Revista Exame

Apple rumo a 1 trilhão de dólares?

Para os analistas, 2012 será o melhor ano da história da Apple. Alguns já esperam que o valor de mercado supere a marca, jamais atingida por nenhuma empresa — e isso desperta o receio de uma bolha em formação

Tim Cook, da Apple: nos próximos meses, carteira cheia de lançamentos (Kevork Djansezian/Getty Images)

Tim Cook, da Apple: nos próximos meses, carteira cheia de lançamentos (Kevork Djansezian/Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 25 de maio de 2012 às 10h46.

São Paulo - A bolsa de valores de Nova York acordou em compasso de espera no dia 24 de abril. Ao final daquela terça-feira, a Apple anunciaria os resultados do segundo trimestre de seu ano fiscal. Antes de o pregão se iniciar, a AT&T e a Verizon, as duas maiores operadoras de telefonia dos Estados Unidos, divulgaram vendas de iPhone abaixo do esperado.

Foi aí que uma dúvida — e o mercado não costuma gostar de dúvidas — tomou conta dos investidores: será que a Apple apresentaria números capazes de sustentar o crescimento de quase 60% em suas ações neste ano?

A preocupação não era só de quem tinha ações da maior empresa do mundo em valor de mercado, avaliada em mais de 520 bilhões de dólares, mas de todos os investidores. Afinal, o impacto de uma má notícia da companhia que tem o maior peso nos principais índices da Nyse seria enorme. 

Depois de um dia inteiro de especulações, o que chegou a derrubar o preço dos papéis da companhia em 2%, a Apple mais uma vez superou as expectativas mais favoráveis. A empresa, cujo ano fiscal começa no dia 1o de outubro, faturou entre janeiro e março deste ano 39,2 bilhões de dólares, crescimento de 62% em relação ao mesmo período do ano passado.

Mas o que mais chamou a atenção foi o lucro líquido de 11,6 bilhões de dólares, 94% mais do que o do segundo trimestre de 2011. Foi o suficiente para acalmar Wall Street e elevar as ações da Apple em 7% até o fim do dia. De certa forma, parecia a repetição do filme visto no início do ano.

Os resultados do primeiro trimestre foram tão bons que parte do mercado se referiu a eles como “perfeitos”. Exagero? Nos últimos seis meses, a empresa faturou 85,5 bilhões de dólares, 20 bilhões a mais do que a receita obtida em todo o ano de 2010. 

Para a parcela mais ousada dos analistas, a dúvida hoje não é “se”, mas “quando” a Apple vai romper a barreira do trilhão de dólares em valor de mercado, um feito ainda inédito na história do capitalismo mundial. O que sustenta o entusiasmo de parte do mercado é a lista de novidades previstas para 2012 — todas concebidas quando Steve Jobs ainda estava no comando da empresa.

O new iPad, terceira versão do tablet da Apple anunciada em março, foi o que mais vendeu nos primeiros 30 dias após o lançamento. A sexta geração do iPhone deve chegar entre junho e setembro e a expectativa é que também seja o mais vendido entre os iPhones. O smart­phone criado por Jobs é a maior fonte de receita da empresa.


Estima-se que a margem de lucro do iPhone seja de 75% do valor do aparelho. Segundo dados da Asymco, empresa de pesquisa com sede em Helsinki, na Finlândia, apesar de o iPhone ter somente 9% do mercado total de celulares, a Apple fica com 75% do lucro gerado pelo segmento. 

Além dos aparelhos já conhecidos, a empresa teria alguns bons projetos ainda não lançados. Fala-se no iPad míni, uma versão menor do tablet, com tela de 7 polegadas e preço entre 200 e 300 dólares, e na TV da Apple, ou “iTV”, apelido que ganhou da imprensa especializada.

Esse aparelho colocaria todo o conteúdo de entretenimento do iTunes num grande painel de LED comandado por gestos. “A TV está em modo de espera, mas pronta”, afirma Horace Dediu, analista da Asymco. “É como um avião na pista esperando a hora de decolar”, diz.

Além do lançamento de novos produtos, a Apple se prepara para expandir seus negócios na Ásia. Em março, Tim Cook, primeiro presidente da “Apple depois de Jobs”, esteve na China em visita à sede da Foxconn, que fabrica produtos como o iPhone e o iPad. A caravana da Apple tinha uma razão nobre — aprovar o programa de melhorias nas condições de trabalho — e outra de negócios.

Cook se reuniu com executivos da China Telecom e da China Mobile, as duas maiores operadoras de celular do país, para traçar acordos de distribuição para o iPhone. Segundo a empresa de pesquisas Gart­ner, a Apple tem apenas 7,5% de participação na China, enquanto a rival Samsung soma 25%.

Ou seja, há muito espaço para crescer em um dos mercados mais promissores do mundo. As decisões recentes de Cook levaram os analistas a uma conclusão: o executivo não apenas tirou o máximo do legado de Jobs nos meses que sucederam à morte do fundador da empresa como também superou as expectativas. 

Em março, pela primeira vez em 17 anos, a Apple usou parte do dinheiro em caixa — estimado em 98 bilhões de dólares — para pagar dividendos aos acionistas.

Apesar da boa impressão causada por Cook e dos produtos prontos para ser lançados, há quem acredite que a Apple não chegará a 1 trilhão de dólares de valor de mercado e que todo o frisson em cima de suas ações é um presságio para o estouro de uma bolha.


Em entrevista recente, Robert Shiller, professor de economia da Universidade Yale, disse que o mercado financeiro tem um “entusiasmo selvagem e um apego emocional” quando o assunto são as ações da Apple.

“Vocês podem brincar com a bolha, porque ela não vai estourar em breve, mas eu não colocaria dinheiro nessa empresa”, disse Shiller. Com declarações como essa, muitos lembram de outra época em que o mercado de tecnologia parecia demasiadamente empolgado. 

Em 2000, a Cisco Systems, fabricante de equipamentos de rede, atingiu um valor de mercado recorde de 450 bilhões de dólares. Na época, falava-se que ela seria a primeira empresa a chegar ao patamar do trilhão. O cenário parecia factível.

Grandes portais faziam aquisições inimagináveis — a AOL pagou o equivalente hoje a 221 bilhões de dólares pelo grupo Time Warner, formando uma empresa de 466 bilhões de dólares. Havia investidores dispostos a gastar o que fosse preciso para conseguir uma fatia do promissor mercado de internet.

O que sustentaria todo esse crescimento? Os equipamentos de rede da Cisco, que levariam a conexão dos servidores das empresas até a casa dos consumidores. Como se sabe hoje, a bolha estourou, quebrou uma série de empresas e diminuiu o tamanho de muitas outras, como a própria Cisco.

Steve Jobs, o genial fundador da Apple, tornou-se célebre por inventar produtos que nem mesmo o público sabia que queria comprar. O verdadeiro teste de Cook e da Apple vai ser quando o estoque de invenções de Jobs, um segredo guardado pela empresa, chegar ao fim — o que se dará nos próximos anos. É essa a maior preocupação tanto dos investidores quanto dos milhões de fãs da empresa mundo afora.

Acompanhe tudo sobre:AçõesApplebolsas-de-valoresCrescimento econômicoDesenvolvimento econômicoEdição 1015EmpresasEmpresas americanasempresas-de-tecnologiaTecnologia da informação

Mais de Revista Exame

Linho, leve e solto: confira itens essenciais para preparar a mala para o verão

Trump de volta: o que o mundo e o Brasil podem esperar do 2º mandato dele?

Ano novo, ciclo novo. Mesmo

Uma meta para 2025