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Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h39.
Última atualização em 10 de outubro de 2019 às 16h44.
Já é classica a comparação entre Brasil e Coréia, dois países igualmente pobres nos anos 60, o início do milagre coreano. Meio século depois, os coreanos pertencem ao clube dos ricos — e o Brasil, bem atrás na corrida das nações, só agora começa a vivenciar um ciclo mais robusto de crescimento. Não estamos mal na foto de 2010, mas o país da vez é outro emergente asiático, a China. Há alguma lição comum das histórias de chineses e coreanos? "Eles demonstram o poder da ambição", diz o economista José Alexandre Scheinkman, da Universidade Princeton, uma das mais prestigiosas do mundo. Cada um a seu tempo, os dois países poderiam se contentar com os primeiros sucessos. Mas resolveram ir além, elevando progressivamente o nível de exigência usado para qualifi car o próprio sucesso. Para Scheinkman, estimular a nossa própria ambição talvez seja o que melhor possamos fazer agora.
EXAME - Qual é a sua visão sobre o governo Lula?
Scheinkman - Há um sentimento misto. Em seu início de mandato, Lula poderia ter causado uma crise econômica no país. O ambiente macroeconômico não estava consolidado e foi preciso aumentar o superávit primário para melhorar a estabilidade e fazer algumas reformas de longo prazo. Infelizmente, as inovações importantes ocorreram principalmente nos primeiros três anos. Refiro-me à reforma da Previdência e às reformas microeconômicas, como a Lei de Falências. Mas temos muito, mas muito ainda por fazer.
EXAME - O senhor pode dar exemplos?
Scheinkman - Falamos pouco no Brasil da abertura ao comércio. Não somos mais uma economia fechada, mas podemos avançar muito. Ao se abrir, os países podem dedicar os recursos à produção do que fazem melhor. Isso gera riqueza. Se eu decidisse fazer minha própria carpintaria em vez de estudar economia, seria mais pobre e teria uma casa pior. Foi o que ocorreu com o Brasil quando fechamos o mercado de computadores. Somos mais abertos hoje, mas as tarifas ainda são altas, e a regulamentação, complexa. Falta também um programa para ajudar as fi rmas a exportar. E a péssima infraestrutura atrapalha o comércio.
EXAME - Em termos de reformas, o que ainda falta fazer?
Scheinkman - A principal é a reforma fi scal, que deveria ter como meta central diminuir a informalidade. Precisamos de impostos menores que sejam facilmente cobrados. A reforma deveria diminuir os impostos sobre o trabalho, incrivelmente altos. Uma boa ideia é dispensar os encargos até certo valor salarial. Para quem ganha muito o efeito seria pequeno, mas para quem ganha pouco o alívio seria enorme. A reforma fi scal também contribuiria para elevar a poupança do país e deixaria o controle da infl ação menos dependente da política de juros. O país cresceria mais.