Revista Exame

Na Fibria, a meta é gerar – e compartilhar – riqueza

Prestes a unir-se com a Suzano, a Fibria reforça a importância das relações com as comunidades para a perenidade de seu negócio

Marcelo Castelli, presidente da Fibria: a empresa aumentou em 28% os investimentos em projetos sociais no ano passado (Leandro Fonseca/Exame)

Marcelo Castelli, presidente da Fibria: a empresa aumentou em 28% os investimentos em projetos sociais no ano passado (Leandro Fonseca/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 22 de novembro de 2018 às 05h08.

Última atualização em 23 de novembro de 2018 às 13h31.

Em 2009, quando a Fibria surgiu da fusão da Aracruz com a Votorantim Celulose e Papel, a empresa passou por mudanças para se tornar mais sustentável. Uma delas foi trabalhar para trazer as relações humanas ao centro das decisões. Isso significou olhar não só para dentro da organização mas também para as comunidades do entorno. “Adotamos como eixo estratégico a missão de gerar e compartilhar riqueza”, afirma Marcelo Castelli, presidente da Fibria.

Quase uma década depois, prestes a ser incorporada pela Suzano em um novo negócio que cria a maior empresa de celulose do mundo, com um valor de mercado estimado em 100 bilhões de reais, a missão foi revisitada para reforçar a importância das relações internas e externas. Para isso, a Fibria aumentou em 28% o valor investido em projetos sociais em 2017, num total de 52 milhões de reais. Entre eles destacam-se os que envolveram a população de Três Lagoas e de Brasilândia, em Mato Grosso do Sul, e fizeram parte do plano de expansão da fábrica em Três Lagoas, inaugurada no ano passado. Eles atuaram para preparar a região durante as obras, que ao longo de dois anos envolveram 40.000 pessoas.

O programa Agente do Bem, por exemplo, começou em 2015 e construiu uma rede de combate ao abuso e à exploração sexual infantil em locais com grandes obras. No total, 103.000 pessoas participaram de 680 oficinas sobre o tema. Já o Programa de Apoio à Gestão Pública trabalhou em conjunto com as prefeituras e contribuiu para uma melhora das cidades em rankings de transparência regionais. Três Lagoas subiu do 54o lugar para o 23o, enquanto Brasilândia passou do 24o para a sexta posição. “Investir em programas de desenvolvimento é importante para estabilizar as relações. É quase como conseguir uma licença social para operar”, diz Castelli. O número de pessoas beneficiadas por esse programa subiu de 23.000 em 2016 para 33.000, e a renda mensal média foi de 1.372 reais para 1.505 reais.

Na visão de Castelli, a empatia gerada por iniciativas como essas ajuda a Fibria a atingir metas de gestão. O engajamento seria uma das variáveis que, embora não possam ser mensuradas com exatidão, teriam contribuído para diminuir em quase 16% o custo total previsto para a obra de Três Lagoas. Embora ainda não possa especificar a estratégia que a organização fruto da fusão com a Suzano deverá adotar, Castelli afirma não ter dúvida de que as relações se tornarão mais fortes. “Enxergo como se fôssemos pegar as coisas boas dos dois lados e somar um mais um”, diz. “Percebemos lá em 2009 que esse é o caminho, e é um caminho sem volta.”


FAZENDO A DIFERENÇA NA VIDA DAS COMUNIDADES

A fabricante de papéis e celulose Klabin usa seu poder de articulação para criar fóruns comunitários, que trabalham na elaboração de uma agenda de desenvolvimento local | Carlo Cauti

A responsabilidade social corporativa não deve se limitar às ações no âmbito das empresas, mas abranger todo o contexto em que elas atuam. Dessa forma, as empresas conseguem gerar um impacto socioambiental positivo e promover o relacionamento com as comunidades vizinhas. Com base nessa concepção, a fabricante de papéis e celulose Klabin, ao lado do Grupo Fiat, criou o Fórum de Desenvolvimento da Comunidade em Goiana, Pernambuco, uma iniciativa que envolve encontros regulares com lideranças comunitárias, representantes do governo local e de empresas. “O objetivo é estimular o protagonismo dos moradores para a elaboração de uma agenda local de desenvolvimento”, diz Sérgio Piza, diretor de gente, serviços corporativos e relações institucionais da Klabin. “Queremos usar o poder articulador da empresa para apoiar grupos nos locais onde atuamos, envolvendo representantes da sociedade em uma colaboração democrática e plural.”

O projeto de fóruns comunitários da Klabin teve início em 2015 nos municípios catarinenses de Correia Pinto e Otacílio Costa. No ano passado, o programa entrou em nova fase com a aplicação do Índice de Progresso Social (IPS), que mede itens da qualidade de vida do município de forma independente do desenvolvimento econômico, permitindo identificar a realidade local e indicar as prioridades que serão trabalhadas no fórum. Com a aplicação do IPS, foi feito um minucioso diagnóstico do nível de desenvolvimento de Goiana, da qualidade de vida e dos direitos humanos. O resultado servirá de base para a elaboração de um plano de ação com prioridades em educação, emprego, renda, cultura e turismo — algumas das áreas que fazem parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, que a Klabin adotou voluntariamente e nas quais investiu 22,4 milhões de reais no ano passado.

Outra frente de trabalho da Klabin envolvendo comunidades é apoiar o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar. O programa Matas Sociais prevê mais de 50 ações de capacitação, abrangendo 436 propriedades rurais e 250 produtores. O programa, iniciado em 2015, é realizado em quatro cidades onde a Klabin possui operações florestais na região dos Campos Gerais, no Paraná. A ideia é valorizar a pequena propriedade, aumentando a renda e estimulando a permanência das famílias no campo. A iniciativa, literalmente, está dando frutos. “Dentro desse programa, os agricultores adquiriram 20.000 mudas de banana no início deste ano. A expectativa é que a produção alcance 100 toneladas da fruta”, diz Piza.

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