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As barreiras ao otimismo

Investidores estão no mundo da lua, insensíveis à epidemia? A resposta simples é: não. Os mercados estão antecipando uma reabertura da economia

Protestos nos Estados Unidos: o sistema político continua levando a uma crescente polarização (Jeenah Moon/Reuters)

Protestos nos Estados Unidos: o sistema político continua levando a uma crescente polarização (Jeenah Moon/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 4 de junho de 2020 às 05h30.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 12h43.

No dia do fechamento da última edição da EXAME, dois eventos aparentemente contraditórios dominaram o noticiário. De manhã, o Ibovespa batia mais uma vez a marca dos 90.000 pontos, acumulando uma alta de 30% em 30 dias (nesta segunda-feira, 8, chegou a 97 mil). De noite, o país registrava 30.000 mortos pelo novo coronavírus, com mais de 500.000 casos e uma escalada que, segundo os especialistas em saúde pública, está longe do fim.

Os investidores estão no mundo da lua, insensíveis à epidemia? A resposta simples é: não. Os mercados antecipam eventos e, neste caso, estão antecipando uma reabertura da economia e uma recuperação pós-pandemia que também poderá ser histórica. As oportunidades criadas pela crise levaram mais de 500.000 investidores brasileiros a comprar ações em 2020, como mostra a reportagem de capa desta edição. É a continuação de um fenômeno iniciado há três anos, com uma queda histórica dos juros.

Sem o conforto da poupança, uma leva inédita de brasileiros, sobretudo jovens e mulheres, começou a comprar ações. O movimento, portanto, faz todo o sentido. Mas a volúpia com que acontece pode sinalizar um otimismo excessivo. Renato Mimica, diretor da EXAME Research, conta em entrevista para esta edição que há risco de novas ondas de contágio e que a deterioração econômica será drástica em 2020, mas que o rali nas bolsas poderá continuar com as reaberturas.

Uma reportagem desta edição mostra como o mundo está distante de uma imunização total pela covid-19, o que afastaria o risco de novas ondas de contágio. Outra matéria mergulha no Brasil que perdeu o emprego, mostrando como o avanço da tecnologia e o peso da informalidade formam uma combinação tóxica para o país. Outras incertezas no radar são a crise social e a divisão política que nos últimos dias levaram a grandes protestos nos Estados Unidos e a manifestações menores, mas violentas, no Brasil.

Como precificar um risco político dentro de uma pandemia? A confluência de incertezas deve levar a semanas caóticas pela frente. Na bolsa, e no câmbio, não há de ser diferente. O otimismo das últimas semanas deve dar lugar a uma volatilidade que combina mais com a alta octanagem deste 2020.

Como diz o cientista político Fernando Schüler em entrevista na página 23, na economia as pessoas querem dinheiro, estabilidade e paz. Mas o sistema político vive num universo paralelo, que leva a uma crescente polarização. É quando Brasília e Washington jogam contra os novos investidores ou nublam ainda mais o futuro de milhões de desempregados. Por outro lado, a pandemia tem reforçado um caminho sem volta, o da inclusão, como mostra o Guia EXAME/Ethos de Diversidade.

A conclusão que emerge do caos: uma sociedade mais justa gera mais oportunidades e cria mais riqueza. Todos sairiam ganhando se o otimismo da bolsa se comprovasse na prática. Mas a corrida seguirá com (muitas) barreiras.

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