Revista Exame

Melhores do Mercado: conheça os gestores dos fundos vencedores

A EXAME premia os gestores dos fundos que melhor souberam aliar performance, consistência e gestão de risco nos últimos dois anos

 (Estúdio Daó/Exame)

(Estúdio Daó/Exame)

BQ

Beatriz Quesada

Publicado em 23 de março de 2022 às 15h00.

Última atualização em 23 de março de 2022 às 16h19.

A indústria de fundos enfrentou um ano desafiador em 2021. O ano começou com a taxa básica de juro em 2% ao ano, o Ibovespa na casa dos 120.000 pontos e uma economia que crescia 3% na ponta, com a inflação dentro da meta. Depois de muita volatilidade, segunda onda da pandemia, mudanças na âncora fiscal do teto de gastos e até ameaça de ruptura institucional, o país encerrou 2021 com a Selic em 9,25% ao ano e projeção acima dos dois dígitos, o bench­mark da bolsa brasileira pouco acima dos 100.000 pontos, um PIB em franca desaceleração e uma inflação acima de 10%.

Nesse ambiente adverso e recheado de incertezas, o trabalho dos gestores que administram mais de 15.000 fundos de investimento no país se tornou muito mais complexo. Mas não faltaram casos de profissionais que não apenas preservaram o patrimônio dos cotistas como também conseguiram entregar rentabilidade, além de limitar a exposição ao risco. Para reconhecer seu trabalho e sua competência, a EXAME apresenta o prêmio Melhores do Mercado.

Trata-se da nova edição do mais tradicional ranking de fundos do mercado de capitais do país, com mais de duas décadas de história e a credibilidade que só a EXAME, prestes a completar 55 anos de existência, possui. O ranking foi elaborado pela consultoria Quantum Finance a partir de uma metodologia definida pela EXAME com a ajuda de especialistas, premiando aqueles que melhor souberam combinar performance, consistência e gestão de risco (a metodologia completa está no site da EXAME) nos últimos dois anos de pandemia e, em particular, em 2021. 

Veja os depoimentos dos gestores à frente dos 18 fundos premiados em seis categorias, das quais duas de renda fixa, duas de multimercado e duas de ações, além da gestora do ano pelo seu desempenho abrangente. Eles contam as estratégias que levaram aos resultados destacados de 2020 e 2021. Também apresentam sua visão para o ano que começou com inflação, aperto monetário, guerra entre Rússia e Ucrânia e ainda terá eleição presidencial.  


GESTORA DO ANO

Aposta na presença global

SPX Capital ganha principal prêmio do Melhores do Mercado graças ao peso de sua operação no exterior

Nos últimos anos, a SPX Capital se tornou uma das gestoras brasileiras com maior presença global. Com mais de 63 bilhões de reais sob gestão, a casa fundada em 2010 por Rogério Xavier, Daniel Schneider e Bruno Pandolfi fez justamente da internacionalização um dos pilares que a levaram a ter desempenho destacado nos últimos dois anos, a ponto de ser eleita a Gestora do Ano do Melhores do Mercado da EXAME.

Xavier, um dos mais respeitados gestores do país, Pandolfi e Schneider comandam a SPX do escritório de Londres, junto com Leonardo Linhares, que completa o comitê executivo e fica no Rio de Janeiro. A gestora conta com cerca de 200 profissionais, dos quais 35 em Londres e outros 15 em Nova York. Em sua maioria, os colaboradores no exterior atuam com análise e gestão.

“Cerca de 70% de nosso retorno em 2021 veio de fora do Brasil. Isso aconteceu nos últimos três anos. Muito disso é fruto da expansão global da SPX”, disse Pandolfi à EXAME. Ele é o gestor à frente do SPX Nimitz, que ficou em segundo lugar na categoria multimercado com estratégia Macro. O fundo teve rentabilidade de 11,45% no último ano, o equivalente a 259% do CDI no período.

Linhares, por sua vez, comanda a área de ações, o que inclui o SPX Falcon, em segundo lugar na categoria Long Bias, com retorno de 6,49% em 2021, enquanto o Ibovespa perdeu 11,93%. Os gestores souberam antecipar o ciclo de aperto monetário e montar posições defensivas, antevendo ainda no segundo semestre que a inflação seria mais acentuada e persistente do que parte do mercado apontava.  


ENTREVISTA COM LEONARDO LINHARES E BRUNO PANDOLFI

Cautela e resiliência

Leonardo Linhares, diretor executivo da SPX, no escritório da gestora no Rio: guerra alimenta ainda mais a inflação global (Leandro Fonseca/Exame)

Leonardo Linhares e Bruno Pandolfi, sócios da SPX Capital, alertam para o impacto da guerra sobre os juros e apontam ações para atravessar a nova crise | por Marcelo Sakate e Guilherme Guilherme

A guerra entre Rússia e Ucrânia terá implicações que vão além do agravamento da inflação global, com efeitos sobre os juros e a forma como o sistema financeiro opera. No Brasil, por outro lado, a alta do preço de commodities como o petróleo deve exercer efeito limitado, dado que o ciclo de aperto monetário já dura um ano e a atividade econômica está “muito fraca”. Essa é a visão de Leonardo Linhares e Bruno Pandolfi, sócios e membros do comitê executivo da SPX Capital, eleita a gestora do ano de 2021 pela EXAME. Confira trechos da entrevista à EXAME: 

Qual é a expectativa para a inflação global com a guerra entre Rússia e Ucrânia? 

Leonardo Linhares: Há grandes consequências. O mundo vai gastar mais em armamento, principalmente na Europa. Os países devem se dividir mais em blocos econômicos e até financeiros, devido às sanções sobre a Rússia. O modelo globalizado, em que o dólar representa 100% do sistema financeiro global, vai ser rediscutido. Além disso, como Rússia e Ucrânia são grandes produtoras de commodities, há um novo choque de oferta, o que dificulta o crescimento econômico. Há um impulso para o preço não só de petróleo e gás natural mas também de fertilizantes, aço, minério de ferro, níquel e commodities agrícolas. Isso tudo vai alimentar ainda mais a já elevada inflação global.

O preço do petróleo foi um dos temas centrais do último Copom. O Banco Central terá de subir a Selic acima de 12,75% ao ano? 

Bruno Pandolfi: O Banco Central vai puxar a Selic em mais 100 pontos-base [para 12,75%] na próxima reunião. Mas, em vez de continuar puxando, quer ficar parado por um tempo. Diferentemente de outros bancos centrais, o do Brasil está subindo os juros há um ano. E tem o efeito lag [atraso] da política monetária. Não faz sentido o BC puxar muito os juros para combater choque de oferta. A atividade está muito fraca. Como os juros no Brasil já estão mais restritivos, não acredito que o petróleo terá grande impacto nos juros. 

E nos Estados Unidos e na Europa? 

Pandolfi: Para os bancos centrais desenvolvidos, especialmente para o americano, o efeito é nitidamente de juros para cima. Nos Estados Unidos, a alta da inflação está ligada ao petróleo. Mas, como são autossuficientes em gás, eles têm vantagem em relação à Europa. O choque na Europa vai causar muito mais inflação. Isso pode levar a alguma disrupção no consumo, porque o preço do gás subiu muito para o consumidor. O BCE [Banco Central Europeu] deve promover até duas altas de juros neste ano, mas o efeito sobre a atividade é mais dúbio, porque, além da alta das commodities, há efeitos sobre a cadeia de produção.

Como fica o cenário para a bolsa brasileira? Ações ligadas ao consumo doméstico continuam a sofrer? 

Linhares: O cenário é negativo. O país vai crescer pouco, o ciclo de alta de juros está próximo do fim, e a inflação segue elevada e com mais pressão inflacionária. É difícil achar que os resultados internos não vão decepcionar. O cenário é ruim, mas tudo isso já é consenso. Não é algo generalizado, mas há bons preços sendo formados. Não só pelo fluxo de saí­da [em ações], mas a alta incerteza do cenário tem levado os agentes de mercado a diminuir o prazo de investimento e operar mais no curto prazo. Isso amplifica os efeitos das decepções. O momento exige escolher empresas mais resilientes, que não tenham muita alavancagem financeira e que, passado o pior cenário, tenham capacidade de gerar resultados. É um jogo em que se tem de tomar bastante cuidado para evitar companhias que vão decepcionar muito. 

A SPX aumentou sua exposição ao exterior aproveitando a queda das ações neste início de ano? 

Linhares: Em certos temas globais que queremos operar, tentamos buscar no exterior ativos em que a variável principal seja muito parecida com a do Brasil, mas a preços menores. Neste ano, estávamos animados com a parte de petróleo e substituímos posições que tínhamos no Brasil por petrolíferas europeias. O desempenho [operacional] seria parecido, mas poderia haver algum estresse pelo fato de a Petrobras não repassar a alta de preços, pelo risco Brasil ou por qualquer coisa no país sem levar em conta o cenário de alta do petróleo. O objetivo tem sido mais esse do que substituir o risco direcional. Foram mais substituições.  


Conheça a seguir os 3 primeiros colocados de cada categoria:

Renda Fixa | Crédito Privado High Grade: ARX Investimentos e o top 3

Renda Fixa |  Debêntures Incentivadas: CA Indosuez e o top 3

Multimercado | Macro: Kapitalo Investimentos e o top 3

Multimercado | Long Short & Equity Hedge: Solana Capital e o top 3

Ações | Long Bias: Absolute Investimentos e o top 3

Ações | Long Only: IP Capital Partners e o top 3

 

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