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“Batemos no fundo do poço", diz presidente da Nissan no país

Para François Dossa, presidente da montadora Nissan no Brasil, o mercado automobilístico vai ter um ano de recuperação em 2017


	François Dossa, da Nissan: “Há uma demanda reprimida por carros no Brasil”
 (Aline Massuca/Valor /Folhapress / EXAME)

François Dossa, da Nissan: “Há uma demanda reprimida por carros no Brasil” (Aline Massuca/Valor /Folhapress / EXAME)

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Da Redação

Publicado em 17 de setembro de 2016 às 05h56.

São Paulo — Economista formado pela École des Hautes Études Commerciales de Paris, o francês François Dossa trabalhou 23 anos no setor bancário brasileiro antes de assumir a presidência da montadora Nissan no Brasil em 2013.

Nos dois anos seguintes, viu a produção do setor cair de 3,7 milhões de unidades por ano para 2,4 milhões. Hoje Dossa diz que o pior já passou. “O PIB deverá crescer em 2017 e há uma demanda reprimida por carros”, diz. Leia a seguir a entrevista que ele concedeu a EXAME.

Exame - Em 2012, o Brasil era o quarto maior mercado de carros do mundo em termos de unidades vendidas. Hoje é o sétimo. É possível recuperar o terreno perdido?

François - O Brasil tem capacidade para voltar a ser, pelo menos, o quinto. Quando conseguirá, não há como saber. O que sei é que as vendas não vão cair mais do que já caíram. Já batemos no fundo do poço. Com a estabilização política, as expectativas voltaram para um nível mais positivo.

Exame - O que atrapalha mais: a falta de crédito para financiamento ou a desconfiança do consumidor?

François - A desconfiança do consumidor, sem dúvida. A crise política e o aumento do desemprego criam um efeito psicológico devastador. A falta de crédito atrapalha, mas não tanto. Ainda existe crédito. O que mudou é que os bancos ficaram mais cautelosos.

Exame - Quando as vendas devem voltar a aumentar?

François - Acreditamos que no ano que vem já teremos uma boa recuperação, por dois motivos. O primeiro é que o PIB deverá voltar a crescer. Este segundo semestre de 2016 já será bem melhor. Pelas nossas estimativas, a economia vai crescer 2% em 2017. O segundo motivo é que há uma demanda reprimida.

Não houve uma razão concreta para justificar a queda de cerca de 30% nas vendas do setor. Não é que 30% da população tenha perdido o emprego. Muita gente ficou assustada e adiou a compra do carro. Com a melhora das expectativas, essas vendas vão ser retomadas.

Exame - O pessimismo está se dissipando?

François - Hoje o nível de pessimismo ainda é alto, algo nunca visto no Brasil. Mas estou certo de que vai passar. O Brasil não caiu num buraco negro.

Exame - O que o faz ter tanta certeza?

François - Este país tem uma força muito grande. O Brasil tem commodities, uma indústria diversificada, gente competente e treinada e um enorme mercado consumidor. Apesar de tudo, isso não desapareceu.

Exame - O que ficará como lição da crise?

François - O importante para o país é ter consistência no que faz e fala. As inconsistências dos últimos anos prejudicaram nossa imagem internacional. Agora estamos num momento que podemos mudar de patamar. O combate à corrupção que vemos hoje vai fazer o Brasil melhorar.

Exame - A Nissan inaugurou uma fábrica em 2014. Por que a empresa foi em frente com a decisão de investir no país quando o mercado estava em queda?

François - Tentamos ir na contramão. Quando se faz uma análise de risco do Brasil, fica claro que se deve investir aqui. Neste ano vamos contratar 600 pessoas na nova fábrica no es­tado do Rio de Janeiro para abrir um segundo turno. O plano é surfar a onda da retomada.

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