado - nem os integrantes de seu partido.

A questão, porém, não é quantos empregos foram gerados até agora, a despeito do arcaísmo da CLT, um conjunto de leis criado na longínqua era Vargas. Mas quantos seriam criados caso tivéssemos uma legislação mais flexível (e que não precisa ser sinônimo de exploração da mão de obra). O maior problema da Previdência, por sua vez, não é o presente. Mas o futuro. "As reformas tributária e previdenciária são imprescindíveis para o crescimento da taxa de investimentos no país", diz o economista Paulo Rabello de Castro, um dos maiores especialistas brasileiros em contas públicas. "Fazer a reforma tributária sem tocar na Previdência seria uma política capenga e um enorme desperdício de esforço. Isso porque um terço da carga tributária se destina a cobrir as despesas com a Previdência Social." Em 2010, o governo estima que o déficit da Previdência supere 50 bilhões de reais.

Vista como uma gestora de competência superior à de seus colegas de Esplanada, Dilma se diz fã da meritocracia.

"O Estado da era da prosperidade tem de ser meritocrático", diz. "Temos de fazer concurso, precisamos de funcionários de qualidade." No que diz respeito ao funcionalismo público - uma máquina cara, que neste ano deve custar 168 bilhões de reais ao Erário, e que em sua maioria presta serviços sofríveis à população -, ela promete avanços, sem dar detalhes. Também não explica por que o governo Lula pouco ou nada contribuiu para fazer avançar uma cultura do mérito no setor público. Desde 2003, a União contratou mais de 120 000 servidores. Depois de admitidos, eles gozam de privilégios, como estabilidade e aposentadoria integral. Na prática, raramente os servidores medíocres são punidos e as promoções resultam do tempo de casa.


A ascensão de Dilma no governo Lula foi gradual e consistente. De ministra importante no primeiro mandato, virou na prática a "primeira-ministra" no segundo. Em 2002, ao formar sua equipe de governo e discutir medidas para evitar um novo apagão, Lula começou a prestar atenção em Dilma, ex-secretária de Minas e Energia do governo gaúcho. Nos anos 70, em razão do casamento com o também então militante Carlos Araújo, de quem se separou nos anos 90 e que é pai de sua única filha, Paula, Dilma mudou-se para o Rio Grande do Sul. Anos mais tarde, ao conhecê-la em Brasília, sempre munida de um laptop, Lula ficou impressionado com seu conhecimento técnico. Contrariando o PT e o PMDB, que cobiçavam o cargo, ele fez de Dilma sua ministra de Minas e Energia. Em 2005, ela seria escalada para a Casa Civil, o mais alto posto ministerial, substituindo José Dirceu, tragado pelo escândalo do mensalão. "Do lado governista, não existe ninguém melhor do que ela para disputar a eleição", diz o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que a conhece desde os anos 80. "Além de aplicada, Dilma é íntegra e, com ela, terminaram os escândalos na Casa Civil."

Seu temperamento forte é quase um folclore em Brasília. Dilma nunca se constrangeu em dar broncas públicas em seus subordinados, os quais costuma submeter a longuíssimas jornadas de trabalho. "Quanto mais ela gosta da pessoa, mais exige", diz um ex-funcionário. Em uma reunião com empresários da construção civil, chegou a pedir que um dos presentes se calasse e desse a vez a outro. No governo, os únicos poupados de sua intempestividade seriam os chefes - Lula e o vice-presidente José Alencar -, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e os ministros da Defesa. Mas Dilma também parece se distinguir pela memória privilegiada para números e por sua capacidade de trabalho. "A ministra vai fundo nas questões e percebe de cara quando alguém dá um palpite superficial", diz Erenice Guerra, que a sucedeu na Casa Civil. "Para se preparar para uma reunião com ela, é preciso passar a noite anterior estudando o assunto", diz Graça Foster, sua antiga assessora, indicada por Dilma em 2007 para dirigir o departamento de gás e energia da Petrobras. Segundo Maurício Tolmasquim, mais um amigo próximo de Dilma, que o escalou para a presidência da Empresa de Pesquisa Energética, o jeito por vezes áspero dela é uma forma de perfeccionismo. "Às vezes, ela levanta a voz, mas é muito justa e quer que tudo dê certo."

Os que não se intimidam com a assertividade de Dilma são premiados com sua atenção. Foi o que aconteceu com Paulo Simão, presidente da CBIC, entidade que teve forte participação no modelo do programa Minha Casa, Minha Vida (informalmente batizado de Minha Casa, Minha Dilma, em referência a seu apelo eleitoral). "Numa reunião para discutir a burocracia envolvendo terrenos, ela chegou dizendo que já tinha decidido a questão e que só tinha 15 minutos disponíveis", diz Simão. "Eu disse que ela estava equivocada e fui fazendo algumas observações. O resultado é que, além de nos ouvir por mais de 2 horas, ela mudou suas posições." Ao incorporar as sugestões do setor privado, o novo programa habitacional adquiriu agilidade. De acordo com a Caixa Econômica Federal, ele já financiou 400 000 moradias. Mas a gestora Dilma também foi responsável por realizações bem menos vistosas, como o PAC e a reorganização do setor elétrico. O PAC, apesar dos esforços de marketing, enfrenta mazelas que vão de atrasos no licenciamento ambiental a denúncias de corrupção. De acordo com dados oficiais, 40% das obras já foram concluídas. Segundo a ONG Contas Abertas, o cenário seria bem pior, com apenas 11% de conclusão - o que não impediu o lançamento de um ruidoso PAC 2. No setor energético, o país tem sofrido com miniapagões e acaba de assistir a um conturbado leilão da usina de Belo Monte.


Reservada quanto à vida afetiva, Dilma se limita a dizer que não está namorando. E, se no passado era evasiva quanto à fé religiosa, hoje diz que acredita em Deus. Entre os amigos de juventude, desde os tumultuados anos 60 Dilma já se destacava. "Ela sempre liderou nossas discussões políticas", diz Fernando Pimentel, seu colega de militância na organização Colina, o Comando de Libertação Nacional. "Dilma era eclética. Lia de Marcel Proust, em francês, a clássicos de esquerda, como Marx e Engels." Hoje, nas horas de folga, continua fiel aos clássicos e ao rock’n’roll. "Ela gosta de ópera e pintura", diz Graça Foster. "E, quando está muito contente, adora cantar Lucy in the Sky with Diamonds, dos Beatles." Outro amigo da juventude, o deputado José Aníbal (PSDB-SP) considera a candidata petista "uma mulher admirável e corajosa". Mas, para Aníbal, engajado na campanha de Serra, Dilma é uma candidata ainda crua. "Como nunca disputou uma eleição e é turrona, na Presidência teria dificuldade para lidar com o Congresso."

Acima do tiroteio partidário, o cientista político David Fleischer, da UnB, aponta mais um desafio crucial para a candidata. "A grande dúvida é saber o papel de Lula no governo dela", diz. "É ela que vai mandar?" De agora em diante, sob crescente escrutínio público, Dilma enfrentará mais uma prova de fogo: demonstrar que, apesar de não ter o carisma de seu chefe, tem luz própria e está à altura de ser a primeira mulher a envergar a faixa presidencial.

"Entramos numa nova era de prosperidade"

Em entrevista a EXAME, a candidata do PT defende o governo Lula, a presença forte do Estado na economia e as reformas política e tributária. No campo trabalhista, para ela, não há necessidade de mudanças:

EXAME - Num eventual governo Dilma Rousseff, qual seria o papel do Estado na economia?

Dilma Rousseff - O mérito do governo Lula foi fortalecer o Estado, abrindo uma nova era de prosperidade para o Brasil. Acreditamos no Estado indutor. O que é isso? É aquele Estado que, no meio da crise, fornece o crédito. Esse fortalecimento estatal foi uma mudança conturbada, pois pegamos o país em situação precária. Vale a imagem: trocamos o pneu com o carro em movimento. Fizemos um duro ajuste e agora temos condições de recompor o planejamento do país. O Estado indutor precisa assegurar as condições para que o crescimento ocorra. Mas note que o Estado não precisa necessariamente produzir nem construir ferrovias ou hidrelétricas. Ele tem de dialogar com o setor privado. Ressalto que há, agora, uma vantagem que não tínhamos antes: dinheiro. No passado, o Estado estava quebrado. Hoje não. Colocar a questão do investimento na ordem do dia não é retórica. É assegurar crédito, planejamento e projetos.


EXAME - Mas o Estado vai ter dinheiro para tudo o que precisa ser feito no Brasil?

Dilma Rousseff - Não. Podemos fazer algumas coisas, mas não dá para financiar todo o investimento de longo prazo. Vamos precisar tanto do mercado de capitais quanto dos bancos privados nacionais e internacionais. Precisamos criar as condições para que o capital estrangeiro venha. Nosso mercado já é muito atraente, pois temos oportunidades de projetos novos. E respeitamos contratos. Outro dia me perguntaram, se somos contrários à privatização, por que não retomamos as estatais vendidas no passado. Por um motivo simples: respeitamos os contratos. Se o governo passado fez, nós respeitamos.

EXAME - A senhora reestatizaria a Vale ou o sistema Telebrás?

Dilma Rousseff - Não. Mas acho gravíssimo pretender privatizar o Banco do Brasil e a Caixa Econômica ou transformar o BNDES em agente de privatização do patrimônio público. Também sou contra pegar a Petrobras e dividi-la em nacos para vendê-la. Já quanto à privatização das teles, não vejo problema algum. Não acho a telefonia grande coisa hoje. No caso das empresas de minério, é preciso um marco regulatório. Sem isso, os negócios ficam um pouco soltos.

EXAME - Se a senhora for eleita, quais serão suas prioridades em termos de reformas?

Dilma Rousseff - São duas: a política e a tributária. Precisamos aperfeiçoar as instituições do país, e a reforma política é fundamental. No front econômico, a tributária é a reforma das reformas. Mas é também a mais difícil de passar, em função da questão federativa. A reforma tributária somente será aprovada se houver algumas compensações para os estados.

EXAME - Seria uma reforma ampla ou pequenas mudanças que desonerassem a economia?

Dilma Rousseff - O bom seria que a gente pudesse fazer uma reforma com R e T maiúsculos. Mas antes é de bom tom negociar com os governadores eleitos. O fundamental é acabarmos com os tributos em cascata. Precisamos de um sistema tributário mais simples e transparente. Veja a questão da desoneração da folha de pagamentos. É uma distorção desprezar quem emprega mais. Pretendo encampar a reforma no primeiro ano de mandato.


EXAME - A senhora faria uma reforma trabalhista?

Dilma Rousseff - Não precisamos flexibilizar a legislação do trabalho. Isso leva à redução de direitos e à redução de salário. E não acho que temos problema de excesso de greves ou de direitos. Vale lembrar também que os operários brasileiros tiveram um comportamento irrepreensível diante da crise. Quando eles se queixaram de que as demissões eram desnecessárias, estavam cobertos de razão.Tanto que os empresários tiveram de correr para readmitir muita gente.

EXAME - E a reforma previdenciária?

Dilma Rousseff - Na Previdência demos uma demonstração de que a questão está superada. É como o presidente Lula sempre fala: a Previdência está quase equilibrada. Temos um deficitizinho, mas que é devido à política social, especialmente a aposentadoria rural. Quando a economia cresce e se contratam mais trabalhadores, como consequência também cai o déficit previdenciário. Que papel o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci teria no seu governo? Posso falar do papel dele na minha campanha, como um dos coordenadores. Mas não mais do que isso, até porque ainda estamos em pré-campanha. O que posso dizer é que não o escolhi para a campanha sem motivos. É um dos grandes quadros políticos do PT e do governo.

EXAME - O que pretende ver feito após quatro anos de um eventual mandato?

Dilma Rousseff - Eu vou repetir o mantra: quero dar mais um passo na nova era de prosperidade que se abre para o país. O Brasil cresce mais e as pessoas também. A mobilidade social voltou. Mobilidade é fazer com que as pessoas das classes D e E passem para a C. E fazer com que a classe C enriqueça. E isso faz de nós um grande país de consumidores. É inconcebível que, no capitalismo, um cidadão não seja consumidor.

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